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Despedida de Adriana Dias

Data da publicação: seg, 30/01/2023 - 17h00min


O Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Unicamp se despede de Adriana Dias,
pesquisadora aqui formada, que produziu trabalhos de referência tanto sobre o neonazismo no
Brasil quanto sobre deficiência e acessibilidade. Incansável e extremamente corajosa, terá seu
legado por nós sempre rememorado.
O texto abaixo é de autoria de Suely Kofes, professora do PPGAS, orientadora e amiga de Adriana.


Obituário Adriana Abreu Magalhães Dias
Se um obituário é uma escrita biográfica, melhor seria não começar pelas datas, as
convecionais do nascimento e morte. Uma vida continua nos vestigios que permanecem
entre os vivos.
Pelo nome, começemos pelo nome, Adriana.
Adriana Abreu Magalhães Dias formou-se como antropologa na Unicamp. Concluiu a
sua graduação em Ciências Sociais com a defesa de uma monografia baseada em uma
pesquisa pioneira, no tema e na “área etnografica”: Os Anacronautas do teutonismo virtual:
uma etnografia do neonazismo na internet (2005). Com um considerável conhecimente da
deep web observou postagens não reconheciveis ao leigo, as publicações dos neo-nazistas ,
e continuou assim a sua pesquisa para o mestrado (PPGAS, Unicamp) concluído com a
dissertação intitulada Os Anacronautas do teutonismo virtual: uma etnografia do neonazismo
na internet (2007). Finalmente, em 2018, defendeu a sua tese de doutorado: Observando o
ódio:entre uma etnografia do neonazismo e a biografia de david lane
As suas pesquisas academicas, monografia, dissertação e tese, são imprescindíveis
para estudo das concepções e ações neonazistase e sobre pesquisas antropológicas na
Internet.Quem faz antropologia neste campo de estudos no Brasil precisa necessariamente
reconhecer seu pioneirismo e a importância de suas pesquisas.
Adriana é uma ativista, radicalizou os supostos de uma antropologia pública. Pelo s
seus artigos, pelos debates e acões juridicas contra neo-nazistas. Pela coordenação do
Comitê “Deficiencia e Acessibilidade” da ABA, organizou também na ABA o I Seminário
Nacional de Políticas Públicas para Mulheres com Deficiência ) pela criação e realizações de
gts relativos aos estudos sobre as pessoas com defieciencia. Na elaboração do projeto de lei
para o Dia Nacional das Doenças Raras.
Ao criar o Instituto Baresi, um  fórum nacional associando “ pessoas com doenças
raras, deficiências  e outros grupos de minoria” enfatizava a sua luta contra desigualdades e
pela justiça.
Não foi possivel ainda deixar-me envolver pela evocação dos nossos momentos
comuns.. Pela dor, mas também pela centenas de testemunhos da vida e do trabalho e das
ações políticas de Adriana que leio desde o dia vinte e oito de janeiro de 2023, quando foi
anunciado o seu falecimento. Um mes depois de seu aniverário. Adriana não apenas
pesquisou sobre e agiu contra as redes de neonazistas. Criou um meshwork de afetos, tecido
pelas suas lutas e pela sua generosidade. Onde quer que estivesse, no IFCH, Unicamp, em
outras universidades, em reuniões cientificas, em lugares aos quais era convidada a debates,
no cotidiano, reivindicava condições de acesso aos portadores de deficiencias, inclusive para
si mesma. Como li em algumas mensagens sobre ela, Adriana foi pioneira também nas
reivindicações de acessibilidade nos ambienttes academicos e com uma qualidade própria, a
de insitir nos problemas.
Sensível esta relação entre os seus temas de pesquisa em antropologia, os de seus
ativismos e entre estes e a sua vida, breve.
Uma antropologa, uma ativista. Acompanhei as suas pesquisas desde a monografia
de graduação até o seu doutorado. Nos separavamos no ativismo e nos aproximavamos
intensamente nas leituras em antropologia, nas conversas sobre as suas pesquisas, e por um
intenso afeto.
Quando Adriana concluiu o seu doutorado, tornei-me uma mensageira que
endereçava a ela os tantos emails de jornalistas e movimentos por direitos humanos
procurando-me para obter o seu enderelo de e-mail.
Pode-se dizer da vida de Adriana Abreu Magalhães Dias, que ela se fez
distribuindo o bem e na procura da justiça. Que este seja o seu legado permanente,
Até sempre e obrigada, Adriana.