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Nesta pesquisa, está em jogo a investigação da contribuição do pensamento político anticolonial de Frantz Fanon (1925-1961) para a reformulação da filosofia da educação de Paulo Freire (1921-1997). Tal investigação envolve tanto os escritos de Paulo Freire quanto a sua trajetória, as transformações do seu pensamento, suas experiências no Brasil e no Chile, as esperanças dissolvidas pelo golpe empresarial-militar e os novos desafios encontrados, alguns velhos dilemas também, a Guerra Fria, a dependência da América Latina, o subdesenvolvimento do Terceiro Mundo. Freire toma contato com o livro de Frantz Fanon, Os condenados da Terra (1961), em um momento de muita preocupação com os dilemas e desafios subjetivos envolvidos em transformações estruturais revolucionárias. Enfrentando problemas históricos concretos, os primeiros escritos de Freire, um pedagogo pernambuco exilado na capital chilena, refletem a busca por respostas emancipatórias para lidar sobretudo com esses aspectos subjetivos das transformações estruturais nas quais estava envolvido, quando formula a introdução de uma teoria político-pedagógica revolucionária, a Pedagogia do Oprimido (1968), que intencionava contribuir com outros processos políticos.
Esta dissertação nasce da inquietação sobre os motivos que levam mulheres jovens e sem filhos a buscarem a esterilização voluntária, apesar da ampla oferta de métodos contraceptivos reversíveis e eficientes. A pesquisa se constrói em diálogos profundos com 24 mulheres e pessoas não-binárias, todas entre 21 e 35 anos, que decidiram pela laqueadura. Cada uma dessas histórias foi analisada com a ajuda do software ATLAS.ti, resultando em 220 páginas de transcrições que revelam narrativas marcantes. O perfil dessas entrevistadas reflete um cenário socioeconômico peculiar: em sua maioria, são brancas, heterossexuais, com renda média de dois salários mínimos e formação superior. Mais de 75% optaram pela salpingectomia bilateral, mesmo que não haja dados conclusivos sobre sua eficácia contraceptiva. O que se destaca, no entanto, é a forte desconfiança em relação aos métodos hormonais. A laqueadura surge, para muitas, como um caminho de segurança, uma opção definitiva diante do temor constante de uma gravidez indesejada, num país onde o aborto é ainda criminalizado. A rejeição aos hormônios, alimentada por experiências frustrantes com contraceptivos e pela sensação de abandono por parte dos profissionais de saúde, também emerge como um tema recorrente. A decisão de realizar a laqueadura, portanto, ultrapassa a esfera do controle reprodutivo, envolvendo questões de poder, autonomia e o desejo de não depender mais de um sistema de saúde que parece falhar com elas.
O objetivo desta tese é responder a uma pergunta, embora outras duas estejam associadas a ela. Essas duas questões subsidiárias, inclusive, teceram a trama a compor nosso fio de Ariadne.
Vejamos, então, essas duas questões e como elas estão subordinadas ao nosso problema de pesquisa. Em primeiro lugar, como de fato devemos compreender o princípio do contexto? Essa
questão nos impôs duas linhas de investigação: uma primeira, mais genética, nos levou do Tractatus logico-philosophicus de Ludwig Wittgenstein para Die Grundlagen der Arithmetik de Gottlob Frege; ao passo que a segunda, mais interna, explorou funções e formulações desse princípio em cada uma dessas obras. Para essa segunda linha, recorremos a textos que orbitam em torno delas à guisa de prova, de sorte a revelar intenções de seus autores ao recorrer a tal princípio. No caso de Frege, como o Grundlagen é uma de suas primeiras publicações,acompanhamos desdobramento de sua obra. Já em Wittgenstein, nós fizemos o contrário e voltamo-nos para os textos que antecedem o Tractatus. Em razão dessa investigação, nós percebemos uma enorme semelhança, embora tenhamos igualmente notado algo que poderia ser um ponto de ruptura. Esse elemento nos levou à segunda questão: de fato, ambos conceberam o mesmo princípio? Questão que ganha relevância quando percebemos que Wittgenstein não manteve, no Tractatus, nada semelhante à noção de conceito em Frege. Ao explorar essa divergência, todavia, nos deparamos com algo ainda mais estranho, porquanto, nas duas obras em que podemos encontrar um princípio do contexto robusto, também encontramos um princípio da composicionalidade, o que nos levou ao nosso fio de Ariadne. Mesmo que nada pareça mais contraditório ao princípio do contexto que o princípio da composicionalidade, será que é possível enunciar ambos sem incorrer em contradição? Ou melhor, será que poderíamos, através de uma investigação sobre uma possível articulação, compreender melhor que funções verdadeiramente cumprem esses princípios, de modo a encontrar uma chave de leitura que se sobreponha às divisões exegéticas impostas pela fortuna crítica como, por exemplo, ocorre no Tractatus? Vejamos, então, o que esses princípios são e se é possível encontrar uma articulação, nessas obras, capaz de superar as contradições que, porventura, eles poderiam causar quando associados.
Partindo de entrevistas qualitativas e de uma etnografia conduzida na cidade de São Paulo, a presente dissertação tem como objetivo compreender, a partir das narrativas de jovens trabalhadores e trabalhadoras em situação de desemprego, de que maneira suas percepções em mundo do trabalho precário se relacionam, ou não, com a tendência ideológica do neoliberalismo em individualizar problemas estruturais ao capitalismo. Considerando a etnografia feita ao longo de seis meses no Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (CATE), também foi problematizada a virada neoliberal em uma instituição pública do município paulista, que passou a impulsionar valores e recursos intimamente ligados a questão do empreendedorismo, ao “auto emprego” e a auxílios voltados ao chamado Microempreendedor Individual (MEI). Não obstante, as entrevistas realizadas com jovens que frequentam o Centro, revelam uma discrepância entre suas expectativas por trabalhos estáveis e a virada neoliberal atualmente em curso, de tal forma que os resultados dessa pesquisa enfatizam a necessidade de se considerar as experiências dos sujeitos como sendo capazes de suscitar distintas consciências sobre suas condições sociais e ambições futuras. Por fim, foi dada especial atenção ao tema do empreendedorismo, chegando à conclusão que, antes de ser uma alternativa plenamente almejada, a possibilidade de empreender surge como último recurso aos trabalhadores diante de um mundo do trabalho sob ruínas da precarização e, no caso do Brasil, com histórica ausência de auxílios sociais consequentes. Por fim, concluo que a virada neoliberal no CATE e as diferentes maneiras como os trabalhadores mobilizam suas narrativas acerca da exploração do trabalho, empreendedorismo, autonomia e informalidade, nos revelam que a atual face do neoliberalismo, para além de simples ideologia, se comporta enquanto hegemonia, mas uma hegemonia com rachaduras e fendas, que podem ser restauradas ou efetivamente rasgadas diante das múltiplas, ainda que contraditórias, agências daqueles que lutam e se viram, diariamente, para sobreviver.
A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV/Aids (PrEP) é a mais nova estratégia com a promessa de diminuir os novos casos de infecção pelo vírus da aids. Desde 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda seguramente a eficácia da PrEP e incentiva a implementação de políticas locais da profilaxia para populações-chave, buscando se referir às populações prioritárias que são afetadas desproporcionalmente pela epidemia de hiv/aids.
A partir da etnografia de um Centro de Referência de Campinas/SP, esta pesquisa se debruça em compreender como o manejo clínico da PrEP no SUS, iluminam as formas contemporâneas de gestão de populações, neste casos aquelas sob as categorias risco e vulnerabilidade ao hiv/aids. A partir da história conceitual do risco e da vulnerabilidade, mobilizados pelos saberes biomédicos e dos diversos documentos que compõem a PrEP, compreendidos aqui como artefatos etnográficos, esta pesquisa se ampara nas reflexões da Antropologia das práticas e processos estatais, a partir das fichas, exames, questionários e aquilo que irá compor a dinâmica de circunscrição de populações elegíveis para a PrEP.