Próximas Defesas

Para agendar a Defesa de Tese:   A Defesa de Tese deve ser agendada no sistema SIGA (DAC/UNICAMP), através de uma série de procedimentos que podem ser observados no Manual de Defesa de Dissertação/Tese - clique aqui.    

 

A Forma Aguda do Infinito Um estudo sobre o Barroco e a Espanha do Siglo de Oro na Filosofia de Espinosa
Aluno(a): Francisco Guerra Ferraz
Programa: Filosofia
Data: 26/04/2024 - 13:00
Local: Sala de Defesas de Teses I
Membros da Banca:
  • Presidente Prof. Dr. Marcio Augusto Damin Custodio IFCH/ UNICAMP
  • Membros Titulares Profa. Dra. Fátima Regina Rodrigues Évora IFCH/ UNICAMP
  • Profa. Dra. Lia Levy Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Prof. Dr. Ivan Domingues Universidade Federal de Minas Gerais
  • Profa. Dra. Simona Langella Universita Degli Studi di Genova
  • Membros Suplentes Prof. Dr. Giorgio Gonçalves Ferreira Universidade do Estado da Bahia
  • Profa. Dra. Monique Hulshof IFCH/ UNICAMP
  • Prof. Dr. Matheus Barreto Pazos de Oliveira Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Comissão de Programa de Pós-Graduação em Filosofia Este
Descrição da Defesa:

Partindo das categorias de época e estilo, esse estudo recupera as formulações de Carl Gebhardt, segundo as quais a filosofia de Espinosa seria uma genuína expressão do Barroco. Procurando
avaliar a pertinência dessa hipótese, mostramos que o infinito, desde a obra de Heinrich Wölfflin, Renaissance und Barock (1888), é identificado com o Barroco por meio do sentimento do sublime provocado pela fruição da monumentalidade dos espaços arquitetônicos. Espinosa é o filósofo que elabora uma metafísica geométrica que reflete o infinito progresso da natureza a partir de uma substância absolutamente infinita, que se expressa por atributos infinitos em seu gênero, da qual se seguem efeitos infinitos em número infinito de modos. É o filósofo que enxerga o infinito em seus diversos ângulos e que extrai dele a origem da mente, sua natureza e salvação mediante o aumento de sua perfeição, entendida como a expansão de sua parte eterna e imperecível. O meio hispano-português de Amsterdã onde Espinosa nasceu vivia a experiência de redescobrir o judaísmo mas simultaneamente reafirmava suas origens portuguesa e espanhola refletida em sua vertiginosa produção literária barroca e nas inúmeras traduções, para o espanhol, de obras da filosofia judaica medieval, como o Guia dos Perplexos de Maimônides. A elite sefardita, ao mesmo tempo que inventava seu judaísmo próprio, reproduzia a formação barroca da Ratio Studiorum da Companhia de Jesus que recebera nas escolas e universidades católicas da península ibérica e que valorizava ao máximo o conhecimento das letras, da gramática e das línguas. E na medida em que afirma a tradição medieval árabo-judaica ao retomar o infinito atual de Hasdai Crescas inserindo-o no princípio de sua doutrina, Espinosa afirma o elemento cultural apontado por estudiosos como o fator nevrálgico capaz de modificar o Renascimento vindo da península itálica e dar forma ao Barroco na Espanha. Além do mais, o filósofo possuía em sua biblioteca o suprassumo do Barroco literário produzido na Espanha do Siglo de Oro de onde procuramos vestígios materiais e conceituais de algumas dessas obras em sua filosofia. Aplicando as considerações de Agudeza y Arte de Ingenio de Baltasar Gracián à formulações de Espinosa, procuramos detectar procedimentos conceituais e retóricos próprios do Siglo de Oro, como o uso dos oxímoros. Argumentamos que a própria ideia de uma filosofia cujo modelo é dado por uma metafísica da imanência e pela geometria genética são expressões da agudeza cujo emblema é a produção de uma teoria da verdade nos moldes do contínuo, que recusa qualquer positividade discreta à “forma do erro”, expressando assim uma perspectiva inclusiva e cosmopolita conforme à grande expansão da experiência e da racionalidade da época barroca, que parece anular as dicotomias estanques e dar à noção de “processo” o centro de gravidade do pensamento. Procuramos mostrar também que a ideia de uma Religio Philosophica em Espinosa é um caso emblemático do contradiscurso quando compreendido, não como resíduo do judaísmo, mas como expressão da agudeza que lê trechos das escrituras e disputa seu sentido atribuindo a determinadas passagens e personagens, conteúdos da sua doutrina filosófica. O que revela também uma impossibilidade de separação absoluta entre filosofia e teologia, uma vez que, pela apresentação de um método histórico crítico, pela existência da elocução religiosa constitutiva do discurso racional e a simultânea valorização do livre exame crítico da Escritura, o filósofo subverte a noção de “intérprete autorizado”, deslocando o lugar da teologia e do teólogo. Por fim, procuramos destacar os “pontos de contato” ou “pontos de excitação”, (como na expressão da língua alemã Anregungspunkt) entre Espinosa e alguns autores de sua biblioteca. Valorizamos assim as origens e inclinações do filósofo como expressões do barroco (e não de um iluminismo avant la lettre como hoje parece difundido) e de seu pertencimento, mesmo que problemático, ao acervo cultural ibérico. Palavras-chave: Gebhardt, Barroco, Estilo, Época, Infinito, Espanha, Biblioteca, Siglo de Oro, Geometría, Cosmopolitismo, Retórica, Contradiscurso, Agudeza, Teologia, Religião.