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Senabi

IFCH recebe terceira edição do Seminário Nacional de Estudos Bissexuais

Autor: Valerio Freire Paiva

O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp sediou, nos dias 29 e 30 de julho, a terceira edição do Seminário Nacional de Estudos Bissexuais (SENABI), único evento realizado regularmente no Brasil com foco exclusivo na bissexualidade e em identidades monodissidentes, como pansexualidade e polissexualidade. Promovido pela Rede Brasileira de Estudos sobre Bissexualidade e Monodissidência (REBIM), o encontro reuniu pesquisadoras, ativistas e comunicadores de diversas áreas do conhecimento, regiões do país e gerações.

Realizado em formato híbrido, o evento teve atividades presenciais no Auditório Fausto Castilho, no IFCH, e quatro Grupos de Trabalho (GTs) online. Também marcou o lançamento do selo editorial da REBIM, voltado à publicação de estudos sobre a temática. A organização contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), que completa 40 anos em 2025, do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu e da Secretaria de Eventos do IFCH.

Conferencistas do Seminário

Regina Facchini, professora do IFCH e uma das organizadoras do seminário, destaca a importância do evento como espaço de acolhimento, troca e articulação política. “O SENABI é uma forma de a gente poder acolher e trocar teoricamente e politicamente a respeito dos estudos sobre bissexualidade e outras monodissidências. Trata-se de uma temática que ainda não é muito aceita na universidade e que enfrenta apagamentos e estigmas tanto na academia quanto na sociedade”, afirma.

Criado em 2021, o SENABI teve sua primeira edição realizada de forma totalmente online pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), durante a pandemia. Desde 2023, passou a ocorrer de forma híbrida com sede na Unicamp, e tem contribuído para consolidar uma rede de apoio entre pesquisadoras e pesquisadores que enfrentam resistência institucional para estudar a temática.

Segundo Regina, o seminário promove um espaço singular de fortalecimento da produção acadêmica, especialmente entre as novas gerações. “A maior parte das pessoas que apresentam trabalhos está na pós-graduação, e já temos os primeiros doutores formados dessa geração que estuda especificamente a bissexualidade. Mais do que um recorte empírico, tais estudos têm permitido produzir novos olhares para outras questões teóricas e metodológicas nas ciências sociais e humanas”, analisa.

Além de áreas como sociologia e antropologia, os trabalhos apresentados no SENABI também abrangem campos como psicologia, saúde coletiva, psicanálise, história e comunicação. A edição deste ano teve como tema central "Bissexualidade, cidadania e produção de conhecimento" e incluiu mesas de debate sobre saúde mental, ativismo e políticas públicas. Esta edição, até o encerramento do evento, contou com 27 trabalhos apresentados e 134 participantes em seis sessões de GT, 262 participantes em atividades online e presencialmente e 500 visualizações nos dois canais de Youtube em que foi transmitida - o canal do SENABI e o do IFCH.

Participantes do III Senabi

 

A articulação entre a pesquisa e o ativismo também é um traço marcante do seminário. “Existe uma retroalimentação entre a produção acadêmica e as ações do movimento. Isso se reflete em avanços como a normativa específica do Conselho Federal de Psicologia - a Resolução CFP 08/2022 - sobre o atendimento a pessoas bissexuais, construída pelo Coletivo Bil, de Minas Gerais, e pela Frente Bissexual Brasileiira, pela inserção de ativistas e pesquisadores dedicados à bissexualidade no GT de Memória e Verdade das Pessoas LGBTQIA+ e na criação de um grupo de trabalho sobre direitos de pessoas bissexuais no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, dos quais participam representantes da REBIM”, destaca Regina.

Ela ressalta que o crescimento tanto quantitativo quanto qualitativo da produção acadêmica sobre bissexualidade no Brasil está diretamente ligado ao fortalecimento dessa rede. “Quando mapeamos os estudos sobre o tema, vemos que o SENABI tem desempenhado um papel importante nesse processo, oferecendo apoio e ampliando a produção qualificada no tema e os espaços de circulação de ideias, com trabalhos sendo apresentados também em eventos nacionais como Seminário Internacional Fazendo Gênero e nos encontros da ANPOCS, ABRASCO, ABA e outros”, conclui. 

Regina Facchini
Regina Facchini