Os dois volumes que o IFCH em sua Coleção Trajetórias acaba de publicar é uma bela foto-grafia de uma socióloga singular. Maria Lygia Quartim de Moraes nos brinda com um amplo conjunto de reflexões que estampam seu labor intelectual, onde transparece, sempre, uma relação impregnada com sua atividade pública. Muito jovem, no calor da luta, Lygia ingressou na militância contra a Ditadura que quase dizimou uma geração inteira e sofreu a barbárie do terrorismo de estado. Como tantos e tantas de sua geração rebelde, externou sua revolta. Sofreu, perdeu entes queridos, exilou-se, mas nunca vergou nem se curvou. Voltou ao Brasil, reinseriu-se na universidade pública, retomou sua vida política – lutando pela recuperação da Memória em um país que gosta de borrá-la e de aviltá-la – e, para nossa sorte e felicidade, veio somar-se ao esforço crítico que sempre esteve presente em nosso IFCH, onde sua vida acadêmica floresceu ainda mais. Em todas as suas dimensões, vale dizer, onde simpatia, afeto e pessoalidade também se destacam. Estudiosa pioneira do feminismo, enfrentou debates espinhosos, sem jamais se envergonhar de seu marxismo, ao qual conferiu maior abertura. Sua produção marcante vivificou a teoria feminista ao lembrar que o gênero também tem classe. E essa densa reflexão poderá ser lida, em sua integralidade, nesta bela publicação.
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