Na última segunda-feira (24), o Centro de Convenções da Unicamp foi palco do fórum Entre o fato e o fake: os desafios da informação nas eleições, promovido em parceria pelo Grupo EP e pesquisadores do Observatório da Desinformação. O evento, que contou com apoio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, reuniu estudantes, jornalistas e acadêmicos para discutir a questão crítica da desinformação em tempos eleitorais.
Abrindo o encontro, o jurista Diogo Rais, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e juiz substituto do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, enfatizou a importância dos pilares da prevenção, educação e repressão no combate à desinformação. Autor dos livros Direito Público Digital e Fake News: A Conexão entre a Desinformação e o Direito, entre outros, Diogo Rais destacou que, embora a concentração de poderes da Justiça Eleitoral aumente a agilidade nas questões eleitorais, ela também gera críticas e elogios. Ele explicou que, no campo do direito, a caracterização da desinformação deve focar no potencial lesivo das notícias falsas, mais do que na distinção entre verdade e mentira, e que a intenção de enganar é essencial para distinguir a vítima do agente disseminador de fake news. De acordo com o juiz, a disseminação em massa dessas notícias precisa ser combatida, e o enfrentamento desse problema deve ser uma ação coletiva envolvendo a Justiça Eleitoral, a academia e a imprensa.
Em seguida, foi realizada a mesa redonda Cinco olhares sobre desinformação, que reuniu os pesquisadores Josianne Cerasoli (professora do Departamento de História do IFCH Unicamp), Claudia Wanderley (pesquisadora do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp), e Ewerton Machado (professor da Universidade Federal do Acre, Campus Floresta em Cruzeiro do Sul), membros do Observatório da Desinformação, e os jornalistas Ricardo Gallo e Lana Torres, do portal G1. Os debatedores analisaram a influência das emoções na proliferação da desinformação, como também a importância do trabalho coletivo e das ferramentas de checagem no combate às fake news.
Josianne Cerasoli ressaltou a necessidade de ampliar o repertório de conhecimento para dificultar o engano. A professora avaliou como funcionam as fake news e sua difusão. "As fake news são ações coordenadas. Elas sempre vão parecer inocentes, mas elas são sempre coordenadas que estabelecem falsas conexões", avalia a professora, que ressalta que muitas vezes a manipulação da mensagem é discreta, exigindo que o receptor da mensagem tenha que prestar atenção para perceber a incongruência da mensagem. "E o mais importante, isso mobiliza os nossos sentimentos, provoca as nossas emoções. E se há razão a gente saberia reagir, mas com a emoção é outra história".
Outros pontos discutidos incluíram a identificação das intenções dos autores e disseminadores das fake news, formas de evitar conflitos com familiares e amigos ao lidar com desinformação, e a necessidade de defender o sistema eleitoral através de informações corretas. Os pesquisadores destacaram a colaboração cidadã nesse processo, bem como a relevância do afeto na comunicação e construção da desinformação. Já os profissionais do G1 relataram as experiências e dificuldades acumuladas nos últimos anos de cobertura sobre eleições e fake news no portal, em especial a partir da criação do serviço Fato ou Fake.
"A desinformação crescente coloca em risco até mesmo os pactos sociais mais fundamentais. É um desafio em escala inédita, que exige atenção de todas as instituições que comprometidas com informação. A parceria entre a universidade e a imprensa é uma resposta a essa urgência", avalia a professora Josianne Cerasoli sobre a importância da colaboração de esforços entre sociedade civil, universidade e imprensa para enfrentar a desinformação nas eleições.
Conheça mais sobre o Observatório da Desinformação pelo site https://observatoriodadesinformacao.org/.