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Frente a acontecimentos, como o reconhecimento da capoeira como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2014 e, antes, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2008, que tendem a difundir a capoeira mundo afora, torna-se importante aprofundar os estudos que abordam os sujeitos sociais envolvidos com a produção e a transmissão desta prática cultural. Assim, tomo como foco da análise desta pesquisa a trajetória de vida de Mestre Cláudio Costa (1967-), natural de Feira de Santana, na Bahia, onde fundou a escola de capoeira Angoleiros do Sertão, na década de 1990. É objetivo central desta tese desenvolver uma etnobiografia do percurso biográfico deste capoeirista angoleiro no período de 1980 a 2000, que compreende os momentos de seu reconhecimento social à condição de mestre de capoeira, bem como da criação e atuação de sua escola de capoeira angola. Apresento uma reflexão sobre como a trajetória pessoal de Mestre Cláudio ilumina processos históricos e simbólicos da capoeira no sertão baiano, revelando a cidade de Feira de Santana como um espaço dinâmico de produção cultural, em contraste com narrativas hegemônicas centradas em Salvador.
O fio condutor que permeia essa tese é a realização de uma leitura sobre a conversão da autoridade em autoritarismo, mediada pela psicanálise e sua herança, tal como desenvolvida pela Teoria Crítica. A questão geral de pesquisa com a qual nos defrontamos é: como a autoridade, que em si não constituiria problema, se transforma em autoritarismo? E quais as manifestações atuais dessa problemática? Além de pensar metodologicamente a partir da perspectiva epistemológica do materialismo dialético interdisciplinar, o necessário abarcar do recurso dialético implica a união à crítica imanente, conforme acordado por Adorno. Como ponto de partida, situamos Freud como pensador de uma “psicanálise sociopolítica”, o que nos auxilia no passo seguinte, de redigir sobre a autoridade que se converte em autoritarismo pela esteira de escritos da Teoria Crítica primeva para, depois, expor o pensamento de autores atuais sobre o tema. Além da introdução e da conclusão, a tese é apresentada em três capítulos centrais, estando assim disposta: (a) na introdução apresentamos um memorial, a justificativa e originalidade da pesquisa, bem como a perspectiva metodológica do estudo; (b) no primeiro capítulo, compomos uma fundamentação do que qualificamos como “psicanálise sociopolítica”, em que realizamos uma incursão por textos de Freud considerados de cunho social, os quais fundamentam os autores da Teoria Crítica, situando o supereu (Überich) como conceito central; (c) no segundo capítulo, analisamos alguns conceitos/categorias presentes nas leituras de Max Horkheimer e de Theodor Adorno a partir do contexto histórico de sua época; elas são mediadas por ideias de outros autores da primeira geração, como Walter Benjamin, Erich Fromm e Herbert Marcuse, cujo intuito é verificar especificidades, semelhanças e diferenças no que tange ao tema, levando em conta elaborações fundamentadas na psicanálise; em consequência, alcançamos o conceito de “supereu social”, propondo contribuições que avancem teoricamente em relação às análises no terreno do supereu (Überich) a partir da Teoria Crítica; por fim, (d) ao terceiro capítulo reservamos um apanhado sobre caminhos que têm sido percorridos para deslindar o tema na Teoria Crítica de hoje, também considerando a apropriação da psicanálise, naquilo que contribui para análises do papel do supereu que, então, é adjetivado para fins de nosso estudo, primeiramente como “supereu social total” que, depois, passa a ser acrescido do termo “tupiniquim”, quando debatemos dois exemplos das manifestações da personalidade autoritária neoliberal no Brasil.
Esta dissertação analisa os processos de arquivamento de estudos de tombamento no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT) entre 1982 e 2020, investigando como esses arquivamentos participam ativamente da construção da memória oficial através da produção do "não-patrimônios". A pesquisa parte do pressuposto de que o arquivamento, longe de ser um mero procedimento burocrático, constitui um mecanismo fundamental das políticas patrimoniais, operando como contraponto à patrimonialização. Através da análise de três estudos de caso – o Cine Teatro de São Miguel Arcanjo, o Cine São Miguel em Garça e o Terreiro de Candomblé Santa Bárbara em São Paulo – a investigação examina os discursos, práticas e tensões que caracterizam o que denominamos "retórica do arquivamento". O objetivo central é compreender como os processos de despatrimonialização operam nas políticas culturais paulistas, identificando padrões, contradições e disputas que permeiam as decisões sobre o que não deve ser preservado. Metodologicamente, a pesquisa fundamenta-se na análise documental dos processos administrativos de tombamento arquivados, complementada por pesquisa bibliográfica sobre patrimônio cultural, memória e políticas públicas. Os resultados revelam que o arquivamento de processos de tombamento segue padrões recorrentes, incluindo: a prevalência de critérios técnicos sobre valores afetivos e memoriais; a transferência de responsabilidades entre diferentes instâncias administrativas e a descaracterização física como justificativa para a não-preservação. No caso dos cinemas de rua, observa-se como a despatrimonialização acompanhou transformações econômicas e culturais mais amplas, resultando no apagamento de importantes espaços de sociabilidade urbana. Já no caso do Terreiro de Candomblé, evidencia-se como as hierarquias culturais e raciais influenciam as decisões sobre o que constitui patrimônio, com a aceitação mais fácil do registro imaterial em contraste com a resistência ao tombamento material. A pesquisa conclui que a análise dos processos arquivados oferece uma perspectiva privilegiada para compreender as lógicas de exclusão que operam nas políticas patrimoniais. Ao visibilizar o "não-patrimônio", a dissertação contribui para uma compreensão mais crítica e abrangente das políticas de preservação, revelando como estas participam ativamente da construção de narrativas sobre identidade, memória e pertencimento.
A presente tese dedica-se à investigação de um problema teórico-clínico autoimposto por Jacques Lacan em seu ensino: a lógica da fantasia. Esse empreendimento adquire centralidade a partir do Seminário 14: A Lógica da Fantasia, no qual Lacan propõe uma estruturação formal através da escrita do matema ($◇a), articulando os operadores sujeito ($), punção (◇) e objeto a. A complexidade dessa proposta intensifica-se pelo entrelaçamento crítico com os fundamentos freudianos, revisitados por Lacan a partir de uma epistemologia heterogênea, ampliando os impasses em torno da sustentação teórica e da implicação clínica dessa lógica.
A partir desse campo de tensão, surgem os seguintes questionamentos: (1) De que lógica se trata? (2) Por que estabelecer tal lógica, quais seus limites e qual a importância teórica e clínica derivada desse empreendimento?
O objetivo central da tese é retraçar os fundamentos dessa lógica, explorando sua pertinência clínica e sua capacidade de articular e integrar eixos fundamentais da teoria lacaniana concernentes à fantasia — a saber: os processos de constituição do sujeito, as dinâmicas de alienação e repetição, e os efeitos próprios da práxis e do discurso analítico. Defende-se, assim, a hipótese de que a lógica da fantasia condensa esses três eixos — nos quais a fantasia é um operador fundamental — e que, em última instância, essa lógica expressa os processos de alienação e desalienação.
A tese organiza-se em três estádios interrelacionados, distribuídos em duas partes. O primeiro momento propõe uma genealogia da noção de fantasia, examinando as principais formulações na teoria psicanalítica e as críticas advindas da leitura lacaniana. O segundo momento é formal: dedica-se à análise da proposta lógica do matema, decorrente das críticas lacanianas. O terceiro momento é ético-político, abordando as implicações da lógica da fantasia no ato analítico, na ética e na política da psicanálise. Esses momentos, embora distintos, não se organizam de forma linear, entrecruzando-se ao longo do desenvolvimento da tese.
A primeira parte, intitulada Da pluralidade ao matema: por que elevar a fantasia à condição de estrutura?, justifica teórica e clinicamente o recurso à formalização, analisando o matema ($◇a) como proposta conceitual operatória. Essa elaboração é acompanhada por uma crítica à tendência de reduzir a fantasia à esfera do imaginário, comum em outras vertentes da psicanálise. A lógica da fantasia é concebida como um dispositivo teórico paradigmático, que permite apreender sua articulação com o real, o simbólico e o imaginário.
A segunda parte, Do esquema à pluralidade: fantasia, ato analítico e política da psicanálise, explora as implicações da lógica da fantasia na clínica e nos processos de subjetivação. Utilizam-se aqui formalizações lacanianas, vinhetas clínicas e referências literárias e cinematográficas. Propõe-se ainda o esquema a (esquema da alienação) como operador formal que articula: (1) a inscrição da fantasia nos registros RSI, distinguindo a perspectiva lacaniana de outras abordagens; (2) a permutação entre esquemas como estratégia para lidar com impasses conceituais no ensino de Lacan; (3) a articulação entre lógica da fantasia, ato analítico e ética da psicanálise, contemplando seus condicionantes políticos e epistêmicos.
Metodologicamente, a tese adota um percurso em espiral, atravessando diferentes momentos do ensino de Lacan sem restringir-se a um único período. Deliberadamente, não se avança sobre a formulação do nó borromeano, central nos anos 1970, concentrando-se em outras formalizações — esquemas, matemas, grafo do desejo — que operam como ferramentas teóricas fundamentais para a articulação proposta.
Observando o crescimento do streaming de música e explorando o funcionamento do seu principal representante – o Spotify – procuro argumentar que a música passa a exercer um papel num sistema muito mais amplo e complexo do que aquele restrito ao mercado fonográfico. A forma como o Spotify se estrutura e os agentes com os quais ele se conecta me fizeram notar que o consumo musical, neste contexto, representa algo até então inédito. A exposição deste processo, introduzida no primeiro capítulo, e alguns de seus efeitos, particularmente no que dizem respeito à relação que as pessoas estabelecem com esse tipo de consumo musical, é o que orienta a incursão feita pela presente pesquisa. A caracterização dos atores tradicionais e daqueles que passaram a fazer parte do mercado da música mais recentemente, configura um esforço em compreender as novas relações que se estabelecem com a música, dentre as quais se destacam aquelas referentes aos comportamentos de escuta. Com isso, a questão central deste trabalho surge da relação, que aqui se constrói, entre o serviço Spotify e o mapeamento das práticas e preferências culturais dos nossos entrevistados.