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Esta tese investiga a intersecção entre teologia, medicina, bioética e biodireito no discurso político do Vaticano, com foco em Karol Wojtyla (Papa João Paulo II), entre 1960 e 1995. Fundamenta-se no institucionalismo construtivista para analisar como ideias teológicas moldam o Posicionamento Institucional do Vaticano em questões como a pílula contraceptiva, a fertilização in vitro, o aborto e a eutanásia. Utiliza os conceitos analíticos de crença programática, empreendedorismo ideacional e bricolagem para explicar como a Igreja adapta e reinterpreta suas tradições frente aos desafios contemporâneos.
A metodologia combina rastreamento de processo e estudo de caso, permitindo uma análise detalhada das dinâmicas institucionais e históricas. O primeiro processo político aborda a integração da medicina na ética sexual católica nas décadas de 1950 e 1960, focando na disputa entre personalistas e tradicionalistas sobre a pílula contraceptiva. Nesse contexto, Wojtyla, então teólogo, mobiliza a bricolagem para reafirmar valores tradicionais em meio às intensas mudanças sociais. O segundo processo, compreendido entre 1970 e 1980, examina a oposição do Vaticano à fertilização in vitro e à bioética secular, com a formulação de uma bioética católica alinhada aos princípios doutrinários. O terceiro processo, entre 1980 e 1990, analisa o surgimento do biodireito, impulsionado por avanços tecnológicos e decisões judiciais, como Roe v. Wade, destacando a capacidade do Vaticano de articular um discurso adaptado às novas demandas sociais.
A pesquisa contribui para compreender os desafios críticos da medicina contemporânea, evidenciando como o Vaticano desenvolve estratégias institucionais para responder às complexidades bioéticas emergentes. Analisa especificamente como a instituição interpreta e se posiciona diante de dilemas biomédicos fundamentais, oferecendo uma perspectiva analítica sobre a dinâmica conflitiva interna, o papel da teologia, a ação de empreendedores de ideias na manutenção do discurso, das crenças e dos posicionamentos institucionais.
Provocadoras e controversas, as afirmações públicas e privadas de Nietzsche sobre o niilismo, assim como seu professado perspectivismo, continuam a inspirar debates filosóficos. O advento do niilismo é descrito por Nietzsche como uma catástrofe em direção a qual a cultura europeia está há muito tempo se movendo; a ascensão do niilismo denota um processo de exaustão, a perda de validade e força vinculante dos valores supremos da cultura europeia, dentre os quais a “verdade” aparece com destaque. Uma relação aguda conecta niilismo e perspectivismo no pensamento nietzschiano, uma vez que o surgimento do segundo depende do ocaso que se anuncia pelo primeiro: se estamos no horizonte do infinito, que é também o horizonte do perspectivismo, é porque se apagou aquela linha do horizonte que, sob o sinóptico nome de Deus, arrogava-se como incondicional, absoluta, universal. Nesta tese defendo uma interpretação da filosofia de Nietzsche segundo a qual o colapso da Europa, sendo também sua grande realização, sua Selbstaufhebung, traz consigo a impossibilidade de se recusar a existência e validade de infinitas outras interpretações ou perspectivas, diversas em relação àquela que, na Europa, firmara-se como única, seja ela dita humana ou apenas judaico-cristã. Assim, defendo que a filosofia, a partir de Nietzsche, passa a ser uma atividade necessariamente intercultural, isto é, passa a dar-se necessariamente a partir de um horizonte de interculturalidade. Experimentalmente, por meio de excursos, conecto esta interpretação da filosofia nietzschiana com reflexões teóricas advindas da antropologia (especialmente da obra de Eduardo Viveiros de Castro) e do pensamento indígena (especialmente pela mediação da obra A queda do céu de Davi Kopenawa e Bruce Albert), buscando mostrar como estas interlocuções iluminam e fazem frutificar o pensamento nietzschiano de modo inesperado e filosoficamente instigante, tanto mais quando se considera – e esta é a principal proposição defendida nesta tese – que a própria filosofia de Nietzsche tem como consequência essa abertura de horizontes, ou o descerramento de uma filosofia da interculturalidade.
A tese investiga a trajetória de Helios Aristides Seelinger (Rio de Janeiro, RJ, 1878 – Rio de Janeiro, RJ, 1965) ao longo da Primeira República (1889-1930), período de sua formação e consolidação como um pintor moderno no meio artístico brasileiro. A partir da análise de obras exibidas em circuitos artísticos, da recepção crítica na imprensa e de sua inserção em redes de sociabilidade, reconstitui-se sua atuação com base em pesquisas em coleções públicas e privadas, arquivos institucionais e pessoais, e periódicos da época. O foco em Seelinger permite compreender as estratégias individuais mobilizadas por artistas diante das ambivalências em torno do conceito de arte moderna no período. A tese propõe uma revisão crítica da historiografia da arte no Brasil, destacando a pluralidade de experiências modernas e os embates em torno da definição e do controle do valor moderno no campo artístico da Primeira República.
Esta pesquisa examina a evolução do pensamento de João Filopono a partir de sua atuação como comentador do Livro IV da Física de Aristóteles, com foco no trecho conhecido como Corolário sobre o Lugar. Considera-se que, embora formado na tradição neoplatônica da escola de Amônio, Filopono já manifestava divergências conceituais com o aristotelismo antes da ruptura oficial com a escola, tradicionalmente situada no ano de 529 d.C. O trabalho propõe que o comentário e o corolário, apesar de distintos em sua forma, compartilham uma unidade filosófica em torno da crítica à definição de lugar como limite. Filopono contrapõe a essa definição a concepção de lugar como extensão tridimensional. A metodologia adotada envolve a análise textual do comentário e do corolário, em cotejo com o texto aristotélico e com apoio de bibliografia secundária especializada. O estudo inclui ainda a tradução do corolário a partir da edição latina de 1558, com base comparativa em uma tradução inglesa, acompanhada de notas críticas. A proposta é contribuir para o entendimento da posição original de Filopono no debate antigo sobre a física do lugar e do vazio.
Embora tenha havido os que tentaram decretar seu fim ou a perda de sua importância, esquerda e direita -- termos que ganham conotação política na Revolução Francesa -- tornaram-se definitivamente populares e centrais na era das redes. À pergunta sobre o que leva os indivíduos a aderirem a um lado ou a outro do espectro político-ideológico, as ciências sociais, durante décadas, procuraram responder apontando aspectos sociodemográficos. Apesar de inegável, a influência desses fatores para a compreensão do processo de adesão às ideologias políticas não é única. Há pouco mais de duas décadas, uma crescente literatura de pesquisa aponta para a pertinência também de fatores psicofisiológicos nesse processo. Considerando a limitada presença dessa abordagem na ciência política brasileira, o presente trabalho percorre sua produção e procura contribuir para a compreensão do fenômeno político-ideológico de duas formas: destaca e discute achados elucidativos nesse campo, assim como apresenta dois estudos empíricos acerca de relevantes aspectos emocionais e cognitivos. Os estudos abordam a assimetria entre pessoas de esquerda e de direita quanto ao viés de negatividade e quanto à empatia, testando, dessa maneira, a validade externa de achados desse campo de pesquisa e adicionando à sua literatura.