Biblioteca recebe a exposição fotográfica Visualidades do Patrimônio Industrial

Data da publicação: sex, 14/02/2020 - 09h31min

A Biblioteca Octavio Ianni do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp inaugurou nesta terça-feira (10/12) a exposição fotográfica Visualidades do Patrimônio Industrial. A mostra faz parte da programação do I Encontro Nacional Arte e Patrimônio Industrial. A mostra fica em cartaz no hall da biblioteca até janeiro.

Organizada pela professora Cristina Meneguello e pela doutoranda Elisa Pomari, a exposição traz uma série de reproduções de fotografias registradas ao longo do século XX das plantas industriais das empresas ligadas ao Grupo Votorantim, registrando a arquitetura, maquinário e as pessoas, e fazem parte do acervo do projeto Memória Votorantim.

"Algumas dessas imagens foram produzidas para as fábricas do grupo, outras foram recolhidas quando as fábricas foram adquiridas, e algumas foram coletadas de funcionários. São imagens para catalógos industriais, feiras e eventos específicos", explica a curadora Elisa Pomari. "São imagens que contam um pouco da fotografia industrial com aspectos diferentes, com fotografias de grandes artistas e de anônimos. Algumas fotografias apesar de estar observando temas industrias buscam uma forma poética, outras são mais protocolares. São registros do trabalho que buscam um outro olhar. É memória do trabalho, da industria e dos trabalhadores ao mesmo tempo".

 

A fotografia é, simultaneamente, um objeto de memória que traz em sua dimensão material as marcas de sua produção, usos e circulação; um registro com intenção de documentação histórica; uma prática social e uma manifestação artística.

Em todos esses sentidos, a fotografia foi amplamente utilizada como forma de registro de atividades econômicas e do mundo do trabalho. A partir do momento em que as condições técnicas possibilitaram sua reprodutibilidade, as imagens fotográficas começaram a substituir as gravuras em diversas publicações como catálogos de exposições universais, boletins e relatórios de órgãos e agências governamentais ou industriais. Em álbuns comemorativos e catálogos, encomendados por industriais ou companhias, registraram a força de trabalho à frente dos edifícios industriais ou em simulações das etapas da produção com os operários e operárias performando poses ao lado de seus instrumentos de trabalho. Documentaram as paisagens industriais massivas em contraponto à pequenez do corpo do homem e os detalhes arquitetônicos e técnicos dos edifícios e suas máquinas, na mesma medida em que registraram momentos de lazer operário em clubes, recitais de fim de ano, jogos de futebol entre clubes de empresas. As fotografias do trabalho compõem um rico acervo, espalhado em arquivos públicos e privados, que abrem a perspectiva para novas e necessárias pesquisas.

As imagens desta pequena exposição são reproduções - gentilmente cedidas pelo Centro de Memória Votorantim - de fotografias pertencentes ao setor de guarda e preservação da documentação que remonta ao início das atividades da então empresa familiar na década de 1910. Este acervo iconográfico foi construído a partir da coleta, identificação e catalogação de fotografias encontradas nas diversas fábricas e empresas que hoje pertencem ao grupo, na documentação oficial de catálogos e fotografias encomendadas a estúdios e fotógrafos, assim como na doação de antigos funcionários e familiares. Dessa forma, como acontece frequentemente com documentação dessa natureza, as informações originais sobre o registro podem ser lacunares e, em alguns casos, perderam-se por completo. O acervo geral reúne a obra de fotógrafos amadores, funcionários que doaram seus registros e fotógrafos artífices, que trabalhavam em estúdios ou foram pontualmente contratados. Além deles, foram contratados para registrar aspectos da empresa importantes fotógrafos, como Hans Flieg, grande nome da fotografia industrial, arquitetônica e publicitária da segunda metade do século XX, e Theodor Preising, cujo trabalho circulou por publicações comerciais e oficiais na primeira metade do mesmo século.

Hans Günter Flieg (1923) veio da Alemanha para São Paulo ainda jovem, ao final dos anos de 1930, e tornou-se um dos fotógrafos de maior renome com imagens de publicidade e arquitetura, contratado por diversas empresas. Sua obra, hoje, integra o acervo do Instituto Moreira Salles. As imagens presentes na exposição fazem parte de um extenso registro fotográfico encomendado pela Companhia Brasileira de Alumínio, CBA, realizado nas décadas de 1960 e 1970.

Theodor Preising (1883-1962), também alemão radicado em são Paulo, dedicou-se ao registro das atividades econômicas do estado. Um dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, em 1937, Preising foi nomeado como fotógrafo do Departamento de Propaganda e Publicidade do Estado de São Paulo em 1938. Suas imagens sobre São Paulo tiveram significativa circulação, foram publicadas em jornais e revistas nacionais e internacionais além de terem sido expostas nos fotomurais do Departamento Nacional do Café, no Pavilhão do Brasil da Feira Mundial de Nova York (1930-1940).

Nas imagens escolhidas para a exposição “Visualidades do Patrimônio Industrial”, optamos por mesclar as imagens anônimas às célebres em busca de uma visualidade mais ampla do trabalho e suas manifestações. Nelas  é possível observar características tradicionais da fotografia que registra o trabalho e seus espaços, como a preocupação em mostrar as características técnicas das fábricas, tais como sua matriz energética e potência, modernidade e quantidade de maquinário, além da grandeza e logística de suas instalações; a exibição dos produtos em sua qualidade e variedade; e a eloquência da expressão numérica ou individualizada dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, surgem registros menos tradicionais e um tanto quanto inesperados. Nessas fotografias somos surpreendidos pela informalidade nas poses de adultos e crianças, em meio ao cotidiano fabril; ou pelos ângulos inusitados nos quais os fotógrafos buscaram registros não ortodoxos ou poéticos em meio à monotonia e repetição das rotinas de trabalho, máquinas e mercadoria.

Cristina Meneguello e Elisa Pomari

 

Agradecimentos:

Essa exposição foi possível graças ao auxílio de Tânia Lima Ribeiro e Marcus Borgonove, do Memória Votorantim, São Paulo. Apoio: Programa de Pós-Graduação em História/ Área de Política, Memória e Cidade/ Linha Cultural Visual, História Intelectual e Patrimônios; PROEX; Secretaria de Eventos e Biblioteca do IFCH.