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A Defesa de Tese deve ser agendada no sistema SIGA (DAC/UNICAMP), através de uma série de procedimentos que podem ser observados no Manual de Defesa de Dissertação/Tese - clique aqui.
Esta pesquisa se propôs a analisar o impacto dos itinerários formativos na experiência de docentes e estudantes da rede estadual de São Paulo. Os itinerários formativos se inserem em uma proposta de inovação curricular, inicialmente instituída pela Reforma do Ensino Médio (Lei 13.415/2017) que, por um lado, se pauta na elaboração de uma base curricular nacional unificada e, por outro, propõe a flexibilização curricular pelo estabelecimento de diferentes percursos formativos. Em São Paulo, o primeiro ente federativo a construir um currículo alinhado às reformas nacionais, as mudanças passam a ser introduzidas em 2021, o que torna o estado fonte primária e privilegiada para entender os impactos concretos de uma flexibilização curricular que promete solucionar a distância entre o que é aprendido na escola e os interesses individuais dos jovens. Compreende-se que a flexibilização se impõe como norma de vida em um momento histórico marcado pelo avanço da racionalidade neoliberal, que abrange as práticas formais de educação por meio de um duplo processo de mercadorização e mercantilização. Considerando a dimensão interativa do currículo e a centralidade da experiência no processo de formação de sujeitos, foi adotada uma pesquisa qualitativa cuja coleta de dados ocorreu por meio da realização de entrevistas semiestruturadas com docentes e estudantes de duas escolas públicas da cidade de Campinas-SP. A interpretação desses dados ocorreu com a Análise de Conteúdo e os resultados evidenciaram que: (a) a comunidade escolar avalia os itinerários formativos de forma predominantemente negativa; (b) os estudantes e os docentes têm buscado estratégias para contornar, adaptar ou ressignificar os sentidos dos itinerários formativos; (c) as experiências de docentes têm sido marcadas pela descaracterização profissional e cerceamento da prática pedagógica; (d) os estudantes percebem, de forma mais profunda, as desigualdades educacionais a que estão submetidos e denunciam os itinerários como instrumento de afunilamento do acesso ao Ensino Superior e de redução de sua formação à mão de obra barata e massa de manobra; (e) contrariando os discursos de construção democrática, os processos de elaboração e implementação das reformas, como o Novo Ensino Médio, têm se dado sem participação efetiva da comunidade escolar. Conclui-se, corroborando a hipótese, que os itinerários formativos têm significado o aprofundamento e naturalização das desigualdades educacionais, fragmentando o acesso ao conhecimento de estudantes da rede pública, além de estarem significando sobrecarga, precarização e vigilância do trabalho docente. No entanto, docentes e estudantes, em movimento de ressignificação, têm procurado e encontrado meios de reelaboração curricular dos novos componentes. Diante disso e considerando a centralidade da comunidade escolar para a efetivação de políticas curriculares, importa que mais pesquisas se debrucem sobre a realidade da sala de aula e sejam construídas em parceria com os docentes da educação básica.
Diversas correntes teóricas que se reivindicam marxistas postularam uma suposta superação histórica do pensamento de Marx. Segundo esses intérpretes, o capitalismo teria assumido uma dinâmica distinta daquela prevista pelo filósofo alemão, resultando na perda da centralidade do fator econômico como elemento determinante na reprodução das relações de produção capitalistas. Nesta perspectiva, Marx teria supostamente negligenciado a emergência de novos fatores - particularmente os mecanismos ideológicos de reprodução das relações de dominação, com destaque para o Estado enquanto administrador do capital - que teriam adquirido primazia sobre a esfera econômica. O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo central examinar, no âmbito do debate marxista contemporâneo, as obras de alguns desses teóricos que sistematizaram concepções específicas sobre o Estado capitalista, analisando seus principais argumentos. Posteriormente, propomo-nos a empreender uma leitura dialética rigorosa dos textos marxistas, visando avaliar em que medida a acusação de omissão quanto a uma teoria suficientemente desenvolvida do Estado capitalista encontra sustentação na obra do filósofo alemão. Partimos do pressuposto metodológico de que é possível, mediante uma exposição dialética consistente, reconstituir a categoria Estado desde os primeiros textos da fase madura de Marx, marcada pela ruptura com a filosofia de Feuerbach, até a sua última e mais importante obra O Capital.
A presença indígena nos espaços de decisão política levanta uma série de questões cruciais. Estudos recentes indicam que a reivindicação das pautas indígenas nas ações afirmativas não deve ser vista apenas como uma demanda por inclusão individual, mas como um movimento para a inserção da epistemologia indígena nos ambientes de ensino superior. Essa perspectiva desafia a lógica de pensamento predominante, ainda que não altere diretamente as estruturas, como argumentam os defensores da meritocracia. As pautas pluriculturais não são apenas importantes, mas essenciais, especialmente considerando a vulnerabilidade de povos que sequer têm acesso básico a recursos fundamentais, como água potável e esgoto. Além disso, debates internacionais em Filosofia Moral vêm destacando a necessidade de transformar a epistemologia dominante. Não se trata apenas de reparação, mas de regeneração. Nesse sentido, jovens pensadores indígenas, em colaboração com acadêmicos mais experientes, defendemos a incorporação de conceitos como tekoharizar e o reconhecimento de nossas tecnologias espirituais ao debate, equiparando epistemologicamente saberes indígenas aos ocidentais. Os movimentos de afirmação étnica enfrentam ataques constantes, decorrentes da visão colonial que ainda permeia a política e o desenvolvimentismo. Diante da crise global intensificada pelos efeitos das mudanças climáticas, os povos indígenas apresentam uma perspectiva necessária. Neste trabalho, proponho explorar algumas dessas perspectivas, especialmente no que tange à noção de direitos de cidadania aos povos indígenas, aplicados pelos setores de políticas públicas, especialmente permeados pelos indicadores internacionais de direitos humanos, como gênero e ações afirmativas, com enfoque na reversão histórica da perspectiva racista e colonial aplicada que deprecia a imagem de modo afetar a dignidade da pessoa humana, a qual nós, povos indígenas, vimos pleiteando diante da teoria moral do Ocidente que desqualifica sistematicamente nossas demandas. Deste ponto de vista, minha proposta é relevar a importância de tratar do racismo nas relações institucionais e públicas, assim como recomendado pelas autoras que tomo por base da teoria crítica, a partir da proposta metodológica da interseccionalidade apontada por Angela Davis em Mulheres, Raça e Classe e Seyla Benhabib em Situando o Self. Contribuições às quais acrescento uma análise com base na questão de etnicidade e cidadania, além de propor uma reflexão abrangente sobre Gênero, Raça, Classe & Etnia.
A presente pesquisa tem como objetivo pensar a operação de um sindicato patronal de moda, a Chambre Syndicale de la Haute Couture (CSHC), no contexto de globalização. Existente desde 1868, atualmente a CSHC representa as maiores marcas de luxo do mundo, é gerida por representantes de conglomerados e coordena as semanas de desfiles na capital francesa. Primeiramente, será demonstrado que as fronteiras que envolveram a fundação do sindicato foram essenciais para a formação de uma produção de roupas sob medida específico nas primeiras décadas do século XX. Dialogando com as contribuições de Pierre Bourdieu, será visto que tal produção sob medida foi construído como distinto perante as outras formas de se produzir roupas, e distintivo para quem o utilizava. Após disso, será apresentado que, à medida em que o Estado francês atravessa a CSHC em vários momentos de sua história, e principalmente em meados do referido século, ele se revela como agente central no estabelecimento da nomenclatura Alta Costura e na legitimação do sindicato perante os outros agrupamentos do tipo. Considerando as contribuições de Valerie Steele e Diane Crane, também será explorado como a presença do Estado consolida a referência à França como uma característica da atividade. Pensando nas últimas décadas do século XX, levando em conta a multiplicação de centros de moda e outras formas de se produzir peças de roupas, será analisada a crise pela qual a CSHC e a Alta Costura passam. Destarte, se até então as ações do sindicato eram restritas ao espaço internacional, a partir das décadas finais do século XX, ele precisará atender um mercado global que, como demonstra Octavio Ianni e Renato Ortiz, se estabelece em tal período. Considerando isso, serão exploradas como as adaptações e redefinições da Alta Costura e CSHC visaram manter suas características de distinção em um mercado globalizado, na virada do século XX para o século XXI. Nessa mesma época, alguns conglomerados de luxo já haviam comprado algumas maisons, o que será interpretado a partir da ideia de economia do enriquecimento de Boltanski e Esquerre. Por fim, a atenção será voltada para o fato de que, mesmo em tal contexto, a referência à França continua sendo mobilizada pela CSHC falar da Alta Costura. Será defendido, a partir de Nicolau Netto e Saskia Sassen, que apesar de essa francesidade ser representada e/ou experimentada como algo nacional, ela deve ser interpretada menos como uma forma de denotar um vínculo geográfico e mais como um elemento que distingue a atividade, a partir de uma referência à França. Em seguida, será identificado, com base na atualização de Larissa Buchholz da teoria bourdiesiana, um campo global da moda. Reunindo as descobertas realizadas até então, bem como as contribuições mencionadas, concluir-se-á que, se em termos práticos, a CSHC tentou impor a Alta Costura como referência estética da indústria desde o início do século XX, em termos objetivos o sindicato seria um dos agentes dominantes na disputa pela definição de moda legítima no globo.
A China possui um ponto de partida próprio para abordar a noção da técnica e, por conseguinte, os universos da ciência e da tecnologia. Ao contrário da essência grega, as principais escolas da filosofia chinesa (confucionismo, daoísmo e budismo) pensam a existência a partir da inter-relacionalidade e do vazio, duas instâncias complementares na dinâmica do yinyang. Desvendar o prisma chinês sobre o universo da prática científica e dos objetos tecnológicos foi o que motivou esta tese, tarefa concluída por meio dos quatro capítulos que integram o corpo do texto. No primeiro, abordamos a origem da filosofia inter-relacional no Clássico das Mudanças. No segundo, elucidamos os preconceitos da sinologia quanto à suposta inaptidão dos chineses para a criação de uma ciência moderna, ao mesmo tempo questionando as definições de tal ciência. No terceiro, passamos à análise detalhada da visão filosófica chinesa sobre a ciência e a tecnologia em adequação com a cosmotécnica chinesa tal como proposta por Yuk Hui. No quarto e último capítulo, estabelecemos um triálogo entre Yuk Hui, Zhao Tingyang e Kang Youwei a fim de fundir suas visões em uma nova proposta de organização do sistema internacional que contemple tanto as cosmovisões sobre a técnica de cada povo quanto a necessidade de um sistema de governança global que protegerá e será legitimado por tais cosmovisões. Concluímos a tese com a constatação de que o caminho para um mundo livre da imposição homogeneizadora da cosmotécnica ocidental será construído à medida do caminhar, não havendo regra fixa a ser seguida.