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Esta pesquisa de doutorado tem como foco as experiências urbanas do povo Matis na cidade de Atalaia do Norte, no estado do Amazonas. Partindo de uma abordagem etnográfica prolongada e sensível à escuta, o trabalho investiga como os Matis habitam o espaço urbano, enfrentando desafios impostos por estruturas institucionais que pouco os reconhecem, e ativando estratégias próprias de presença, invisibilidade e resistência. Longe de interpretar a cidade como um simples local de deslocamento ou adaptação, a tese entende o urbano como território de confronto de mundos, onde cosmologias se tocam, tensionam-se e, por vezes, se anulam. O objetivo central é compreender como os Matis traduzem sua existência indígena na cidade, mobilizando saberes tradicionais, práticas de parentesco e narrativas de pertencimento frente às dinâmicas excludentes e à violência estrutural. A pesquisa se organiza em três capítulos principais: o primeiro examina os modos como os Matis narram seu passado, reconstituem suas travessias históricas e reorganizam suas presenças no território a partir das memórias coletivas e intergeracionais. O segundo capítulo adentra o cotidiano urbano, explorando desde os conflitos simbólicos entre o “ser matis” e o “olhar nawa”, até os fluxos materiais e afetivos entre cidade e aldeia, articulados por encomendas, redes e práticas de parentesco. Já o terceiro capítulo se debruça sobre as formas de denúncia e crítica social expressas nas falas Matis, abordando o racismo ambiental, os entraves burocráticos, as lacunas nas políticas públicas e os deslocamentos silenciosos provocados pela cidade. Ao final, a tese destaca como a palavra (falada, cantada ou silenciada) atua como abrigo e arma, revelando uma territorialidade simbólica que insiste em existir mesmo em contextos adversos. Este trabalho busca contribuir para os debates contemporâneos da antropologia urbana e indígena, ao oferecer uma escuta ampliada às vozes Matis e à sua complexa relação com a cidade. A partir da experiência singular desse povo, o texto questiona categorias analíticas engessadas e propõe uma abertura epistemológica que reconheça os múltiplos modos de ser, habitar e resistir no urbano.
A pesquisa de doutorado analisa a emergência e transformações organizativas e territoriais que tem experimentado as “comunidades negras” do norte do departamento do Cauca, Colômbia, nas últimas três décadas. Utilizando uma etnografia multissituada, analiso as continuidades e descontinuidades nas formas organizacionais estabelecidas pelas comunidades durante o período em estudo, que refletem as particularidades históricas, políticas e culturais da região após a guinada multicultural estabelecida na Constituição Política de 1991 com o reconhecimento dos direitos étnicos e territoriais das populações negras do país. Esta investigação é resultado do apoio ao Conselho Comunitário Afrodescendente do distrito de La Toma, município de Suárez, departamento de Cauca, no processo de "restituição de direitos fundiários e titulação coletiva" que tramita perante o Primeiro Juizado Cível do Circuito Especializado em Restituição de Terras de Popayán.
Esses tipos de demandas e processos confluem entre políticas multiculturais, políticas de vitimização e cooperação internacional, onde as ideias modernas de sujeito, cidadania e Estado se chocam. Essas ideias implicam debates sobre vulnerabilidade e novas noções e possibilidades de articulação e vivência da negritude. Concluo que as práticas e relações estabelecidas entre organizações locais e instituições estatais permitem traçar a emergência de linguagens e categorias que moldaram a constituição de sujeitos etnizados e racializados, estabelecendo novas formas de relação com o Estado que possibilitaram o surgimento de lideranças políticas em torno de narrativas que transcendem as lutas étnicas e territoriais dos povos afro-colombianos.
A presente dissertação tem por objetivo analisar o processo de construção de uma política de legibilidade estatística no Império Brasileiro, especialmente na província de Pernambuco, palco da revolta que impediu a realização do primeiro censo geral da população em 1852. Dividida em três capítulos, a dissertação passa primeiramente pela formação e consolidação do Estado e da Nação, entendendo como as estatísticas foram um dos dispositivos criados em favor da administração e da criação de um statement, compreendendo também como o Império e Pernambuco estavam engajados com a febre das estatísticas. Em um segundo momento, analisamos a carreira pública de Jeronimo Martiniano Figueira de Mello em Pernambuco e sua importância como uma figura ilustrada interessada na produção de tais documentações. Analisamos também o Ensaio Sobre a Estatística Civil e Política da Província de Pernambuco, produzido pelo desembargador a partir do Contrato com o governo provincial de 1841, e seu processo de publicação. Por fim, debruçamos sobre a Guerra dos Marimbondos e na análise de aspectos relacionados com a condição jurídica, cor, liberdade e trabalho, entendendo que a revolta foi um marco para as estatísticas no Oitocentos, tendo em vista que ela impediu a concretização do maior indicador estatístico de um país.
A presente tese trata do conceito de Estilo tardio (Spätstil) em Theodor W. Adorno. Ela avalia a gênese histórica de seu problema passando por autores como Hegel, Kant e Walter Benjamin até chegar em Theodor W. Adorno, autor que sistematizou a noção e a formulou como conceito filosófico. Adorno experimenta a ideia de estilo tardio sobretudo em dois casos, a produção de velhice de Beethoven e os hinos tardios de Hölderlin. A tese dedica um capítulo a cada artista. Em ambos os casos, é notado o debate com a estética psicologista, que Adorno critica com o conceito de intenção (Intenktion). A tese reconstrói a posição de Adorno acerca desses dois artistas, mas, ao fim, adiciona um terceiro: Kafka, escritor que Adorno tinha em alta estima, mas acerca do qual ele nunca conseguiu oferecer uma interpretação de fôlego. Neste capítulo, o conceito de estilo tardio em Adorno é testado. O propósito aqui é avaliar sua envergadura, sues limites e lacunas
As escritoras Délia, Emília Freitas, Júlia Lopes de Almeida e Chrysanthème se destacam pela publicação de obras que tematizam a transgressão feminina, entre o final do século XIX e início do século XX, no Brasil. Proponho analisar seus escritos na perspectiva da crítica feminista da cultura patriarcal, fundamentando-me na epistemologia feminista, bem como nas reflexões de Michel Foucault sobre a loucura e em sua analítica do poder e das práticas de liberdade, com maior ênfase nos conceitos de “dispositivo da sexualidade” e de “heterotopia”. Destaco como os escritos dessas literatas permitem uma releitura de aspectos da experiência humana associados historicamente ao feminino, como as emoções e o corpo, subvertendo o imaginário social masculino. Para tanto, trago à tona o conceito de “poética feminista”, desenvolvido por Lúcia Helena Vianna, e focalizo três temas nas obras dessas autoras: a ironia e o humor como contestação dos comportamentos sociais femininos normativos; a loucura e o corpo rebelde diante das formações discursivas científicas hegemônicas; e a criação de utopias e/ou heterotopias feministas.