Para agendar a Defesa de Tese:
A Defesa de Tese deve ser agendada no sistema SIGA (DAC/UNICAMP), através de uma série de procedimentos que podem ser observados no Manual de Defesa de Dissertação/Tese - clique aqui.
Esta dissertação analisa os processos de arquivamento de estudos de tombamento no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT) entre 1982 e 2020, investigando como esses arquivamentos participam ativamente da construção da memória oficial através da produção do "não-patrimônios". A pesquisa parte do pressuposto de que o arquivamento, longe de ser um mero procedimento burocrático, constitui um mecanismo fundamental das políticas patrimoniais, operando como contraponto à patrimonialização. Através da análise de três estudos de caso – o Cine Teatro de São Miguel Arcanjo, o Cine São Miguel em Garça e o Terreiro de Candomblé Santa Bárbara em São Paulo – a investigação examina os discursos, práticas e tensões que caracterizam o que denominamos "retórica do arquivamento". O objetivo central é compreender como os processos de despatrimonialização operam nas políticas culturais paulistas, identificando padrões, contradições e disputas que permeiam as decisões sobre o que não deve ser preservado. Metodologicamente, a pesquisa fundamenta-se na análise documental dos processos administrativos de tombamento arquivados, complementada por pesquisa bibliográfica sobre patrimônio cultural, memória e políticas públicas. Os resultados revelam que o arquivamento de processos de tombamento segue padrões recorrentes, incluindo: a prevalência de critérios técnicos sobre valores afetivos e memoriais; a transferência de responsabilidades entre diferentes instâncias administrativas e a descaracterização física como justificativa para a não-preservação. No caso dos cinemas de rua, observa-se como a despatrimonialização acompanhou transformações econômicas e culturais mais amplas, resultando no apagamento de importantes espaços de sociabilidade urbana. Já no caso do Terreiro de Candomblé, evidencia-se como as hierarquias culturais e raciais influenciam as decisões sobre o que constitui patrimônio, com a aceitação mais fácil do registro imaterial em contraste com a resistência ao tombamento material. A pesquisa conclui que a análise dos processos arquivados oferece uma perspectiva privilegiada para compreender as lógicas de exclusão que operam nas políticas patrimoniais. Ao visibilizar o "não-patrimônio", a dissertação contribui para uma compreensão mais crítica e abrangente das políticas de preservação, revelando como estas participam ativamente da construção de narrativas sobre identidade, memória e pertencimento.
A presente tese dedica-se à investigação de um problema teórico-clínico autoimposto por Jacques Lacan em seu ensino: a lógica da fantasia. Esse empreendimento adquire centralidade a partir do Seminário 14: A Lógica da Fantasia, no qual Lacan propõe uma estruturação formal através da escrita do matema ($◇a), articulando os operadores sujeito ($), punção (◇) e objeto a. A complexidade dessa proposta intensifica-se pelo entrelaçamento crítico com os fundamentos freudianos, revisitados por Lacan a partir de uma epistemologia heterogênea, ampliando os impasses em torno da sustentação teórica e da implicação clínica dessa lógica.
A partir desse campo de tensão, surgem os seguintes questionamentos: (1) De que lógica se trata? (2) Por que estabelecer tal lógica, quais seus limites e qual a importância teórica e clínica derivada desse empreendimento?
O objetivo central da tese é retraçar os fundamentos dessa lógica, explorando sua pertinência clínica e sua capacidade de articular e integrar eixos fundamentais da teoria lacaniana concernentes à fantasia — a saber: os processos de constituição do sujeito, as dinâmicas de alienação e repetição, e os efeitos próprios da práxis e do discurso analítico. Defende-se, assim, a hipótese de que a lógica da fantasia condensa esses três eixos — nos quais a fantasia é um operador fundamental — e que, em última instância, essa lógica expressa os processos de alienação e desalienação.
A tese organiza-se em três estádios interrelacionados, distribuídos em duas partes. O primeiro momento propõe uma genealogia da noção de fantasia, examinando as principais formulações na teoria psicanalítica e as críticas advindas da leitura lacaniana. O segundo momento é formal: dedica-se à análise da proposta lógica do matema, decorrente das críticas lacanianas. O terceiro momento é ético-político, abordando as implicações da lógica da fantasia no ato analítico, na ética e na política da psicanálise. Esses momentos, embora distintos, não se organizam de forma linear, entrecruzando-se ao longo do desenvolvimento da tese.
A primeira parte, intitulada Da pluralidade ao matema: por que elevar a fantasia à condição de estrutura?, justifica teórica e clinicamente o recurso à formalização, analisando o matema ($◇a) como proposta conceitual operatória. Essa elaboração é acompanhada por uma crítica à tendência de reduzir a fantasia à esfera do imaginário, comum em outras vertentes da psicanálise. A lógica da fantasia é concebida como um dispositivo teórico paradigmático, que permite apreender sua articulação com o real, o simbólico e o imaginário.
A segunda parte, Do esquema à pluralidade: fantasia, ato analítico e política da psicanálise, explora as implicações da lógica da fantasia na clínica e nos processos de subjetivação. Utilizam-se aqui formalizações lacanianas, vinhetas clínicas e referências literárias e cinematográficas. Propõe-se ainda o esquema a (esquema da alienação) como operador formal que articula: (1) a inscrição da fantasia nos registros RSI, distinguindo a perspectiva lacaniana de outras abordagens; (2) a permutação entre esquemas como estratégia para lidar com impasses conceituais no ensino de Lacan; (3) a articulação entre lógica da fantasia, ato analítico e ética da psicanálise, contemplando seus condicionantes políticos e epistêmicos.
Metodologicamente, a tese adota um percurso em espiral, atravessando diferentes momentos do ensino de Lacan sem restringir-se a um único período. Deliberadamente, não se avança sobre a formulação do nó borromeano, central nos anos 1970, concentrando-se em outras formalizações — esquemas, matemas, grafo do desejo — que operam como ferramentas teóricas fundamentais para a articulação proposta.
Observando o crescimento do streaming de música e explorando o funcionamento do seu principal representante – o Spotify – procuro argumentar que a música passa a exercer um papel num sistema muito mais amplo e complexo do que aquele restrito ao mercado fonográfico. A forma como o Spotify se estrutura e os agentes com os quais ele se conecta me fizeram notar que o consumo musical, neste contexto, representa algo até então inédito. A exposição deste processo, introduzida no primeiro capítulo, e alguns de seus efeitos, particularmente no que dizem respeito à relação que as pessoas estabelecem com esse tipo de consumo musical, é o que orienta a incursão feita pela presente pesquisa. A caracterização dos atores tradicionais e daqueles que passaram a fazer parte do mercado da música mais recentemente, configura um esforço em compreender as novas relações que se estabelecem com a música, dentre as quais se destacam aquelas referentes aos comportamentos de escuta. Com isso, a questão central deste trabalho surge da relação, que aqui se constrói, entre o serviço Spotify e o mapeamento das práticas e preferências culturais dos nossos entrevistados.
O desenvolvimento dessa tese possuí como premissa desenvolver análise que aborde o processo de constituição e elaboração do livro "Rebeliões da Senzala" de Clóvis Moura, publicado originalmente em 1959, situando-o enquanto obra referencial acerca da formação e desenvolvimento da sociedade brasileira. Assim como também problematizar, além de contextualizar, as suas edições subsequentes (1972, 1979, 1981, 1988, 2021), em relação ao cenário histórico-social-político não só do país, mas em especial a partir da relação do autor com o próprio movimento negro brasileiro. Para dessa maneira situarmos a especificidade da obra intelectual e política mouriana em meio ao universo dispare, dinâmico e, por vezes, contraditório tanto do universo do chamado pensamento social brasileiro, quanto da práxis intelectual afro-brasileira.
Esta investigação tem como objetivo compreender quais são as percepções e as experiências das mulheres eleitas e candidatas nos dois níveis do poder legislativos, Câmara Municipal de Maceió e a Assembleia Legislativa de Alagoas, sobre violência política de gênero em perspectiva interseccional. A tese está estruturada teórica e metodologicamente em dois pilares: os estudos de gênero e os da teoria interseccional. Ambos com o intuito de compreender as vivências, as formas, os impactos e as percepções das mulheres candidatas e eleitas sobre violência política contra as mulheres. Assim, a abordagem adotada foi a pesquisa qualitativa. Para tanto, foram realizadas nove entrevistas semiestruturadas, com três vereadoras eleitas em 2020, três deputadas estaduais eleitas em 2022, e três mulheres candidatas no período entre 2020 e 2022. Os dados foram tratados e analisados a partir da técnica de análise de conteúdo de Bardin (1997). Os resultados evidenciam que, no contexto alagoano, a violência política de gênero em perspectiva interseccional direcionada às mulheres se apresenta como dispositivo que funciona como mecanismo para desqualificar, desencorajar, limitar, dificultar, descredibilizar e coagir a atuação e a participação das mulheres na política partidária. Tal mecanismo de exclusão opera por meio de atos de violência moral, psicológica, verbal, simbólica e econômico, podendo causar danos à inserção e permanência das mulheres na política partidária, prejudicando-as tanto na conquista do espaço no parlamento quanto no próprio exercício do mandato. A violência se manifesta a partir das opressões cruzadas e entrelaçadas dos destintos eixos de opressão - gênero, raça, classe social, faixa etária, geográfico (de bairro), orientação sexual e identidade de gênero. E as motivações são decorrentes das violências institucionais sexista e racista, LGBTQIAPQN+fóbica, pela questão da faixa etária, discriminação por classe social e pertencimento a bairros populares e periféricos. Em contrapartida, os dados demostram também que essas mulheres têm ressignificado os espaços de poder, pois elas reagem e buscam estratégias para enfrentar as formas de violência, tanto pelo dispositivo legal, estabelecido pelas regras jurídicas para prevenir, reprimir e combater a violência, conforme a Lei nº 14.192/2021, como nos enfrentamentos diárias, sejam no próprio parlamento, nos partidos e nas ruas. Com isso, essas mulheres seguem (re)significando esses espaços para que tantas outras possam ocupar a política partidária, e que, sobretudo, não precisem sofrer violências como o custo a se fazer política para/com as mulheres.