Próximas Defesas
- Luiz Cesar Marques Filho - Orientador (UNICAMP)
- Maria Cristina Correia Leandro Pereira (USP)
- Olivier Boulnois (Ecole Pratique des Hautes Etudes)
- Jean-Marie Guillouët (Université de Bourgogne)
- Marie Anne Polo de Beaulieu (Ècole des Hautes Ètudes en Sciences Sociales)
- Patrick Henriet (Ecole Pratique des Hautes Etudes)
O objeto de estudo desta tese é uma imagem amplamente difundida no final da Idade Média, mas ainda não estudada de forma sistemática: a Missa de São Gregório. Esta iconografia, surgida em finais do século XIV, representa uma visão crística revelada ao Papa Gregório I, cujas representações são muito variadas e nem sempre apresentam uma celebração eucarística explícita. Para melhor analisar este motivo, estruturamos este trabalho em duas partes complementares. O primeiro é dedicado a estabelecer o estado da arte sobre o assunto, destacando as dificuldades encontradas pelos especialistas na identificação e interpretação dessas imagens desde o século XIX. A partir de fontes visuais e textuais, procuramos compreender o aparecimento desta iconografia e a sua ausência na tradição hagiográfica de São Gregório. A segunda parte da tese consiste no estudo de um corpus de missais manuscritos franceses. Examinamos estes códices, dando particular atenção à sua constituição, datação e programa iconográfico. É efetuada uma análise comparativa com o objetivo de evidenciar as especificidades da aparição de São Gregório nos missais e de compreender melhor as suas funções no contexto da utilização destes livros durante a celebração do sacrifício crístico. Em suma, esta abordagem inovadora combina a temática iconográfica com o estudo dos textos eucológicos, permitindo-nos restabelecer a nossa compreensão da Missa de São Gregório e do seu papel na liturgia medieval e na vida sacerdotal.
- Lucilene Reginaldo - Presidente (UNICAMP)
- Lorena Féres da Silva Telles (UNICAMP)
- Tiago Luís Gil (UnB)
As mulheres africanas traficadas para a América portuguesa vivenciaram formas diferentes de escravização em relação aos africanos que também desembarcaram nos portos coloniais. Estudos têm comprovado que o espaço urbano também configurou condições específicas de exploração da mão de obra africana e resistência, é neste contexto que se insere o presente trabalho, mais especificamente tratando das africanas ocidentais que ficaram em Salvador, Bahia. Inseridas na dinâmica escravista, essas mulheres desenvolveram estratégias para conseguir a alforria e melhores condições vida em liberdade a partir do trabalho de rua. Conhecidas como “ganhadeiras”, escravizadas ou libertas, elas foram fundamentais para a economia colonial em Salvador. Nesta dissertação analiso a trajetória de africanas, minas e jejes, em Salvador, entre a segunda metade do século XVIII e as primeiras décadas do oitocentos. Ancorada no debate sobre trabalho urbano, gênero e etnicidade, investigo a compra de alforrias e de propriedades com recursos oriundos do trabalho, assim como as redes de sociabilidade entre africanas de mesma “nação”. Para este fim, foram utilizadas fontes eclesiásticas e notariais, dentre elas os registros de batismos, casamentos e óbitos disponíveis no FamilySearch, testamentos e inventários post-mortem depositados no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), assim como algumas procurações e escrituras de compra e venda que também estão sob guarda do APEB, mas disponíveis online.
- Iara Lís Franco Schiavinatto - Orientadora (UNICAMP)
- Lucilene Reginaldo (UNICAMP)
- Kléber Antonio de Oliveira Amâncio (Universidade Federal do Recôncavo Baiano)
Esta pesquisa analisa o papel do Teatro Experimental do Negro (TEN) como uma iniciativa de luta por cidadania e visibilidade negra no Brasil, delineando seu impacto através de performances teatrais, debates intelectuais e articulações políticas variadas. Liderado por Abdias Nascimento, o TEN promoveu uma nova representação da negritude nos palcos, onde os corpos negros podiam ser vistos de forma positiva e complexa, contrastando com práticas racistas, como o blackface, que marcaram a rotina do teatro nacional até então. A partir de um acervo fotográfico que inclui cenas de espetáculos, ensaios e bastidores, a pesquisa examina como essas imagens servem como testemunhos visuais das atuações e da dinâmica coletiva do grupo, destacando as estratégias de visibilidade empregadas. As fotografias revelam o empenho do TEN em construir uma identidade visual que exaltava a dignidade e a presença negra no espaço público e no ambiente artístico, registrando momentos que iam além da atuação teatral e reforçavam a autoafirmação e o pertencimento racial. Ao lado dessas imagens, o jornal Quilombo, editado pelo TEN, ampliava a visibilidade dos sujeitos negros ao divulgar não apenas rostos e corpos, mas também ideias e debates intelectuais em um contexto ainda dominado pela branquitude. As fotografias, ao serem publicadas no Quilombo e outros meios, posicionavam os artistas negros no imaginário social de maneira inovadora e potente. Conclui-se que o TEN não apenas transformou o teatro, mas também criou um novo regime de visibilidade e visualidade afrocentrado, utilizando a força das imagens para promover a dignidade e a humanidade dos corpos negros em espaços públicos de prestígio, contribuindo para a construção de outras memórias possíveis para essas pessoas e complexificando a luta por acesso a cidadania no Brasil.
- Profa. Dra. Taisa Helena Pascale Palhares (Presidente) (Orientador) Instituição de Origem: IFCH/ UNICAMP
- Profa. Dra. Jeanne-Marie Gagnebin-De-Bons Instituição de Origem: IEL/ UNICAMP
- Dr. Francisco De Ambrosis Pinheiro Machado Instituição de Origem: Universidade Federal de São Paulo /São Paulo
- Dr. Ernani Pinheiro Chaves Instituição de Origem: Universidade Federal do Pará /Belém
- Dra. Carla Milani Damião Instituição de Origem: Universidade Federal de Goiás /Goiânia
- Professores Suplentes: Dr. Fábio Mascarenhas Nolasco Instituição de Origem: Universidade de Brasilia /Brasília
- Dr. Lucianno Ferreira Gatti Instituição de Origem: Universidade Federal de São Paulo /São Paulo
- Prof. Dr. Rafael Rodrigues Garcia Instituição de Origem: IFCH/ UNICAMP
O trabalho trata da tatilidade em Walter Benjamin, conceito empregado aqui para caracterizar a experiência do cinema como uma relação psicofísica entre o coletivo e o mundo através da percepção tecnicamente mediada. O ponto de partida é o diagnóstico da transformação histórica da percepção e experiência ensejada pela tecnicização das condições urbanas de existência, que estabelece o choque como forma da percepção corporificada e exteriorizada. Em seguida, a caracterização benjaminiana do cinema é situada nesse horizonte, ressaltando-se a transformação do choque em percepção artística sob a égide do jogo e da distração, o que, ao mesmo tempo, permite delinear a especificidade do conceito benjaminiano de filme. A discussão segue abordando a dimensão imagética do cinema, remontando ao materialismo antropológico divisado a partir do surrealismo para destacar o inconsciente óptico como um espaço de imagens técnico. O texto culmina na caracterização da tatilidade como uma experiência cinematográfica de inervação coletiva do mundo por meio das imagens do inconsciente óptico, o que permite pensar uma experiência que rompe os limites carcerários da vivência moderna.
The work addresses tactility in Walter Benjamin, a concept employed here to characterize the experience of cinema as a psychophysical relationship between the collective and the world through technically mediated perception. The starting point is the diagnosis of the historical transformation of perception and experience brought about by the technologization of urban living conditions, which establishes shock as a form of embodied and externalized perception. Next, Benjamin's characterization of cinema is situated within this horizon, emphasizing the transformation of shock into artistic perception under the aegis of play and distraction. This, in turn, allows for the delineation of the specificity of Benjamin's concept of film. The discussion then moves on to address the imagistic dimension of cinema, tracing back to the anthropological materialism viewed through the lens of surrealism to highlight the optical unconscious as a space of technical images. The text culminates in the characterization of tactility as a cinematic experience of collective innervation of the world through the images of the optical unconscious, which allows for thinking about an experience that breaks the prison-like limits of modern lived experience.
- Presidente Profa. Dra. Monique Hulshof IFCH/ UNICAMP
- Membros Titulares Profa. Dra. Telma de Souza Birchal Universidade Federal de Minas Gerais
- Prof. Dr. Danilo Marcondes de Souza Filho Universidade Federal Fluminense
- Prof. Dr. Sergio Xavier Gomes de Araujo Universidade Federal de São Paulo
- Prof. Dr. Alexandre Soares Carneiro IEL/ UNICAMP
- Membros Suplentes Profa. Dra. Maria Cristina Theobaldo Universidade Federal de Mato Grosso
- Prof. Dr. Eduino José de Macedo Orione UNIFESP
- Prof. Dr. Marcio Augusto Damin Custodio IFCH/ UNICAMP
O objetivo da presente pesquisa é empreender um estudo acerca da noção de fortuna nos Ensaios de Michel de Montaigne. Trata-se de um tema bastante recorrente na obra, e que parece interligar muitas das concepções apresentadas pelo autor, o que justifica a pertinência de um estudo aprofundado a respeito. Pretendemos mostrar que a ideia de fortuna possui implicações e desdobramentos teóricos importantes no pensamento montaigniano, sobretudo no plano prático. Em primeiro lugar, a maneira como o autor parece entender a fortuna e as relações que o ser humano estabelece com ela pressupõe uma concepção antropológica subjacente. Tal concepção antropológica, por sua vez, implica em uma importante reflexão acerca dos modos de se agir, a saber: como se daria a ação humana possível diante da fortuna? e, dentre tais possibilidades, quais seriam as mais desejáveis do ponto de vista moral? Assim, acreditamos que as consequências da relação entre o ser humano e a fortuna se expandem para o âmbito prático, o qual representa o principal interesse do filósofo francês. De modo que um estudo aprofundado sobre a presença da noção de fortuna nos Ensaios pode nos ajudar a desvelar diversos aspectos e possibilidades de leituras acerca das formulações de Montaigne tanto sobre a condição humana, quanto sobre o âmbito prático.