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Ato USP

IFCH participa de ato na USP em defesa da FFLCH e da universidade pública

  • Comunicação

Valério Paiva

O diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (IFCH), professor Ronaldo de Almeida, participou nesta quinta-feira (2) do ato “Em Defesa da FFLCH: a Universidade Pública é do Povo”, realizado no vão do prédio de Geografia e História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. O evento reuniu docentes, estudantes, funcionários, representantes de entidades científicas e parlamentares em uma grande manifestação de resistência contra as invasões e hostilidades promovidas por grupos da extrema direita, que desde maio vêm atacando a unidade e membros de sua comunidade acadêmica.

Ato “Em defesa da FFLCH: a universidade pública é do povo"

O ato foi marcado por um clima de mobilização e solidariedade entre setores da universidade e da sociedade civil. As falas destacaram a defesa do caráter público e inclusivo da universidade brasileira, a importância do pensamento crítico e o repúdio às tentativas de deslegitimar a educação e a pesquisa.

As investidas contra a FFLCH, contudo, não foram casos isolados. Além da Unicamp, que também enfrentou episódios de agressões e depredações, universidades como a UnB, a UFSCar e a Unifesp registraram ações semelhantes, com provocações e tentativas de intimidação a estudantes e professores. O padrão dessas ofensivas mostra que o alvo não é casual: as humanidades — espaços de crítica, reflexão e debate público — seguem sob ameaça de campanhas de desinformação e discursos autoritários.

Segundo Ronaldo de Almeida, a iniciativa simboliza uma articulação entre universidades, parlamento e Ministério Público para proteger o espaço universitário e reafirmar seu papel democrático. Ele lembrou que a Unicamp também foi alvo de agressões e que a resposta envolveu ação da Procuradoria Geral da Unicamp, apoio da Reitoria e mobilização da comunidade. Durante o ato, o diretor ressaltou a importância de compreender os ataques à USP e à Unicamp como parte de uma ofensiva mais ampla contra o ensino público superior no país.

Ronaldo de Almeida
Ronaldo de Almeida, diretor do IFCH Unicamp

“Esse problema não é apenas da FFLCH, nem da Faculdade de Filosofia ou das ciências humanas, mas da USP como um todo. É melhor que tratemos dessa forma, como um problema do ensino público superior e gratuito. Considero esse enquadramento fundamental. Foi o que nos permitiu do IFCH trazer a universidade como um todo e a reitoria para o embate.”

O diretor do IFCH recordou as experiências recentes vividas na Unicamp, em especial a depredação racista do Mural Negro, ocorrida em 2025. O episódio foi respondido por uma ampla reação institucional e social, que envolveu a Reitoria, as faculdades e institutos da universidade, a comunidade científica e diversos setores da sociedade civil, culminando com manifestações de apoio na Câmara Municipal de Campinas em defesa da universidade pública e da liberdade acadêmica. O ato foi convocado pelo mandato da vereadora Mariana Conti, servidora da Unicamp e doutoranda do IFCH, com apoio do mandato do vereador Wagner Romão, docente do IFCH, ambos atuantes na articulação política em defesa da universidade.

Adrián Fanjul, diretor da FFLCH USP

O diretor da FFLCH, Adrián Fanjul, denunciou o caráter político dos ataques e destacou que as universidades públicas incomodam por produzirem conhecimento comprometido com a democracia, a justiça social e a crítica aos modelos de dominação. “E esse conhecimento incomoda os interesses de projetos de poder ultra-neoliberais e neofascistas que sustentam a ação desses grupos de um nível mais alto dos poderes corporativos. Por isso, tentam afastar os setores populares da universidade para que só se informem por canais de negacionismo e de pós-verdade. Hoje estamos aqui para defender a universidade como espaço de conhecimento e também de práticas culturais, artísticas e políticas. Que alegria e que orgulho de ver tanta unidade, que grande honra ser diretor de uma faculdade como esta. Viva, viva, viva universidade.”

A professora Marilena Chauí foi uma das vozes mais aplaudidas da tarde. Ela relacionou os ataques à FFLCH com a intolerância ao pensamento crítico e à produção de conhecimento livre. “Os ataques que nos são feitos. Esses ataques são ataques contra aquilo que o atacante sabe que é maior do que ele. Nos atacam porque têm medo, porque são fracos. Temem o pensamento produzido aqui.”

Já o professor Paulo Sérgio Pinheiro, ex-docente do IFCH da Unicamp e da FFLCH da USP, e ex-relator de direitos humanos da ONU, alertou para o contexto político mais amplo das agressões, que fazem parte de uma tentativa organizada de silenciar o debate e destruir o pensamento crítico nas universidades. “De um projeto de destruição do pensamento crítico, de ataque às instituições democráticas e de intimidação aos que resistem. É urgente que a USP proteja de forma efetiva os seus espaços democráticos.”

O filósofo Vladimir Safatle, também professor da FFLCH, lembrou que a universidade brasileira já enfrentou momentos semelhantes e que o enfrentamento atual deve ser entendido como parte da resistência democrática. “Não é simplesmente uma luta contra agitadores ou contra baderneiros ou contra vândalos. É uma luta contra fascistas no sentido mais forte do termo. A universidade sempre teve que lidar com esse tipo de coisa. Eu lembraria a vocês que em 2018 nós estávamos aqui exatamente nesse mesmo lugar, um dia depois de Bolsonaro ter ganhado a eleição no primeiro turno. E nós falamos muito claramente, todos nós estávamos aqui dizendo: este processo não termina agora.”

O ato contou ainda com a presença da deputada federal Sâmia Bomfim, dos deputados estaduais Luciene Cavalcante, Guilherme Cortez, Carlos Giannazi e Mônica Seixas, das vereadoras Luana Alves, Amanda Paschoal e Luna Zarattini, além de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Nacional de História (Anpuh) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Os participantes reafirmaram a importância da união entre universidades públicas, do fortalecimento das instituições democráticas e da defesa do conhecimento científico como bem público.

Durante o ato ocorreram diversas manifestações de solidariedade aos brasileiros detidos em Israel após participarem da Flotilha humanitária para Gaza. Entre eles estão a vereadora Mariana Conti, que teve papel fundamental na mobilização em defesa do IFCH durante os ataques à Unicamp, além dos servidores da USP Bruno Sperb Rocha, da FFLCH, e Magno Carvalho Costa, da ECA. As falas destacaram que a prisão dos ativistas se insere em um contexto de criminalização da solidariedade internacional e de repressão a movimentos em defesa dos direitos humanos.

Em sua fala, o professor Ronaldo de Almeida lembrou que, na semana anterior, a Reitoria da Unicamp rompeu um convênio acadêmico mantido com uma instituição israelense vinculada à indústria militar, decisão posteriormente referendada pelo Conselho Universitário, como parte do posicionamento público da universidade diante da escalada de violência em Gaza.

Reunião com membros do Ministério Público de São Paulo

Reunião no Ministério Público de São Paulo

Horas antes da manifestação, o diretor do IFCH participou de uma reunião no Ministério Público de São Paulo (MP-SP), ao lado da deputada Sâmia Bomfim, do diretor da FFLCH, Adrián Fanjul, e de representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) da USP. O grupo foi recebido pelo subprocurador-geral de Justiça Criminal Ivan Francisco Pereira Agostinho e pela promotora Tatiana Callé Heilman. 

O encontro discutiu medidas de proteção às universidades públicas diante da escalada de ameaças, intimidações e agressões cometidas por parlamentares e militantes bolsonaristas, incluindo as invasões à FFLCH, os casos registrados na Unifesp e outros episódios de hostilidade contra estudantes e professores em instituições de ensino superior.

Os representantes do MP-SP recomendaram que todo e qualquer caso de invasão, agressão ou intimidação dentro das universidades seja judicializado, ressaltando a importância de garantir materialidade por meio de boletins de ocorrência. Como desdobramento, os diretores das faculdades da USP e de outras universidades públicas apresentarão uma representação conjunta ao Ministério Público de São Paulo contra os autores dessas ações, reforçando o compromisso das instituições com a defesa da integridade do ambiente acadêmico.