Para agendar a Defesa de Tese:
A Defesa de Tese deve ser agendada no sistema SIGA (DAC/UNICAMP), através de uma série de procedimentos que podem ser observados no Manual de Defesa de Dissertação/Tese - clique aqui.
Esta dissertação apresenta uma etnografia da iniciativa Lute Como Quem Cuida, realizada pela Cozinha Ocupação 9 de Julho do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), em São Paulo. A iniciativa consiste na produção e distribuição de “quentinhas” (marmitas) para pessoas em situação de vulnerabilidade social cujo financiamento é obtido através dos recursos de uma outra ação da Ocupação, os Almoços Abertos. Nesta ação, a equipe da Cozinha recebe chefs e cozinheiros convidados e preparam, juntos, refeições que são vendidas a preço único para o público em geral em atividades culturais aos domingos, no pátio da Ocupação, no centro da cidade.
A iniciativa Lute Como Quem Cuida começou na pandemia de Covid-19 em 2020 e continuou se desenvolvendo ao longo dos anos, fazendo com que a articulação entre os verbos lutar e cuidar ganhasse novos contornos políticos, sociais e culturais. No entanto, a iniciativa é fruto de outras transformações que a própria cozinha comunitária do movimento vivenciou, desde seu início em 2016. Por isso, esta dissertação busca analisar e debater de que maneira cuidado e luta se articulam neste espaço nos dias de hoje. A pesquisa também busca entender de quais formas as transformações ocorreram ao longo dos anos e como estas práticas produziram e continuam produzindo novas alianças por meio da venda e da doação de refeições elaboradas pela equipe da Cozinha Ocupação 9 de Julho e pelo MSTC.
Em termos de metodologia, esta dissertação foi guiada pelo a) trabalho de campo, com observação participante no cotidiano da Cozinha e suas práticas de trabalho dos Almoços Abertos b) trabalho de campo a partir da observação na distribuição das quentinhas doadas em bairros distantes pela iniciativa Lute Como Quem Cuida; e, por fim, c) entrevistas semi-estruturadas com integrantes da Cozinha.
A participação na equipe da Cozinha também representa uma relevante fonte de renda para suas trabalhadoras, um grupo formado em sua maioria por mulheres, mães e aposentados, negras e/ou migrantes de outros estados. Assim, um dos objetivos desta pesquisa é contribuir para a formação de um retrato das realidades e práticas de trabalho e cuidado sub-representadas na Antropologia Social, em especial, no campo das pesquisas relacionadas aos movimentos por moradia nos grandes centros urbanos.
Entre os principais achados estão a coexistência e alternância de políticas de visibilidade e invisibilidade do trabalho culinário de cozinheiras negras, a consolidação de alianças políticas alimentadas por circuitos de doações e ajudas e a mobilização do cuidado como conceito político na luta por moradia.
O povo indígena Kiriri Acré saiu de Muquém do São Francisco, oeste da Bahia, em 2017 e ocupou uma terra no Sul de Minas Gerais, no bairro rural Rio Verde, município de Caldas/MG. A permissão para permanecer na localidade, que tem como proprietário legal o estado mineiro, foi concedida pelo verdadeiro dono da terra: um antigo tapuia que apareceu na ciência, importante momento ritual em que os kiriri comunicam-se de forma mais direta com diversos seres outros-que-humanos que também habitam o cosmo. Em troca da permanência na terra, o velho tapuia pediu que as pessoas cuidassem das matas e águas daquele lugar. A ciência é também um importante momento em que o conhecimento é produzido e compartilhado entre humanos e outros-que-humanos, por isso é importante que adultos e crianças de todas as idades participem. As crianças que nascem naquela terra, dizem, poderão contar a história daquele lugar melhor do que os adultos que ali vivem. Na nova terra ocupada, as pessoas estão tendo “a chance de começar de novo”, conforme o cacique da aldeia, Adenilson, e, por isso, devem contar sua história dali em diante. Esta tese de doutorado tem como objetivo seguir com as pessoas essa história, mencionada não somente por Adenilson mas também por outras pessoas que vivem na aldeia Ibiramã Kiriri do Acré. Falar da história do lugar é também falar das conexões, humanas e mais que humanas, que as pessoas produzem pelos lugares por onde circulam. Por isso, falar da história do lugar é falar de tempo, terra e pessoa, equação explorada no trabalho.
A emergência climática e seus desdobramentos socioeconômicos, sensíveis em todo o planeta,
têm conclamado à ação: Administração Pública, empresas, Organizações da Sociedade Civil e
Academia. Por conseguinte, ampliaram a demanda por novas estratégias de governança,
apoiadas em parcerias e distribuídas em múltiplos atores e níveis. Nesse contexto, despontam
as cidades, que figuram como protagonistas em termos de mitigação, adaptação e resiliência às
mudanças climáticas. É nelas que as atividades humanas acontecem de forma mais sensível e,
concomitantemente, a atividade laboral se desenvolve, muitas vezes calcada em indústrias
sujeitas a elevados padrões de sustentabilidade socioambiental. Assim, esta Tese de Doutorado
em Ambiente e Sociedade consistiu em uma pesquisa exploratória, de caráter qualitativo,
delineamento bibliográfico e documental, assentada em um estudo de caso para explorar a
governança climática no município de Vinhedo, no interior do Estado de São Paulo, tendo em
vista suas características e potencialidades. Os resultados apontam que o município, mesmo
reunindo condições para estabelecer parcerias entre Poder Público e iniciativa privada com
condições de criar uma governança climática com alto impacto local e aderência às pautas
globais pela sustentabilidade, por razões políticas e sociais ainda não está apto a desenvolver
tais empreitadas. Por meio da teoria das políticas públicas presente em autores clássicos da área,
são enumerados caminhos para a inserção desse tema na agenda do governo municipal, algo
que pode contribuir para a implementação de ações semelhantes em cidades pequenas e médias,
em direção a um desenvolvimento local sustentável que, mais do que nunca, se faz necessário.
PALAVRAS-CHAVE: Governança climática; Mudanças climáticas; Desenvolvimento local
sustentável; Políticas públicas; Estado de São Paulo.
Esta dissertação apresenta uma possível chave de leitura para a fenomenologia de Ernst Cassirer. Em sua obra Philosophie der symbolischen Formen: Phänomenologie der Erkenntnis, Cassirer esquematiza três funções simbólicas da consciência que abarcam o todo da experiência: expressão, apresentação e significação pura. Nenhuma dessas funções é suprimida pela outra, cada uma possui um índice de refração diferente, interpelando criticamente a cognição de maneira qualitativamente distinta e com níveis dessemelhantes. Toda cognição conceitual está fundamentada em uma cognição intuitiva que, por sua vez, é fundamentada em uma cognição perceptiva. Nessa fenomenologia da cognição, as formas simbólicas da cultura, como o mito, a linguagem e a ciência, são dispostas segundo um “plano geral de orientação ideal” e comparadas, cada uma em sua irredutibilidade, mediante respectivas modalidades. No entanto, mesmo que os estratos da formação cultural possam ser estratificados de acordo com o processo de “objetivação”, não se atribui ao propósito da humanidade uma fórmula universal expressando a natureza absoluta do espírito, muito menos a prescrição do curso futuro da história da cultura, mas simplesmente uma meta de progressão da consciência de liberdade. Portanto, através desse telos do espírito humano, a diversidade de formas simbólicas da cultura, os produtos do espírito “objetivo”, para Cassirer, confirmam a unidade de seu processo produtivo e permitem uma reconstrução da “subjetividade”. Em suma, a literatura especializada discute se há uma teleologia na filosofia de Cassirer. Nesta dissertação defendemos que, se caso houver uma teleologia, ela será uma teleologia psicossocial, e não biológica.
A tese aborda o arquivo hemerográfico do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como um dispositivo de imagens sobre passados de diferentes lugares da nação. Diante de sua figuração como um atlas de rastros mapeados por vários estados do país, problematizo distintos modos de fazer ver e dizer passados do povo registrados nele, sobretudo ao longo do século XX entre dinâmicas globais do folclore, da cultura popular e do patrimônio, a fim de entender alguns traços de sua emergência, de transformações de seu funcionamento até ocupar um lugar central na era digital e de subjetivações que provoca. A hipótese defendida é a de que as atualizações de sentidos que faz, marcadas por lógica simultânea de domesticação e de idealização de passados, indicam acordos e disputas que dizem muito sobre seus mecanismos de atuação. Argumento que os usos políticos do passado que opera, em meio a linhas variadas de sedimentação de imagens unitárias e de fraturação delas, explicitam um emaranhado de relações entre políticas de memória, de escritas de história e de tempo atuantes na construção dessas percepções no debate público. Uma abordagem mais sistemática de memórias do sertão da região nordestina, em que o passado do modo de vida à margem da lei do cangaço é um dos seus espectros mais sintomáticos, foi feita para expor procedimentos significativos deste atlas que encena tempos da nação. Com base em Teorias da História, da História da Historiografia e da Memória, realizo uma cartografia desse arquivo por meio da análise de determinadas redes intelectuais que permitem desemaranhar algumas linhas de sua constituição historicamente situada. O principal núcleo de fontes utilizado é a própria documentação do atlas, especialmente os recortes de jornais publicizados em sua hemeroteca digital. O estudo do arquivo é o ponto de estabilidade dessa pesquisa que envolve a análise de uma série mais ampla de vestígios sobre os temas em cena relacionados a escritas, imagens, lugares, performances e outras artes. A tese busca contribuir com pesquisas históricas interessadas em entender como imagens de passado em conflito neste atlas, ou realizadas a partir dele, se entrelaçam em lutas bastante variadas do presente e contendas sobre seus legados para o futuro.