John Manuel Monteiro

Notas de Acadêmicos

Izabel Missagia de Mattos-UFRRJ

Regina Celestino-UFF

José Ribamar Bessa Freire-UERJ

Giovani José da Silva-UFMS

Vânia Maria Losada Moreira-DLCS/UFRR

Eduardo Natalino dos Santos-USP

Almir Diniz de Carvalho Júnior-UFAM

Iris Kantor-USP

Heloisa Pontes-UNICAMP

Lígio José de Oliveira Mai- UFRN

Maria Hilda Baqueiro Paraiso-UFBA

Mark Harris-University of St. Andrews

Glória Kok-MAE-USP

Robin Wright-UNICAMP

Sel Guanaes-UNILA

Juciene Ricarte Apoinário-UFCG

Lilia Schwarcz-USP

 

Neimar Machado de Sousa-UFGD/Faculdade Intercultural Indígena 

Edson Silva-UFPE

 

Cristina Pompa-UNIFESP

Rosário Carvalho-UFBA

 

Juciene Apolinario-UFCG

José Maurício Arruti-UNICAMP

 

Izabel Missagia de Mattos-UFRRJ

"Detalhes  tão pequenos" ganham aqui dimensão de reencontro e vão pincelando a  tela na qual buscamos fixar algumas imagens do John, sempre tão  discreto, por ter aprendido - a duras penas de uma educação severa - a  não externalizar seus sentimentos. Discrição que transmitiu à nossa  "linhagem" como um legado ético, pois o que importava era a tarefa de  construirmos coletivamente uma obra - certamente permeada por diferenças  criativas, sempre estimuladas - sobretudo baseada no diálogo entre  mundos, temporalidades, perspectivas. Para isso, ele escolheu  orientandos de origem diversificada, que conseguiu unir por meio de  nossa ânsia em construir um novo olhar sobre a Etnologia.
 
Como  bom português, era dotado de capacidade de navegação. Sabia ver além  das aparências pois olhava do alto, sua perspectiva era macro. O  reconhecimento do mérito do diverso na construção do conhecimento era,  sem dúvida, uma de suas qualidades mais lindas - certamente no meio de  tantas outras que continuam a nos orientar, como boas sementes que  foram. E que esperamos - com seu filho Thomas Monteiro - que não deixem  de se frutificar. 
 
Já  aprendemos que a memória é coletiva e percebemos como tantas impressões  subjetivas descritas neste espaço providencial correspondem exatamente  ao do nosso "John pessoal", dando-lhe um efeito de realidade. 
 
De  minha parte penso que John, como historiador impecável, tinha plena  consciência de que nos deixaria um legado e para isso construiu com  cuidado sua trajetória tão honrosa. Nesses tempos em que "honra" pode  parecer uma categoria suspeita, aqui ela não deixa dúvida, pois de fato  nos sentimos sempre honrados de ter compartilhado um pouco da energia  deste homem ao mesmo tempo forte e frágil, de energia firme e madura,  flexível e juvenil - pelo prazer que demonstrava em descobrir  continuamente o(s) mundo(s). 
 
Por  sua contribuição seminal para a antropologia histórica e por nos legar o  papel de sua "linhagem" - e também talvez pela inequívoca radicalidade  com que foi colhido pela morte - senti, de alguma forma, que já estava  preparado para a partida. Pelo tanto que ela significa para os colegas e  orientandos, sua passagem veio para ficar. 
 
José Mapuche ao encomendar sua alma o libertou: Vá, John, continue a navegar! Muito  obrigada, querido navegante que abarcou tantos desejos e corações nessa  jornada que não posso considerar curta por tão plena. Desculpe por ser  tão difícil para nós seguirmos sem você, sabemos da confiança que nos  depositava e levaremos adiante nossos projetos. Sabemos que nesse mundo  estamos cada vez mais distantes da paz que queremos cultivar mas  continuaremos, como você, buscando construí-la dentro de nós e à nossa  volta, para que ainda possa haver alguma esperança.
 

Giovani José da Silva-UFMS

Lembro-me  a primeira vez em que vi o 'Professor John Monteiro' (era assim que eu o  chamava logo que eu o conheci pessoalmente): foi no simpósio temático  da Anpuh de Londrina, em 2005, quando apresentei um trabalho sobre a  guerra e a aliança na história dos Kadiwéu, falando sobre a visão  daqueles índios a respeito da Guerra do Paraguai. O 'Professor' pareceu  ter gostado da abordagem e fez algumas instigantes perguntas,  convidando-me depois para uma conversa em particular. Nascia ali uma  relação de respeito e amizade que passou pelas Anpuhs de São Leopoldo  (2007), Fortaleza (2009) e São Paulo (2011). O "John" (com o passar do  tempo ele pediu que eu assim o chamasse, evitando certas formalidades)  parecia se divertir me escalando para, quase sempre, me apresentar no  último dia dos simpósios. Eu dizia a ele: 'Não vai ter ninguém para me  ouvir' e ele, com um sorriso agradável e com toda elegância dizia para  mim: 'Você é um showman, vão estar muitos lá para ver a sua  apresentação...' E ele tinha razão! Lembro-me também da última vez em  que vi o John, agora mestre e amigo: foi numa sexta-feira em Campinas,  na banca do Erik Petschelies, autor de um belo trabalho a respeito dos  Kadiwéu. Ao me despedir, o John me perguntou: 'Nos vemos em Natal, na  Anpuh?' Eu não quis dizer que este ano, infelizmente eu não iria, então  balbuciei um 'sim' hesitante que não passou despercebido por ele. Era 22  de março de 2013 e quatro dias depois eu e todos os que conviveram com o  John foram pegos de surpresa com a triste e trágica notícia de sua  passagem... Lamento a morte do amigo e por não poder ler o prefácio que  ele escreveria para o volume 2 de Kadiwéu: Senhoras da Arte, Senhores da  Guerra. Ao mestre de todos nós só posso dizer: 'Niotagodi! Nati  Nigoitijo!' (Obrigado! Até um dia!)" Giovani José da Silva,  Oyatogoteloco entre os Kadiwéu

 

Almir Diniz de Carvalho Júnior-UFAM

27 de março
As  palavras são poucas para expressar a gratidão, o respeito e a amizade  que sentia por John Monteiro. Além de meu grande mestre e ex-orientador,  John foi um amigo muito querido. Penso nas diversas vezes em que reuniu  a todos seus orientados - novos, antigos e futuros pelos restaurantes  da vida a brindar o prazer do diálogo, sempre com um sorriso amigo e um  sofisticado senso de humor. Um fiel mestre a guiar muitos de nós pelos  caminhos da nova história indígena. Não foi somente uma perda para seus  eternos alunos e amigos, foi uma imensa perda para a historiografia  brasileira. Neste momento, gostaria de me solidarizar com seus  familiares, com a Maria Helena e dizer que a tristeza de todos nós  somente revela o grande amigo e homem que foi John Manuel Monteiro.
 
Abraços afetuosos em todos os amigos comuns.
 
5 de abril
John  Monteiro foi um ser humano raro. Não poucas vezes o vi escutar,  atentamente e com entusiasmo, ideias das dezenas de alunos que o  procuravam. Ouvia sempre com paciência, porque sabia enxergar além das  aparências – sabia ouvir com atenção e tirar o sumo precioso de um  envoltório opaco. Como aqui já se repetiu tantas vezes foi, acima de  tudo, um grande educador: não dava o peixe, ensinava a pescar;  ponderava, não coagia; argumentava, não impunha. Nunca deixou de ser um  jovem entusiasmado com as novas pesquisas, as novas ideias, os novos  alunos. Ele imprimia em cada um de nós o entusiasmo – por isso a  torrente de textos que não param de fluir, talvez com a esperança de  trazê-lo de volta e não deixar morrer em nós sua vibrante alegria pelo  conhecimento. Resta-nos agradecer o privilégio de tê-lo conhecido e  seguir seu exemplo. Muito obrigado John Manuel Monteiro – eterno mestre e  bom amigo! 
Almir.
 

Lígio José de Oliveira Mai- UFRN

O John.
Quem  teve a chance de seguir para além dos sofisticados argumentos de  história indígena e do indigenismo do Brasil, encontrados na sólida  produção intelectual de John Monteiro, e, portanto, teve a sorte de  tê-lo conhecido, sabe muito bem que ele era muito mais que um  intelectual: John era um educador! Junto a seus alunos e colaboradores, a  ele interessava menos dizer o que estava certo ou errado, mas nos fazer  pensar quase sempre em outras possibilidades, aliás, possibilidades  outras que não havíamos pensado até então.
A elegância de seus argumentos, não raro, empenhada com a morosidade de  suas observações – que às vezes ficávamos pensando, afinal, aonde ele  quer chegar? – sempre acabava num clímax de inteligibilidade, não apenas  para seu interlocutor direto, mas a todos que ficavam à sua volta nas  inúmeras sessões de debates em outros sem número de simpósios temáticos.
Tive  o privilégio de ter contado com a participação de John nas minhas duas  bancas de defesa – mestrado e doutorado - , quando então, suas  argumentações sempre me apareciam como outras possibilidades, ampliando a  compreensão de meu próprio objeto de pesquisa.
Difícil  mensurar a lacuna que passa agora a nos perturbar o espírito! A perda  intelectual de um educador tão importante e raro, especialmente, no  interior de nossas universidades. A morte nos tomou de assalto John  Manuel Monteiro, cuja própria presença física já era por si mesma  acalentadora, aprazível em quaisquer circunstâncias. Tomás de Kempis, na  sua “meditação sobre a morte”, no difundido livro do século XV,  Imitação de Cristo, chega a seguinte conclusão: “Hoje está vivo o homem,  amanhã terá desaparecido da Terra. Perdido de vista, breve estará  perdido na lembrança dos que o conheceram”. No caso de John, duvido  muito...
 

Glória Kok-MAE-USP

Imagen de Koch-Gruberg
Conheci  o grande pesquisador, escritor, historiador e professor John Monteiro  em 1997, quando ele fez parte da minha banca de qualificação de  doutorado na USP. Logo de início, me espantei com a sua extrema  erudição, exigência, gentileza e simplicidade. Também devo destacar o  humor fino e irônico que demolia muitos entraves. Desde então,ele foi  sempre uma presença luminosa na minha vida de pesquisadora, era uma  alegria que me motivava a seguir adiante e ultrapassar todas as  fronteiras.Quando  entrei na Unicamp, ele me avisou que as pessoas ficavam muito tempo por  lá. Eu tive o privilégio de ficar cinco anos e ter o John como  interlocutor.Obrigada,  John, pelo exemplo, pela generosidade e pela grandeza! Vou continuar  tentando transformar a dor em palavras que minimizem essa trágica  ruptura que nos privou do seu convívio.Que você brilhe, como sempre, nas nossas constelações!Gô
 

Juciene Ricarte Apoinário-UFCG

Não consigo encontrar palavras ..... para expressar o meu sentimento diante da notícia da morte do mestre John Monteiro.
Só  posso registrar que o nosso John Monteiro não passou pela vida. Ele  deixou marcas indeléveis em todos e todas que direcionaram as suas  pesquisas e ações políticas em prol da questão indígena em nosso País e  na América Latina.
Saudades!!!!!!
 

Neimar Machado de Sousa-UFGD/Faculdade Intercultural Indígena 

Posso  dizer que a historiografia, os índios e os indigenistas perderam um  pesquisador excepcional. Não esqueço a generosidade do professor em  visita aos acadêmicos de história aqui no Mato Grosso do Sul, além da  sua relevante contribuição para a História Indígena e estudos coloniais.
 

Cristina Pompa-UNIFESP

Ao chefe,
 
Não  sei porque, mas desde que a gente se conheceu, num inverno romano de  1996 (ou era antes? Ou depois?), eu sempre chamei ele de “chefe”. Era  uma brincadeira, no começo: eu nunca tive mestres, ou talvez  simplesmente pertença a uma geração - a mesma dele - e uma época que não  gostava de reconhecer mestres, de qualquer espécie. 
Mas  ele foi, ele é, um mestre, se mestre é alguém que indica o caminho,  alguém que traça a rota, alguém que fica olhando para você de longe,  gostando do que você faz, (mesmo quando o que você faz não é lá essa  coisa), só porque o que você está fazendo é algo que foi pensado junto,  em algum momento. 
Há  muitos dias, não consigo pensar em muita outra coisa a não ser o quanto  do que nós somos hoje existiria , sem ele. De fato, não sei. E, também,  não sei se conseguiremos fazer o que ele gostaria que fizéssemos. Sei  que tentaremos. 
Não  tenho fotos, mas está marcada na minha memória sua expressão no dia em  que visitamos um dos monastérios de São Bento, em Subiaco, perto de  Roma. Ele era espiritualizado. Eu não sou, mas a idéia que eu faço da  imortalidade é muito próxima àquela gota que ficou em quem teve a sorte  de compartilhar com ele um trecho do caminho.
Nunca chamei ninguém de “chefe”, antes. Não vou chamar ninguém, depois.
Obrigada, chefe.
 

Juciene Apolinario-UFCG

Não consigo encontrar palavras ..... para expressar o meu sentimento diante da morte do mestre John Monteiro.
Eu  lembro que eu tinha retornado de Lisboa em 2003, período em que eu  estava com Bolsa Sanduíche (Doutorado) e fui participar da Anpuh  Nacional em João Pessoa-PB. Não apresentei trabalho no Simpósio do  mestre John, mas terminei participando como ouvinte. Ao término do  evento me deparei com uma fila de pessoas com o mesmo objetivo que o  meu... chegar perto daquele historiador que todos admiravam "JOHN  MONTEIRO". 
Sem jeito meio tímida ... enfim chegou a minha vez de apertar as mãos DELE, mas rapidamente ele tomou a iniciativa e disse
"Juciene  Ricarte Apolinário - UFCG"!!. Meu coração bateu muito forte e respondi:  " mas você já me conhece ?" . Ele sorriu com muita simplicidade e em  tom de brincadeira comentou: " você não recebeu uma bolsa sanduíche para  pesquisar nos arquivos portugueses sobre o povo Akroá?? Eu dei o  parecer favorável sobre o seu projeto" Nossa!! Fiquei muito orgulhosa,  feliz e daí por diante passei a me envolver ainda mais com todas as  iniciativas coletivas advindas do mestre John!! Publiquei o livro da  minha tese em 2006 e ele generosamente aceitou prefaciar. Posteriormente  elaborou um resumo do mesmo livro e divulgou no site Os Índios na  História do Brasil.
 Finalmente  registro que o nosso John Monteiro não passou pela vida. Ele deixou  marcas indeléveis em todos e todas que direcionaram as suas pesquisas e  ações políticas em prol da questão indígena em nosso País e na América  Latina.
Saudades!!!!!!
 

Regina Celestino-UFF

Obrigada,  John! Obrigada, John! Obrigada, John! É esse profundo sentimento de  gratidão que, junto com a perplexidade e a imensa tristeza, tem se  manifestado em todas as mensagens dessa lista. Além do consolo, pela  certeza dos incalculáveis ganhos que tivemos com sua convivência, a  gratidão nos serve também de alavanca para tocar pra frente o trabalho  que ele tanto incentivava, como tantos aqui já disseram. Quero me somar  aos colegas e amigos para também agradecer muito: pela orientação  lúcida, segura e continuada que se estendeu da tese de doutorado até uma  semana antes do acidente, quando, por telefone, com a competência e o  entusiasmo de sempre, ele me esclareceu uma pauta de dúvidas; pela  colaboração e incentivo dados aos meus alunos em bancas e congressos;  pelo sorriso franco e aberto com que respondia (ou aturava) as minhas  ansiedades e cobranças por prazo; pela amizade; pelo exemplo de  competência pr ofissional e grandiosidade humana. Agradeço, enfim, por  ele ter sido quem foi e por ter nos deixado esse enorme legado: as  nossas listas (CPEI/UNICAMP e o GT Indios na História), os grupos que  somos a partir das suas iniciativas, o maravilhoso site na Internet, as  inúmeras publicações, os trabalhos e projetos coletivos e muito mais.  Perdemos nosso capitão-mor, mas ficamos com sua obra e com algo muito  importante que ninguém nos tira: a semente por ele implantada que, como  já disseram alguns, já tem dado e ainda vai dar muitos frutos.
 

Vânia Maria Losada Moreira-DLCS/UFRR

Para  John: eu tive a bem-aventurança de te conhecer, a bem-aventurança de te  ver trabalhar, a bem-aventurança de aprender com você. São tantas e tão  boas recordações e sempre tão alegres e respeitosas que creio ser essa  mais uma dentre outras bem-aventuranças. Agradeço imensamente ter te  conhecido e desejo conforto, amor e paz para todos que você amou e que  estão com saudades de você agora. Vou te levar sempre na minha memória e  nas escritas de minhas histórias.
 

Iris Kantor-USP

Para John Monteiro, mestre do bom nome !
 
Mestre  porque escutava o próximo e o distante; porque fez discípulos sem  pretendê-los ou disputá-los, porque deixou trilhas abertas por onde,  hoje, trasitamos; porque suas palavras e gestos transcendem o seu  próprio tempo, deixando um rastro de luz na lembrança de cada um de  nós. 
 
 Tive  muita sorte de conviver com John no Cebrap, entre 1992-94, onde ele foi  um dos supervisores do meu mestrado. Ali, junto com a Maria Helena  Machado, ele coordenou um grupo de discussão sobre raça e mestiçagem que  para muitos da minha geração foi realmente seminal, nessas reuniões  quinzenais, discutíamos os textos clássicos hipano americanos e  brasileiros. Desde então, não deixei de acompanhá-lo nas bancas,  conferências e congressos. 
 Por  vezes, ao me ver carregando livros que lhe interessavam tomava-os das  minhas mãos e dizia: já já lhe devolvo. Assim, depois de um ou dois  meses, encontrava o livro no meu escaninho do Departamento com um  bilhetinho de agradecimento. 
 Não  tenho plena certeza, mas deve ter sido meu parecerista em vários  projetos, pelo estilo dos seus comentários e pelas nossas conversas,  sempre tive essa impressão. Essa interlocução, ainda que oculta, me dava  segurança de não estar sozinha nos sertões e catingais da vida  universitária. 
 
Salve o bom mestre Akangatu !!
 

Maria Hilda Baqueiro Paraiso-UFBA

Conheci John nos idos da década de 80, quando pertencíamos ao Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, coordenado por Manuela Carneiro da  Cunha. Participamos de varios GTs, além de ter sido 
membro  de minhas bancas de qualificação e de doutorado na USP. Ao longo desses  anos, deixou em todos nos que lidamos com a História Indígena uma marca  indelével nas nossas trajetórias acadêmicas.
Muito  aprendemos com ele não só sobre História Indígena e demais  conhecimentos acadêmicos, mas também com a pessoa sempre simpático e  acessível a todos que o procuravam.
Vejo,  dado curto período que tivemos para conviver com John, que ele era como  um meteoro brilhante que na sua passagem semeou conhecimentos e nos  deixou uma missão: dar continuidade ao seu trabalho.
 

Robin Wright-UNICAMP

John foi um colega que nunca vou esquecer; sim, foi pioneiro nos estudos de Historia Indigena e do Indigenismo no Brasil. Mais do que um estudioso brilhante, um intelectual renomado, foi um amigo nas horas que precisava. Ele estava no auge da sua carreira e produção intelectual. Ele deixou sua marca no pensamento social e histórico brasileiro. A morte nos roubou de um estudioso e mais do que isso, John será lembrado por ser uma pessoa digna, honesta, e humana - sempre pensando nos outr@s, nos alun@s, e quem estiver procurando um bom ouvido somente para deabafar ou um apoio em circunstâncias dificeis. Nunca ouvi John dizer um "não" para um trabalho intelectual ou acadêmico que lhe foi pedido. Foi um grande cientista social, historiador engajado, um "role model" para os futuros antropólogos e historiadores da área, o qual por 20 anos tive o privilegio de conhecer.
 

Lilia Schwarcz-USP

John Manuel Monteiro (1956-2013)
 
28 março 2013
 
A morte chega como susto e carece sempre de sentido. É só dessa maneira que se pode tentar descrever a morte repentina do Professor John Monteiro, ocorrida na última terça-feira, no dia 26 de março. John, como era conhecido por todos, voltava da Unicamp, nesse caminho percorrido por uma verdadeira caravana de mestres que pegam a estrada, a Rodovia dos Bandeirantes, semanalmente e muitas vezes diariamente. O trajeto é tão corriqueiro, que a Unicamp criou um ônibus para levar e trazer os docentes no percurso que liga São Paulo a Campinas; condução logo batizada de "massa crítica".
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Mas dessa vez o destino não quis, e John, o atual diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), faleceu por conta de um acidente envolvendo vários carros. John, que havia assumido a diretoria em dezembro do ano passado e ficaria no cargo até 2016, era dono de atitude crítica e franca em relação à atual agenda das Universidades Estaduais Paulistas e tinha vários planos, todos estupidamente interrompidos.
 
John Monteiro era reconhecido especialista na área de história indígena, e, devido à sua erudição, acomodava áreas de fronteira – como história e antropologia –, além de possuir consolidada experiência em pesquisa documental nas Américas, Europa e Índia. John tinha graduação em História (Colorado College, 1978), mestrado e doutorado nessa mesma área (Universidade de Chicago, 1980 e 1985) e Livre-Docência pela UNICAMP (2001), sendo atualmente Professor Titular em seu departamento. Lecionou na UNESP (Araraquara, Assis e Franca) entre 1986 e 1991, e desde 1994 atuava no Departamento de Antropologia da UNICAMP, além de ter sido professor visitante na Harvard University (2003-4), University of Michigan (1997) e University of North Carolina-Chapel Hill(1985-86). Além de sua experiência como docente, foi "Directeur d'Études Invité" na EHESS em Paris (1999) e pesquisador do CEBRAP de 1991 a 1998.
 
O professor John era também autor da Companhia das Letras, onde publicou, em 1994, o premiado livro Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. Tendo como foco de análise as populações indígenas e o contato diferenciado que mantinham com colonos e jesuítas, o historiador reinterpreta criticamente a formação da sociedade paulista entre os séculos XVI e XVIII.
Atualmente, o pesquisador trabalhava no projeto "Mamelucos e mamelucas: aliança, mestiçagem e escravidão em perspectiva transcontinental, 1550-1650".
 
A morte pegou John em plena atividade, e nós, que acompanhamos a sua atuação ao lado da professora, esposa e companheira de todas as horas — Maria Helena Machado — e dos filhos — Álvaro e Thomas —, andamos todos tal qual ponteiro sem rumo e direção. Como dizia Mario Quintana: "a morte sempre chega pontualmente na hora incerta", errada.
 

Edson Silva-UFPE

Luto! Nota de falecimento
Com profunda tristeza e chocado, recebi hoje, pela manhã, um e-mail informando do falecimento do Prof. John Monteiro (UNICAMP), em um acidente automobilístico ocorrido de madrugada, na Rodovia Bandeirantes, em São Paulo. Sem dúvidas nenhuma, uma grande perda!
Na condição de ex-orientando (e sempre orientando!), sinto que o falecimento do John é lamentável! Pela pessoa humana, pelo amigo e colega pesquisador, reconhecidamente formador de vários pesquisadores da história indígena e, nos estudos históricos, de fundamental importância para os povos indígenas e o repensar da História do Brasil.
Acredito que a melhor forma de homenagearmos a memória do John e tê-lo sempre presente em nossas lembranças, é continuarmos contribuindo com nossas pesquisas, reflexões e publicações sobre a história indígena e os índios na História, em que o John será sempre a nossa referência pelo seu pioneirismo, apoio e criatividade.
Resta-nos serenar nesse momento e transmitir nossa solidariedade a família, amigos e colegas, consternados com tão triste notícia!
 

Rosário Carvalho-UFBA

26 de Março

Recebi um e-mail comunicando o falecimento de John Monteiro, ontem, em acidente de carro. Lembro que ele fazia o percurso Campinas/São Paulo diariamente. Estou desoladíssima. É uma imensa perda, pessoal e profissional. Solidarizo-me com a comunidade universitária de Campinas, notadamente o sue corpo discente.
 

José Maurício Arruti-UNICAMP

John Manuel Monteiro (1956-2013) 
 
Não fui orientando do John, nem nunca tive aulas com ele. Em princípio, não faço parte da “linhagem” – nas suas próprias palavras – que ele vinha criando na UNICAMP, cuja marca é uma abordagem histórica e política da etnologia, indígena e outras. Apesar disso, e da sua insistência em me tratar como um igual, sinto com relação a ele o tipo de dívida amorosa que se estabelece com os mestres. 
Foi dele o meu primeiro convite para participar em um GT da ANPOCS, assim como foi dele o meu primeiro convite para uma banca de doutorado. Ele foi um leitor generoso em minha banca de doutorado e fez um prefácio ainda mais generoso para o livro que resultou dela. Em pouco tempo a sua erudição - por vezes surpreendente -, a sua capacidade de olhar para além dos limites disciplinares, o seu modo franco e transparente de se posicionar politicamente, assim como a sua capacidade de circular pelos mais diversos grupos – acadêmicos ou não – foram definindo para mim um modelo desejável de intelectual. 
No último ano, porém, nos transformamos em colegas de departamento e, imediatamente a seguir, em parceiros. Muitos projetos brotaram de imediato, como se eles já existissem em algum lugar, apenas a espera da coabitação acadêmica. 
 
Agora será necessário inventar o futuro mais uma vez.
 
A surpresa e o sofrimento pela morte de uma pessoa boa e de um amigo querido vêm acompanhadas, para nós, seus colegas de UNICAMP, do desamparo produzido pelo abrupto desaparecimento de uma pessoa que era importante e mesmo central de muitas formas, seja em nosso cotidiano ou em nossos projetos de futuro. No departamento de Antropologia e, deste o final do ano passado, na direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, a sua presença proporcionava a tranquilidade que os contextos exasperados por disputas de todo tipo nos exigem. 
 
À dor soma-se o sentimento de uma responsabilidade que parece nos ultrapassar.
 
Por fim, se sua produção acadêmica foi precipitadamente transformada em obra, pelos limites impostos injusta e arbitrariamente por sua morte, a sua memória inspira um sentido ético do trabalho intelectual que permanecerá em aberto, a nos inspirar.
 

José Ribamar Bessa Freire-UERJ

JOHN, UM NEGRO DA TERRA
 
31/03/2013 - Diário do Amazonas
 
Ele nasceu, em 1956, nos Estados Unidos. Era americano. Portanto tinha, inapelavelmente, que se chamar William ou John. Ficou John. Mas por ser filho de português, seu destino era ser registrado como Manuel ou Joaquim. Acabou herdando o Manuel do pai. E foi com esse nome composto - John Manuel - que veio de mala, cuia e Machado para o Brasil, onde criou raízes, filhos, livros e deixou marcas.
Aqui deu aulas, palestras e conferências, organizou eventos, iniciou estudantes na pesquisa, formou mestres e doutores, fez discípulos, vasculhou arquivos, pesquisou, escreveu, publicou, amou e foi amado, apaixonou-se pela história indígena, abrasileirou-se e transfigurou-se em negro da terra, termo consagrado em um de seus livros sobre índios e bandeirantes.
Foi ironicamente na Rodovia Bandeirantes, em Campinas, na terça-feira, que um táxi desgovernado chocou o carro dirigido por John, eliminando um dos expoentes da história indígena. Ele morreu no local, aos 56 anos, no auge de sua vida intelectual, vítima da guerra absurda do trânsito, que no Brasil mata anualmente mais do que qualquer guerra civil. Na última quinta-feira, 28 de março, depois de velado no salão da biblioteca, na Unicamp, foi levado para o Crematório na Vila Alpina, em São Paulo.
Índios e bandeirantes
O historiador John Manuel Monteiro era paulista, mas paulista de Saint Paul, Minnesota, onde nasceu. Lá, muitos moradores descendem de alemães e escandinavos, que migraram para os Estados Unidos no final do século XIX, encurralando a população nativa em reservas indígenas, que hoje sediam cassinos. Quando os portugueses e hispânicos chegaram, os índios já eram minoria discreta, mas capazes ainda de despertar o interesse de um pesquisador sensível e generoso como John, um paulistano de coração. 
Desde a graduação em história, no Colorado College (1974-78), ele vinha buscando entender o processo de colonização portuguesa nos trópicos, inicialmente em Goa, na Índia, e depois no Brasil. No mestrado (1979-1980), focou seu interesse sobre o Brasil Império, no século XIX, e finalmente no Doutorado (1980-1985) na mesma Universidade de Chicago, debruçou-se sobre a escravidão indígena, os bandeirantes e os guarani de São Paulo.
Quando o conheci, em 1992, apresentado por Manuela Carneiro da Cunha, ele trabalhava com ela num grande projeto interdisciplinar, de âmbito nacional, que procurava localizar, mapear e avaliar a documentação manuscrita sobre índios existente nos arquivos de todo o Brasil. Fui convocado para coordenar a equipe do Rio de Janeiro. Com John, entramos em cada um dos 25 grandes arquivos sediados no Rio. No final, ele organizou a publicação do Guia de Fontes para a História Indígena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros.
O objetivo do projeto era criar uma ferramenta para combater a cumplicidade da historiografia brasileira que "erradicou os índios da narrativa histórica" ou tentou "torná-los invisíveis". O Guia foi elaborado por equipes que reuniu mais de cem pesquisadores em todas as capitais do país, coordenados por John Monteiro. Localizou muitos documentos desconhecidos e até então inexplorados, criando as condições para "repensar, de forma crítica, tanto o passado quanto o futuro dos povos indígenas neste país". 
John Monteiro trazia considerável experiência em pesquisa documental nos arquivos das Américas, da Europa e da Índia. Publicou, em 1994, o livro seminal Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo. Lá, apoiado em farta documentação, redimensiona o papel dos índios na história de São Paulo e desconstrói a baboseira de que o bandeirante paulista contribuiu para alargar e povoar o território brasileiro. Recoloca na história do Brasil, como sujeito, o negro da terra ou gentio da terra, expressão usada para designar o índio escravizado.
Dança dos números
As pesquisas de John Monteiro fizeram uma revisão profunda do discurso sobre a "extinção", mostrando como as populações indígenas foram afetadas pelo colonialismo. Ele discute não apenas o declínio demográfico, mas também "os processos de recuperação e rearranjo das populações e das unidades políticas indígenas" no Brasil colonial. O artigo que publicou em 1994 - a Dança dos Números: a população indígena do Brasil desde 1500 - trabalha com a noção de etnocídio, a qual acrescentou posteriormente a de etnogênese.
Logo após a promulgação, em 2008, da Lei 11.645, que torna obrigatória a temática indígena em sala de aula, John Monteiro publicou o artigo Sangue Nativo na Revista de História, abordando a escravização dos índios no Brasil. Contribuiu, dois anos depois, com a produção de documentários "Histórias do Brasil', exibidos pela TV Brasil. Desta forma, sua produção acadêmica alcançou os professores da rede pública e privada de ensino e penetrou nas escolas. 
John Monteiro havia assumido recentemente a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Unicamp. É conhecido, admirado e querido em todo o Brasil, em cujas universidades seus livros são discutidos, mas também no exterior. Orientou e dirigiu pesquisas na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e foi professor em várias universidades americanas - Harvard, Michigan e North Carolina-Chapel Hill (1985-86), onde nasceu Thomas, seu filho com Maria Helena Machado, pesquisadora da USP e companheira de todas as horas. 
No Grupo de Trabalho Índios na História, que John Monteiro articulava, sua morte foi sentida e pranteada. Mensagens de todos os recantos circularam nas redes sociais, expressando sentimento de dor pela perda irreparável. A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a Associação Nacional de História (ANPUH), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), entre outras, manifestaram o pesar da comunidade acadêmica:
"À sua esposa Helena e aos filhos Álvaro e Thomas, e demais familiares, estendemos nosso conforto e afeto. John será sempre lembrado por nós" - finaliza a nota da ABA, expressando um sentimento generalizado.
Aqui, no Diário do Amazonas, registramos um adeus saudoso a John Monteiro, reproduzindo mensagem do antropólogo Carlos Alberto Dutra, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul: 
- Os povos indígenas perderam o historiador John Monteiro. Cientista social que sempre soube respeitá-los e traduzir para o mundo, para além das fronteiras da modernidade, suas lutas e seus direitos, pelos meandros da academia, seus livros e ensino. Que Ñhanderu o acolha e console seus admiradores pela perda.
 

Eduardo Natalino dos Santos-USP

Caros colegas,
 
Manifesto minha tristeza, meu pesar e minha solidariedade com a família e com os amigos do John por meio de um breve depoimento.
 
Conheci o John no começo dos anos 1990, em 1992 ou 1993, já não me lembro com precisão. Eu era um estudante iniciando a graduação em História e que havia começado a dar aulas na rede pública estadual de São Paulo. O John era o responsável por oficinas pedagógicas que ocorriam nas Delegacias de Ensino e eram direcionadas aos professores de História, para capacitá-los a lidar com a história ameríndia, pois, naquele então, o ensino de História da América havia passado a ocupar mais espaço no currículo escolar do Ensino Médio. Naquela época, eu, que começara o curso de História pensando em estudar o pensamento dos gregos antigos, nem sabia o que era história indígena e tive a felicidade de desfrutar desses encontros quinzenais com o prof. John, encontros preciosos pois, para mim, eram reveladores de temas e problemas relacionados a uma porção da humanidade que, até então, eu desconhecia profundamente. Tenho certeza que esse trabalho feito pelo John surtiu um efeito transformador não apenas em mim, mas em muito outros professores do ensino fundamental e médio. E relembrando esse trabalho, talvez um dos menos conhecidos na brilhante carreira do John, eu gostaria de deixar aqui minha homenagem emocionada ao querido colega, John Manuel Monteiro.
 

Heloisa Pontes-UNICAMP

 As coisas mais importantes sobre o John já foram ditas com emoção pelos seus orientandos, ex-alunos, colegas de profissão: a incrível capacidade de trabalho, a generosidade mesclada à simplicidade, a erudição historiográfica, o empenho na formação de um grupo notável de orientandos, o valor inestimável de seu legado, o sentimento de orfandade que tomou conta do IFCH, a falta que ele nos deixou. Fui sua colega de Departamento por muitos e muitos anos. Vibrei com seu concurso de professor titular, com o livro Negros da Terra, com seu comprometimento com a universidade brasileira, com a maneira impecável com que se expressava em sua segunda língua. Cristina Pompa se referia a ele como “chefe”, eu sempre o definia como um “scholar” no sentido preciso e intelectualmente generoso do termo. Soube da sua morte num café “wi-fi” em terras estrangeiras. Perdi o chão. E senti o mesmo que a Giovana Lopes, que também não estava aqui para dividir com os colegas, os amigos, os alunos, os funcionários do IFCH esta dor pela morte chocante do nosso querido John. A dádiva em relação a ele, no meu caso, passa há muitos anos pela minha querida ex-aluna e colega de profissão, Mariana Françoso, e vai continuar agora por intermédio do Vítor D’Ávila Teixeira. Acho que o John entenderia esse gesto como uma homenagem à linhagem incrível que ele deixou como um dos seus maiores legados.
 

Mark Harris-University of St. Andrews

"It has taken me a while to absorb John's tragic death. And I write still heavy with sadness. I did not know John very well personally. Since I starting working in the archives in 2003 John's work has been very close to me. In fact it has been a source of great enjoyment and strength. For like me, he worked in an anthropology department but principally wrote about historical topics. However sympathetic one's colleagues are to history in the abstract, there is no overcoming an institutional and practical divide. Bridging history and anthropology in John's way was compelling and exciting, and uniquely tuned to a sophisticated theoretical vision and methodological rigour. Lately he acted as a referee for an ethnohistorical project I submitted on the Amazon. The project was funded by the Leverhulme Trust so he must have written positively. The work has yet to start but I shall think of him a lot as the work is being done and what it owes to him. He was the very best of academic colleagues."
 
Atenciosamente, 
Mark
 

Sel Guanaes-UNILA

O  John entrou na Unicamp em 1994, se não me engano, ano em que cheguei  para continuar minha graduação (iniciada na UFBA), assim que entrei  virei monitora da Emília, que dividia sala com John. Achava ele bem  "americano" e metódico, eu, além de baiana, era cria do Carlos Rodrigues  Brandão, quase a antítese do John (em muitos sentidos), e claro, achava  muito estranho pessoas tão formais e contidas... me dava um certo  medo... mas foi assim, meio contido, tímido e bastante inseguro com o  começo da docência na Unicamp, que conheci John Monteiro, e durante  algum tempo essa era a imagem que eu tinha dele. No ano seguinte, 1995, e  depois em 1996, virei sua aluna, ai sim, tudo foi mudando... aquela  imagem do homem sério foi dando lugar à pessoa sorridente, amável,  generosa e muito atenta à todas as nossas banais necessidades. Tinha o  hábito de, muito sutilmente, perguntar sobre o seu desempenho como  professor, se a aula tinha sido boa ou não, como melhorar, e claro que  dava mil voltas para perguntar isso, tamanha sutileza... essa atitude  era ao mesmo tempo surpreendente e admirável para um professor da  Unicamp, claro que todos nós fomos nos encantando mais e mais com ele. E  foi assim, entre um sorriso tímido e outro, entre uma elegância, um  caráter e uma ética incontestáveis, que o IFCH, pouco a pouco, foi  nutrindo o seu amor pelo John Monteiro, e foi, nos últimos anos,  explicitamente, se rendendo a esse amor, ora se aglomerando em torno da  sua "linhagem", ora sonhando fazer parte dela. Depois disso, vocês todos  já sabem, ele se transformou nesse incrível intelectual, mestre e  pessoa humana que todos conhecemos. John nunca parou de crescer, de  expandir sua generosidade, seu afeto e sua competência e senso de  justiça pelo Instituto, não apenas sua produção refletia essa grandeza,  como as suas ações e os seus princípios. Li em alguns lugares que o John  se foi no auge da sua carreira, na minha 
opinião, o John já começou s
ua carreira pelo andar de cim
a,  na altura que só os grandes mestres conseguem estar e/ou alcançar, e eu  fui testemunha disso, porque ali, da nossa pequenez vinhamos o John  como a pessoa mais elevada do mundo, porque ele conseguia estar lá,  acima, e ao mesmo tempo, aqui, ao nosso lado.. e isso era incrível (!),  como podia nos cuidar lá do alto, com a sua imensa e elevada sabedoria, e  ao mesmo tempo, estender suas mãos afetuosas e sinceras para nós aqui  embaixo? Bom, agora ele está lá no alto mesmo e a sua preciosa linhagem,  por sorte minha, meus amig@s querid@s, agora terá a responsabilidade de  ser as mãos acolhedoras do John mundo afora. Muito, muito grata  professor John Monteiro por ter estado perto e ter se mantido divino  durante quase 20 anos, numa carreira, que agora sei, é tão ardilosa e  profana.