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A Defesa de Tese deve ser agendada no sistema SIGA (DAC/UNICAMP), através de uma série de procedimentos que podem ser observados no Manual de Defesa de Dissertação/Tese - clique aqui.
Esta pesquisa teve como objetivo sistematizar as análises sobre os processos e as relações de gênero que construíram a identidade profissional docente feminina para as etapas iniciais da Educação Básica desde as publicações da revista “Educação e Sociedade” (CEDES/Unicamp), no período entre 1978 e 2023. A pergunta central e provocadora foi: considerando o representativo número de mulheres exercendo a docência nas primeiras etapas da Educação Básica, em que medida e como a produção de artigos científicos dão visibilidade a essa condição e sistematizam as explicações sobre as relações de gênero envolvidas na formação da identidade profissional dessas professoras? A proposta metodológica adotada foi a revisão bibliográfica, e os dados foram organizados por blocos temáticos. Para a análise empregou-se a Análise de Conteúdo (Bardin, 2011), o que permitiu a construção de categorias explicativas. Embora inicialmente tenham sido considerados os eixos moralidade, trabalho docente e legislação, a leitura do corpus possibilitou uma reorganização das categorias a partir dos sentidos que emergiram dos próprios textos. Assim, as análises foram estruturadas em cinco novos eixos: a naturalização da docência como vocação para a maternidade, o trabalho de cuidado como destino social, a socialização e o pertencimento como fundamentais para a identidade profissional, a invisibilização da categoria gênero nas pesquisas e os sentidos contraditórios da valorização docente. Os resultados indicam que, embora a identidade profissional docente feminina esteja presente como objeto, o gênero é frequentemente invisibilizado ou tratado de forma instrumental, o que aponta para a necessidade de aprofundamento desse debate no campo educacional.
Esta pesquisa de doutorado tem como foco as experiências urbanas do povo Matis na cidade de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas. Partindo de uma abordagem etnográfica prolongada e sensível à escuta, o trabalho investiga como os Matis habitam o espaço urbano, enfrentando desafios impostos por estruturas institucionais que pouco os reconhecem, e ativando estratégias próprias de presença, invisibilidade e resistência. Longe de interpretar a cidade como um simples local de deslocamento ou adaptação, a tese entende o urbano como território de confronto de mundos, onde cosmologias se tocam, tensionam-se e, por vezes, se anulam. O objetivo central é compreender como os Matis traduzem sua existência indígena na cidade, mobilizando saberes tradicionais, práticas de parentesco e narrativas de pertencimento frente às dinâmicas excludentes e à violência estrutural. A pesquisa se organiza em três capítulos principais: o primeiro examina os modos como os Matis narram seu passado, reconstituem suas travessias históricas e reorganizam suas presenças no território a partir das memórias coletivas e intergeracionais. O segundo capítulo adentra o cotidiano urbano, explorando desde os conflitos simbólicos entre o “ser matis” e o “olhar nawa”, até os fluxos materiais e afetivos entre cidade e aldeia, articulados por encomendas, redes e práticas de parentesco. Já o terceiro capítulo se debruça sobre as formas de denúncia e crítica social expressas nas falas Matis, abordando o racismo ambiental, os entraves burocráticos, as lacunas nas políticas públicas e os deslocamentos silenciosos provocados pela cidade. Ao final, a tese destaca como a palavra (falada, cantada ou silenciada) atua como abrigo e arma, revelando uma territorialidade simbólica que insiste em existir mesmo em contextos adversos. Este trabalho busca contribuir para os debates contemporâneos da antropologia urbana e indígena, ao oferecer uma escuta ampliada às vozes Matis e à sua complexa relação com a cidade. A partir da experiência singular desse povo, o texto questiona categorias analíticas engessadas e propõe uma abertura epistemológica que reconheça os múltiplos modos de ser, habitar e resistir no urbano.
A pesquisa de doutorado analisa a emergência e transformações organizativas e territoriais que tem experimentado as “comunidades negras” do norte do departamento do Cauca, Colômbia, nas últimas três décadas. Utilizando uma etnografia multissituada, analiso as continuidades e descontinuidades nas formas organizacionais estabelecidas pelas comunidades durante o período em estudo, que refletem as particularidades históricas, políticas e culturais da região após a guinada multicultural estabelecida na Constituição Política de 1991 com o reconhecimento dos direitos étnicos e territoriais das populações negras do país. Esta investigação é resultado do apoio ao Conselho Comunitário Afrodescendente do distrito de La Toma, município de Suárez, departamento de Cauca, no processo de "restituição de direitos fundiários e titulação coletiva" que tramita perante o Primeiro Juizado Cível do Circuito Especializado em Restituição de Terras de Popayán.
Esses tipos de demandas e processos confluem entre políticas multiculturais, políticas de vitimização e cooperação internacional, onde as ideias modernas de sujeito, cidadania e Estado se chocam. Essas ideias implicam debates sobre vulnerabilidade e novas noções e possibilidades de articulação e vivência da negritude. Concluo que as práticas e relações estabelecidas entre organizações locais e instituições estatais permitem traçar a emergência de linguagens e categorias que moldaram a constituição de sujeitos etnizados e racializados, estabelecendo novas formas de relação com o Estado que possibilitaram o surgimento de lideranças políticas em torno de narrativas que transcendem as lutas étnicas e territoriais dos povos afro-colombianos.
A presente dissertação tem por objetivo analisar o processo de construção de uma política de legibilidade estatística no Império Brasileiro, especialmente na província de Pernambuco, palco da revolta que impediu a realização do primeiro censo geral da população em 1852. Dividida em três capítulos, a dissertação passa primeiramente pela formação e consolidação do Estado e da Nação, entendendo como as estatísticas foram um dos dispositivos criados em favor da administração e da criação de um statement, compreendendo também como o Império e Pernambuco estavam engajados com a febre das estatísticas. Em um segundo momento, analisamos a carreira pública de Jeronimo Martiniano Figueira de Mello em Pernambuco e sua importância como uma figura ilustrada interessada na produção de tais documentações. Analisamos também o Ensaio Sobre a Estatística Civil e Política da Província de Pernambuco, produzido pelo desembargador a partir do Contrato com o governo provincial de 1841, e seu processo de publicação. Por fim, debruçamos sobre a Guerra dos Marimbondos e na análise de aspectos relacionados com a condição jurídica, cor, liberdade e trabalho, entendendo que a revolta foi um marco para as estatísticas no Oitocentos, tendo em vista que ela impediu a concretização do maior indicador estatístico de um país.
A presente tese trata do conceito de Estilo tardio (Spätstil) em Theodor W. Adorno. Ela avalia a gênese histórica de seu problema passando por autores como Hegel, Kant e Walter Benjamin até chegar em Theodor W. Adorno, autor que sistematizou a noção e a formulou como conceito filosófico. Adorno experimenta a ideia de estilo tardio sobretudo em dois casos, a produção de velhice de Beethoven e os hinos tardios de Hölderlin. A tese dedica um capítulo a cada artista. Em ambos os casos, é notado o debate com a estética psicologista, que Adorno critica com o conceito de intenção (Intenktion). A tese reconstrói a posição de Adorno acerca desses dois artistas, mas, ao fim, adiciona um terceiro: Kafka, escritor que Adorno tinha em alta estima, mas acerca do qual ele nunca conseguiu oferecer uma interpretação de fôlego. Neste capítulo, o conceito de estilo tardio em Adorno é testado. O propósito aqui é avaliar sua envergadura, sues limites e lacunas