Olhares cruzados sobre democracia: avanços, fluxos, retrocessos e contradições

A noção de ‘democracia’, sua trajetória como conceito e modelo social, e o fluxo de ideias e conceitos que a acompanham, assim como os desdobramentos concretos na vida social dos processos democráticos, são hoje um dos grandes temas das ciências humanas e sociais. Da perspectiva da Ciência Política, o avanço no número de Estados democráticos com a terceira onda de redemocratização impulsionou os estudos dos tipos de regime, de suas instituições, das condições que permitiriam aos Estados se consolidarem como democracias, a necessidade de aprofundamento das relações democráticas no interior dos Estados e entre Estados. Ainda, o avanço numérico dos Estados democráticos vem cercado de expectativas no tocante às diversas esferas da vida social, que podem ser resumidas na ideia de que teríamos um mundo mais justo, mais igual, mais inclusivo. A dinâmica política das democracias enfrenta obstáculos diante das disparidades de poder político e econômico entre Estados e a dinâmica do sistema internacional, no qual os Estados Unidos exercem papel estruturante. Embora avanços ocorridos no final do século XX e início do século XXI, como na questão de direitos sociais, esses não foram sem contradições. A mais patente é aquela entre o ideal democrático e a democracia representativa ou democracia liberal. Temos Estados democráticos com políticas sociais mais inclusivas, mas sem a igualdade de fato entre os cidadãos e isto se revela em termos econômicos, políticos, sociais e culturais. Estas contradições são matéria-prima fundamental para estudos de cunho sociológico ou antropológico. Os avanços no reconhecimento da diversidade em diversos contextos nacionais, que permitiram tanto o reconhecimento dos territórios étnicos e de populações tradicionais quanto às políticas afirmativas de corte étnico-racial e de diversidade sexual e de gênero foram parte fundamental de processos democráticos recentes, e hoje em dia se veem sob tensões sociais que colocam dilemas para a democracia. No interior de um quadro mais amplo de Estados-nação, principalmente países da América Latina se destacam ainda pelo modo precário que a memória dos crimes de Estado vem sendo abordada, com revisões tímidas e até mesmo saudosismos dos regimes militares em contextos de ascensão de ideologias fascistas, que tem ganhado votos e alcançado cadeiras nos parlamentos. O recorte internacional se impõe pela própria temática que é melhor compreendida a partir de um olhar multidisciplinar comparativo.

Coordenador(a): 
Oswaldo Martins E. do Amaral