O campo das Ciências Humanas tem avançado de maneira significativa na utilização de metodologias de análise e de ensino. Com a evolução da tecnologia é possível agregar um grande universo de informações e refinar os mecanismos de coleta e análise de dados. Novas ferramentas permitem a coleta e o cruzamento de dados com velocidade e precisão impensáveis há 20 anos. Para desenvolverem seus trabalhos, pesquisadores das distintas áreas das ciências humanas atualizam constantemente métodos clássicos de análise, mas também, de modo criativo, criam novas maneiras de compreensão da realidade social. Dada a necessidade de formar pesquisadores conectados com técnicas avançadas de pesquisa, os programas de pós-graduação do IFCH propõem um projeto em metodologia em Ciências Humanas voltado à pesquisa e ensino. O projeto foca em metodologias qualitativas e quantitativas e tem um formato multidisciplinar de abordagem envolvendo dez PPGs do Instituto. A estrutura do projeto permite que cada técnica possa ser explorada transversalmente, contribuindo para a formação de pesquisadores e oferecendo a oportunidade do aprendizado de técnicas inovadoras com ampla aplicação nas diversas áreas das Ciências Humanas. As metodologias multidisciplinares visam também o aperfeiçoamento do ensino em nível superior e, principalmente, possibilitar o acesso da sociedade aos resultados das pesquisas da universidade, atentando ao diálogo com a formação de professores, aos desafios da Educação Básica e à necessidade de falar a públicos cada vez mais amplos. Ainda, o projeto permitirá que se estabeleçam redes internacionais de pesquisadores potencializando o processo de internacionalização das ciências humanas brasileiras, estimulando colaborações internacionais, dando visibilidade à pesquisa e aos programas de pós-graduação do IFCH/Unicamp e possibilitando a consolidação internacional de centros e núcleos de pesquisa já existentes no instituto. Inicialmente propomos o aprofundamento de metodologias tais como: Análise Histórica dos Eventos, Fontes e Arquivos, História Pública e História Digital, Projeções Populacionais, Análise Multinível aplicada às Ciências Humanas, Análise Qualitativa e Métodos Mistos, Teoria de jogos, Experimentos em Ciências Sociais, Etnografia Digital, Etnografia de imagens e grafias, Etnografia em arquivos e Redes de Parentesco.
Dada sua centralidade contemporânea, o tema da diferença em articulações com a produção de desigualdades e de diversidade atravessa pesquisas de distintas tradições disciplinares nas Ciências Sociais, possibilitando diálogo interdisciplinar e poderosa interlocução internacional. Tradicionalmente, o tema das desigualdades nas Ciências Sociais congregou estudos sobre trabalho, classes sociais e Estado, em investigações voltadas para a compreensão das relações de trabalho no país, dos seus processos de transformação e das políticas que os acompanham. Os aspectos relacionados ao desenvolvimento econômico e social no país, levando em conta também a América Latina e o modo como a região se articula com mudanças globais no que concerne ao trabalho, também ganharam relevância no debate sobre as desigualdades. Os estudos sobre raça e etnia seguiram centrais nesse debate, assim como o estudo da participação política e ação coletiva ocupou lugar fundamental na compreensão das dinâmicas sociais em torno das relações de trabalho e da organização das classes sociais no Brasil, expressando-se nas investigações sobre movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos etc. Nas últimas décadas, o interesse pelo trabalho e pelas classes sociais como estruturantes do mundo social – e, portanto, das desigualdades que engendram – tem dividido espaço com as relações que envolvem gênero, sexualidade, geração (juventude e envelhecimento), relações sociais racializadas, etnicidade, nacionalidade, pensamento social como categorias concernentes à produção de diferença e que operam em articulação. O debate sobre preconceito, violência e discriminação é também incorporado, bem como a análise das políticas aí implicadas e dos processos de produção de sujeitos e categorias. Para além disso, a discussão sobre desigualdades sociais tem sido acompanhada de perspectivas teóricas voltadas para a compreensão da diversidade social e cultural. Nesse contexto, tem se colocado em questão a própria produção de conhecimento, o papel dos intelectuais, os conflitos entre diferentes visões de mundo e as relações entre natureza, cultura e tecnologia em análises sobre o conflito em contextos indígenas, contextos rurais e urbanos. O tema da diferença conjugado ao modo como produz desigualdades e diversidade envolve a um só tempo processos nas mais diferentes escalas, os quais dificilmente poderiam ser compreendidos sem a adoção de uma perspectiva internacional de pesquisa.
O mundo contemporâneo apresenta desafios para as ciências humanas, como a emergência de novos atores sociais que, justamente, reivindicam a inclusão de suas narrativas e experiências no debate acadêmico. Dentro deste panorama, a interculturalidade tem um papel central, seja para lidar com essas novas realidades, seja para reinterpretar o passado através de uma ótica nova, isto é, repensar a História em termos de interações culturais. Peter Burke, em um livro recente sobre hibridismo cultural (Hybrid Renaissance, 2016), fala precisamente sobre o conceito de ‘displacement’ como uma das principais ferramentas de inovação. Ao deslocarmos conceitos, pessoas ou tradições, surgem novas ideias e perspectivas analíticas. Trabalhar com o conceito de redes de interação nos permite lidar com dois problemas centrais no estudo da História: as relações entre mudança e continuidade e entre grupos diferentes, sejam eles distintos por etnicidades, pela geografia, por condições sociais ou até por gerações. Tal proposta apresenta também uma inflexão na questão do ensino, seja na formação de docentes pesquisadores no nível superior, seja no impacto sobre a Educação Básica e na comunicação com públicos mais amplos (história pública, extensão para espaços de ensino não-formais, alcance para a população de modo geral). O projeto prevê, então, por um lado, financiar pesquisas que tenham seu foco em temas relacionados a interações culturais, à circulação de pessoas, ideias e objetos, bem como a circulação e debate entre disciplinas. Por outro lado, pretende-se investir em uma maior interação de seus participantes com instituições estrangeiras, fazendo da interculturalidade não só um tema de pesquisa, mas também uma política acadêmica. O departamento de História, que hoje conta dois programas de pós-graduação (o ProfHistória e o PPG em História), desde sua fundação deu origem a diversos grupos de pesquisa que regularmente geram projetos temáticos e obtêm financiamentos junto à FAPESP e ao CNPq , tendo na interação internacional um de seus eixos centrais. Seguindo essa tradição, serão, assim, aproveitados convênios e colaborações já ativos ou em elaboração e, concomitantemente, buscaremos novas oportunidades de cooperação internacional. Neste sentido, bolsas e financiamentos que permitam o deslocamento de pesquisadores e alunos para missões e estágios em diferentes universidades serão fundamentais para o bom desenvolvimento do projeto.
Este projeto integra pesquisas em andamento no PPG em Filosofia. O objetivo é investigar transformações da Filosofia em sua história, ou seja, a identidade ou permanência do projeto da Filosofia ao longo do tempo e seu lugar na ordem dos saberes em diferentes culturas. Estrutura-se em três marcos conceituais: (a) Metafísica, Predicação e Filosofia da Natureza em Aristóteles e sua recepção. Abrange a História da Filosofia Antiga, dedicada a autores clássicos da Filosofia Grega, e investiga, com o auxílio da análise filológica do texto grego, temas filosóficos fundamentais em torno dos quais se organiza a filosofia do período. Trata, na História da Filosofia Medieval, da recepção da antiguidade filosófica, com ênfase para o período da Escola de Alexandria e os séculos XIII e XIV, tratando especialmente da filosofia de língua latina e árabe. Por fim, alcança o início da História da Filosofia Moderna, o que compreende os séculos XVI e XVII, com ênfase para a tradição racionalista continental e o empirismo. b) A herança histórica da Ética e do pensamento político contemporâneo. Abrange a investigação sistemática de temas clássicos de Filosofia Prática. Prioriza as relações entre Ética e Política e sua referência à categoria de Estado. Abrange a Teoria do Estado, do Direito e da Democracia, tomando como partida os conceitos de soberania popular e de representação como categorias fundantes da democracia contemporânea. Investiga-se as contradições e complementaridades entre estas categorias, as referências aos direitos humanos e a revisão das doutrinas democrático-liberais, e a atualização da Filosofia Prática nos debates contemporâneos. (c) Lógica e linguagem. Abrange Linguagem, Epistemologia, e Fundamentos das Ciências Formais. Investiga-se a aplicação da teoria dos atos ilocucionários desenvolvida no séc. XX. Tem-se como hipótese que atos linguísticos desempenham papel pouco reconhecido na montagem do arsenal teórico da matemática, com possíveis implicações para a ontologia. Investiga-se a aplicação da lógica ao problema do conhecimento, com atenção para a análise das noções de crença e conhecimento feita por meio da lógica modal. Investiga-se a conexão entre lógica e teoria das probabilidades, ferramentas no estudo formal do raciocínio aplicadas em filosofia, inteligência artificial, matemática e ciência cognitiva. Por fim, desenvolve-se a área de fundamentos das ciências formais, combinando lógica com teoria das probabilidades, buscando generalização comum.
As transformações sociais e econômicas globais verificadas nos últimos anos resultam de processos históricos que não podem ser negligenciados. No caso específico do Brasil, tais transformações refletem uma intensa desigualdade na conformação de sua sociedade e nas dinâmicas demográficas dos seus distintos segmentos populacionais, vivenciada ao longo de sua história. As investigações buscam não apenas mapear as desigualdades, no passado e no presente, e suas interfaces com a dinâmica demográfica como propor recomendações para políticas públicas de enfrentamento do problema.
A partir do campo de estudos das relações entre população e ambiente, em termos gerais, será considerada a dimensão socioespacial do processo de urbanização, assim como as relações que se estabelecem entre o rural e o urbano, através de comparações de situações nacionais e internacionais, principalmente nas Américas. Especificamente, serão trabalhados temas como desastres socialmente construídos, vulnerabilidade sociodemográfica, percepções e atitudes frente a questões ambientais, considerando o contexto no qual as mudanças e variações climáticas ganham cada vez mais importância.
Sob a perspectiva da redistribuição espacial da população serão tratadas as diferentes modalidades migratórias presentes nas migrações internacionais, incluindo refúgio, migração qualificada, de retorno, ambiental, no contexto dos processos migratórios Sul-Sul; e, de outro lado, as especificidades demográficas desses fluxos, incluindo gênero, raça/cor e grupo social.
Vale ressaltar que transformações econômicas e sociais são, ao mesmo tempo, responsáveis pela produção de riqueza e, contraditoriamente, também pela ampliação das desigualdades sociais. Independentemente do pertencimento social dos indivíduos, as relações familiares, em particular, e de parentesco, de um modo geral, são responsáveis por vínculos sociais estruturantes. Como nexos fundamentais na vida social, cabe indagar que papel desempenham na mitigação dos efeitos das desigualdades ou de seu agravamento ou acentuação. Alguns elementos são particularmente relevantes: diferenciais na fecundidade, as relações e hierarquias de gênero e sua articulação com as características e hierarquias de idade ou geração.
Como as desigualdades reverberam no campo da saúde, morbidade, mortalidade e envelhecimento é outra frente promissora desse projeto.
A noção de ‘democracia’, sua trajetória como conceito e modelo social, e o fluxo de ideias e conceitos que a acompanham, assim como os desdobramentos concretos na vida social dos processos democráticos, são hoje um dos grandes temas das ciências humanas e sociais. Da perspectiva da Ciência Política, o avanço no número de Estados democráticos com a terceira onda de redemocratização impulsionou os estudos dos tipos de regime, de suas instituições, das condições que permitiriam aos Estados se consolidarem como democracias, a necessidade de aprofundamento das relações democráticas no interior dos Estados e entre Estados. Ainda, o avanço numérico dos Estados democráticos vem cercado de expectativas no tocante às diversas esferas da vida social, que podem ser resumidas na ideia de que teríamos um mundo mais justo, mais igual, mais inclusivo. A dinâmica política das democracias enfrenta obstáculos diante das disparidades de poder político e econômico entre Estados e a dinâmica do sistema internacional, no qual os Estados Unidos exercem papel estruturante. Embora avanços ocorridos no final do século XX e início do século XXI, como na questão de direitos sociais, esses não foram sem contradições. A mais patente é aquela entre o ideal democrático e a democracia representativa ou democracia liberal. Temos Estados democráticos com políticas sociais mais inclusivas, mas sem a igualdade de fato entre os cidadãos e isto se revela em termos econômicos, políticos, sociais e culturais. Estas contradições são matéria-prima fundamental para estudos de cunho sociológico ou antropológico. Os avanços no reconhecimento da diversidade em diversos contextos nacionais, que permitiram tanto o reconhecimento dos territórios étnicos e de populações tradicionais quanto às políticas afirmativas de corte étnico-racial e de diversidade sexual e de gênero foram parte fundamental de processos democráticos recentes, e hoje em dia se veem sob tensões sociais que colocam dilemas para a democracia. No interior de um quadro mais amplo de Estados-nação, principalmente países da América Latina se destacam ainda pelo modo precário que a memória dos crimes de Estado vem sendo abordada, com revisões tímidas e até mesmo saudosismos dos regimes militares em contextos de ascensão de ideologias fascistas, que tem ganhado votos e alcançado cadeiras nos parlamentos. O recorte internacional se impõe pela própria temática que é melhor compreendida a partir de um olhar multidisciplinar comparativo.
Trata das dimensões humanas e ecológicas das mudanças ambientais multiescalares (local, regional e global) que envolvem as mudanças climáticas, as tecnologias alternativas e as fontes renováveis de energia e o consumo sustentável. As dimensões humanas das mudanças ambientais envolvem uma multitude de variáveis e métodos analíticos. Há que se considerar o histórico das mudanças na qual a atividade ou ação humana tem efeito direto e indireto sobre o funcionamento dos ecossistemas. Ademais, analisar o comportamento dos indivíduos e das coletividades com relação aos ambientes em que vivem ou com os quais interagem são fundamentais para entender as mudanças nas paisagens rurais ou urbanas. E como os tomadores de decisão - via políticas públicas - agem diante da mudança acelerada do clima, do descarte inadequado do lixo e resíduos, do desmatamento e do processo de urbanização acelerado e descontrolado, dos desafios de produção de alimentos e commodities simultâneas à garantia da segurança alimentar. As dimensões ecológicas tem o intuito de contribuir para a compreensão das mudanças na paisagem – formas de uso da terra e a dinâmica da cobertura vegetal -, da concentração de gases de efeito estufa (CO2, CH4, N2O, etc) e da perda e conservação da biodiversidade, entre outros processos ecológicos de relevância para a elucidação das mudanças ambientais e, em especial, mudança climática. Entre as ferramentas de análises multitemporal e multiespacial, usar-se-ão geotecnologias, análise de redes sociais e agent-based models, análise institucional e análise de cenários. Em suma, este projeto envolve a análise dos desafios da governança ambiental multiescalar (global, nacional e local), a qual abrangem os processos de restauração dos ambientes degradados, seja via restauração florestal ou recuperação hídrica, novas fontes de energia de impacto ambiental reduzido, a co-produção de conhecimentos entre os vários atores sociais e análise das políticas públicas. Muitos professores e seus respectivos orientandos estão envolvidos nas temáticas deste projeto em cooperação com instituições internacionais e outros estão em processo de selar essas cooperações em projetos vindouros.
A sustentabilidade em suas várias dimensões requer um esforço multi e interdisciplinar para enfrentar os desafios da acelerada mudança ambiental e também social. Em sua dimensão humana-social, engloba questões pertinentes às dinâmicas demográficas, aos patrimônios e recursos naturais, aos saberes e memórias das pessoas em interação com os sistemas naturais. Na dimensão político-institucional, envolvem os processos de governança ambiental e territorial que perpassam os aspectos políticos e institucionais e a produção de conhecimentos múltiplos. A dimensão econômica analisa as externalidades das mudanças ambientais e as novas tecnologias que promovam uma economia de baixo carbono – tecnologias verdes, energias renováveis, etc -, e que primam pela qualidade de vida dos cidadãos e com respeito aos demais seres vivos presentes nas paisagens rurais e urbanas. Portanto, atingir a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões é um desafio que demanda tecnologias e métodos inovadores para enfrentar a problemática ambiental no século XXI. O corpo docente e discente do Programa em Ambiente e Sociedade estão intensivamente envolvidos com essa missão de buscar a sustentabilidade através de ferramentas inovadoras e em cooperação com parceiros internacionais já em desenvolvimento e outros em processo de construção em projetos vindouros.