Nota de pesar pelo falecimento de Chico de Oliveira

Data da publicação: ter, 30/07/2019 - 16h09min

Um dos mais influentes sociólogos brasileiros, Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira, mais conhecido como Chico de Oliveira, formou gerações de cientistas sociais e formulou uma das mais originais vias de interpretação sobre a sociedade brasileira surgidas nas últimas décadas.

Reelaborando crítica e criativamente formulações até então clássicas sobre a modernização e o subdesenvolvimento elaboradas pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e por um de seus mestres, Celso Furtado, Chico de Oliveira foi responsável, nos anos de 1970, por transformar o debate, elevando-o a um novo patamar teórico e político. No clássico Crítica à razão dualista de 1973,  evidenciou que, se a produção da dependência passava pela conjunção entre um lugar na divisão internacional do trabalho capitalista e a articulação dos interesses internos, o subdesenvolvimento não seria uma singularidade, mas a forma da exceção permanente do sistema capitalista na periferia.

Investigando as consequências econômicas, sociais e políticas desta exceção, foi novamente capaz de atualizar sua tese, já para o Brasil do século XXI, quando no interior das reflexões formuladas no Cenedic/USP lançou algumas das mais provocadoras questões, sociológicas e políticas, ao ciclo de desenvolvimento econômico que marcou as últimas décadas do país. Se, como argumentou Chico, a dinâmica é menos incompatível com a estática do que parece, permanece renovado o desafio de, criticamente, compreender a dinâmica brasileira e nela atuar.

Em meados dos anos de 1980, Chico de Oliveira quase se juntou ao Departamento de Sociologia da Unicamp. Se o vínculo formal não se estabeleceu, a parceria intelectual com colegas como Octávio Ianni, Ricardo Antunes e, recentemente, Fábio Querido sempre se fez presente e é também parte de nosso fazer como cientistas sociais.

A ausência de Chico de Oliveira no debate público vai ser muito sentida, principalmente nesse momento em que a sua obra se mostra tão reveladora da sociedade brasileira. Manifestamos nosso profundo pesar.

 

Direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas