Próximas Defesas
- Maria Stella Martins Bresciani - Orientadora (UNICAMP)
- Fernando Atique (UNIFESP)
- Ângelo Bertoni (Aix-Marseille Université)
- Josianne Frância Cerasoli (UNICAMP)
- Flávia Brito do Nascimento (USP)
O aumento demográfico e a insalubridade foram fundamentais para a expansão urbana no século XIX, tornando o acesso à moradia um problema de ordem pública. A demanda por habitação superava a oferta, e os altos preços de aluguel impediam os grupos mais pobres de acessar moradias mínimas. Nesse contexto, os cortiços se tornaram espaços de ocupação e pesquisa, simbolizando insalubridade e desorganização urbana. A "questão da habitação" foi analisada por diversos agentes em cidades como São Paulo, incluindo técnicos, políticos, proprietários, inquilinos e comerciantes. O debate sobre moradia frequentemente gerou propostas contraditórias, que visavam tanto a construção de casas e vilas operárias quanto a reforma ou destruição dos cortiços. Esse processo, influenciado por práticas internacionais, envolveu saberes técnicos, legislações e modelos arquitetônicos. A tese propõe que as cidades funcionam como “laboratórios plurais de observação”, com a participação de múltiplos agentes no debate político e na formulação de leis, formando redes colaborativas. O recorte temporal abrange de 1881, com as primeiras propostas de reforma do Código de Posturas, até 1921, ano da promulgação da Lei do Inquilinato. O conjunto de fontes utilizado revela as disputas e a intersecção de interesses na elaboração de políticas públicas.
- Luiz Cesar Marques Filho - Orientador (UNICAMP)
- Maria Cristina Correia Leandro Pereira (USP)
- Olivier Boulnois (Ecole Pratique des Hautes Etudes)
- Jean-Marie Guillouët (Université de Bourgogne)
- Marie Anne Polo de Beaulieu (Ècole des Hautes Ètudes en Sciences Sociales)
- Patrick Henriet (Ecole Pratique des Hautes Etudes)
O objeto de estudo desta tese é uma imagem amplamente difundida no final da Idade Média, mas ainda não estudada de forma sistemática: a Missa de São Gregório. Esta iconografia, surgida em finais do século XIV, representa uma visão crística revelada ao Papa Gregório I, cujas representações são muito variadas e nem sempre apresentam uma celebração eucarística explícita. Para melhor analisar este motivo, estruturamos este trabalho em duas partes complementares. O primeiro é dedicado a estabelecer o estado da arte sobre o assunto, destacando as dificuldades encontradas pelos especialistas na identificação e interpretação dessas imagens desde o século XIX. A partir de fontes visuais e textuais, procuramos compreender o aparecimento desta iconografia e a sua ausência na tradição hagiográfica de São Gregório. A segunda parte da tese consiste no estudo de um corpus de missais manuscritos franceses. Examinamos estes códices, dando particular atenção à sua constituição, datação e programa iconográfico. É efetuada uma análise comparativa com o objetivo de evidenciar as especificidades da aparição de São Gregório nos missais e de compreender melhor as suas funções no contexto da utilização destes livros durante a celebração do sacrifício crístico. Em suma, esta abordagem inovadora combina a temática iconográfica com o estudo dos textos eucológicos, permitindo-nos restabelecer a nossa compreensão da Missa de São Gregório e do seu papel na liturgia medieval e na vida sacerdotal.
- Lucilene Reginaldo - Presidente (UNICAMP)
- Lorena Féres da Silva Telles (UNICAMP)
- Tiago Luís Gil (UnB)
As mulheres africanas traficadas para a América portuguesa vivenciaram formas diferentes de escravização em relação aos africanos que também desembarcaram nos portos coloniais. Estudos têm comprovado que o espaço urbano também configurou condições específicas de exploração da mão de obra africana e resistência, é neste contexto que se insere o presente trabalho, mais especificamente tratando das africanas ocidentais que ficaram em Salvador, Bahia. Inseridas na dinâmica escravista, essas mulheres desenvolveram estratégias para conseguir a alforria e melhores condições vida em liberdade a partir do trabalho de rua. Conhecidas como “ganhadeiras”, escravizadas ou libertas, elas foram fundamentais para a economia colonial em Salvador. Nesta dissertação analiso a trajetória de africanas, minas e jejes, em Salvador, entre a segunda metade do século XVIII e as primeiras décadas do oitocentos. Ancorada no debate sobre trabalho urbano, gênero e etnicidade, investigo a compra de alforrias e de propriedades com recursos oriundos do trabalho, assim como as redes de sociabilidade entre africanas de mesma “nação”. Para este fim, foram utilizadas fontes eclesiásticas e notariais, dentre elas os registros de batismos, casamentos e óbitos disponíveis no FamilySearch, testamentos e inventários post-mortem depositados no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), assim como algumas procurações e escrituras de compra e venda que também estão sob guarda do APEB, mas disponíveis online.
- Iara Lís Franco Schiavinatto - Orientadora (UNICAMP)
- Lucilene Reginaldo (UNICAMP)
- Kléber Antonio de Oliveira Amâncio (Universidade Federal do Recôncavo Baiano)
Esta pesquisa analisa o papel do Teatro Experimental do Negro (TEN) como uma iniciativa de luta por cidadania e visibilidade negra no Brasil, delineando seu impacto através de performances teatrais, debates intelectuais e articulações políticas variadas. Liderado por Abdias Nascimento, o TEN promoveu uma nova representação da negritude nos palcos, onde os corpos negros podiam ser vistos de forma positiva e complexa, contrastando com práticas racistas, como o blackface, que marcaram a rotina do teatro nacional até então. A partir de um acervo fotográfico que inclui cenas de espetáculos, ensaios e bastidores, a pesquisa examina como essas imagens servem como testemunhos visuais das atuações e da dinâmica coletiva do grupo, destacando as estratégias de visibilidade empregadas. As fotografias revelam o empenho do TEN em construir uma identidade visual que exaltava a dignidade e a presença negra no espaço público e no ambiente artístico, registrando momentos que iam além da atuação teatral e reforçavam a autoafirmação e o pertencimento racial. Ao lado dessas imagens, o jornal Quilombo, editado pelo TEN, ampliava a visibilidade dos sujeitos negros ao divulgar não apenas rostos e corpos, mas também ideias e debates intelectuais em um contexto ainda dominado pela branquitude. As fotografias, ao serem publicadas no Quilombo e outros meios, posicionavam os artistas negros no imaginário social de maneira inovadora e potente. Conclui-se que o TEN não apenas transformou o teatro, mas também criou um novo regime de visibilidade e visualidade afrocentrado, utilizando a força das imagens para promover a dignidade e a humanidade dos corpos negros em espaços públicos de prestígio, contribuindo para a construção de outras memórias possíveis para essas pessoas e complexificando a luta por acesso a cidadania no Brasil.
- Rodrigo Camargo de Godoi - Orientador (UNICAMP)
- Claudio Henrique de Moraes Batalha (UNICAMP)
- Denilson Botelho de Deus (UNIFESP)
- Valéria dos Santos Guimarães (UNESP)
- Thiago Mio Salla (USP)
Esta pesquisa trata do surgimento das primeiras empresas jornalísticas no Rio de Janeiro e da profissionalização de repórteres e jornalistas neste contexto. Para tanto, foi analisada parte dos principais veículos de imprensa da capital entre as décadas de 1870 e 1920, juntamente com as associações dos trabalhadores do período. O processo de especialização, formação de categorias e proletarização do trabalho se desenvolveu em meio à mercantilização dos diários cariocas, e foi investigado através de diversas fontes, como estatutos, legislações, obras literárias, correspondências, relatórios e atas de assembleia. Desta análise, emergiu a importância do associativismo e da mercantilização da imprensa em perspectiva local e transnacional. A pesquisa também enfatiza trajetórias de figuras como Gustavo de Lacerda, repórter negro e socialista, idealizador da Associação Brasileira de Imprensa. Assim, ficou evidenciado como a formação das empresas jornalísticas e o associativismo foram centrais nas transformações da imprensa carioca, moldando as dinâmicas socioprofissionais que marcaram o jornalismo na transição para o século XX, e a formação da classe dos trabalhadores de jornal.