Para agendar a Defesa de Tese:
A Defesa de Tese deve ser agendada no sistema SIGA (DAC/UNICAMP), através de uma série de procedimentos que podem ser observados no Manual de Defesa de Dissertação/Tese - clique aqui.
Esta pesquisa de doutorado tem como foco as experiências urbanas do povo Matis na cidade de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas. Partindo de uma abordagem etnográfica prolongada e sensível à escuta, o trabalho investiga como os Matis habitam o espaço urbano, enfrentando desafios impostos por estruturas institucionais que pouco os reconhecem, e ativando estratégias próprias de presença, invisibilidade e resistência. Longe de interpretar a cidade como um simples local de deslocamento ou adaptação, a tese entende o urbano como território de confronto de mundos, onde cosmologias se tocam, tensionam-se e, por vezes, se anulam. O objetivo central é compreender como os Matis traduzem sua existência indígena na cidade, mobilizando saberes tradicionais, práticas de parentesco e narrativas de pertencimento frente às dinâmicas excludentes e à violência estrutural. A pesquisa se organiza em três capítulos principais: o primeiro examina os modos como os Matis narram seu passado, reconstituem suas travessias históricas e reorganizam suas presenças no território a partir das memórias coletivas e intergeracionais. O segundo capítulo adentra o cotidiano urbano, explorando desde os conflitos simbólicos entre o “ser matis” e o “olhar nawa”, até os fluxos materiais e afetivos entre cidade e aldeia, articulados por encomendas, redes e práticas de parentesco. Já o terceiro capítulo se debruça sobre as formas de denúncia e crítica social expressas nas falas Matis, abordando o racismo ambiental, os entraves burocráticos, as lacunas nas políticas públicas e os deslocamentos silenciosos provocados pela cidade. Ao final, a tese destaca como a palavra (falada, cantada ou silenciada) atua como abrigo e arma, revelando uma territorialidade simbólica que insiste em existir mesmo em contextos adversos. Este trabalho busca contribuir para os debates contemporâneos da antropologia urbana e indígena, ao oferecer uma escuta ampliada às vozes Matis e à sua complexa relação com a cidade. A partir da experiência singular desse povo, o texto questiona categorias analíticas engessadas e propõe uma abertura epistemológica que reconheça os múltiplos modos de ser, habitar e resistir no urbano.