A Ciência Política brasileira está em movimento. Mas, qual a direção dessas mudanças? Até que ponto temos sido capazes, como comunidade disciplinar, de refletir sobre e dirigir esse processo?
Nos doze encontros que compõem o ciclo de debates Ciência Política em Movimento, organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Unicamp, pelo Observatório das Ciências Sociais (OCS) do IESP e pelo Laboratório de análise do Campo Científico (LaCC) da Universidade Federal do Paraná, convidamos a comunidade de cientistas políticos a refletirem conosco sobre o atual estágio de nossa disciplina. Identificamos três fatores (dois exógenos e um endógeno à disciplina) que parecem atuar como os mecanismos propulsores das mudanças na área:
1. As mudanças no contexto sócio-político, principalmente ao longo da última década, e seus impactos sobre as instituições representativas colocam dúvidas quanto à capacidade explicativa e preditiva de nossa disciplina. O que temos, de fato, explicado? Qual a natureza das respostas que temos oferecido? O quão relevante é o conhecimento que produzimos face aos enormes desafios enfrentados pelas democracias contemporâneas? E o que caracteriza a Ciência Política Brasileira no cenário latino-americano?
2. As exigências dos sistemas de avaliação têm dirigido o padrão da produção e difusão científica na área, influenciando a trajetória intelectual de toda uma geração de cientistas políticos. De que forma esse processo afeta os contornos de nossa disciplina? Qual a aderência dos fatores de impacto e sua adequação aos periódicos das ciências humanas? O que muda na avaliação dos periódicos brasileiros? Qual o significado da mudança? O que vale mais a pena publicar: livros ou artigos? Diante da ênfase no conhecimento aplicado, qual o lugar da teoria e do pensamento político?
3. Enquanto os dois mecanismos anteriores são exógenos à disciplina, este último se refere às reconfigurações internas ao campo disciplinar. De que forma, a expansão territorial da Ciência Política nacional está sendo capaz de desafiar sua característica “sudestocêntrica”? Dada a recente expansão da Ciência Política em diferentes subáreas (estudos militares, políticas públicas, política internacional etc.), o que constitui hoje a identidade do nosso campo disciplinar e quais os potenciais conflitos gerados por essa diversificação? As questões de gênero e de raça têm sido constantes focos de desigualdades na conformação das trajetórias profissionais das/dos pesquisadoras(es). Como as novas gerações de cientistas políticos têm pautado o tema? O quanto temos sido capazes de gerar um ambiente mais igualitário e quais são seus principais pontos de veto?
Essa é uma agenda ampla, ambiciosa e necessária para debatermos coletivamente à luz dos dados que alguns grupos de pesquisa e cientistas isolados, dedicados à cientometria da área, têm produzido.
A primeira mesa será realizada dia 30 de setembro, às 18 horas no Canal do IFCH Unicamp no YouTube, com o tema Prestígio e impacto nas ciências sociais/ciência política, e contará com a presença de Rogério Mugnaini (Universidade de São Paulo), Melina Morschbacher ( Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano), Dalson Figueiredo (Universidade Federal de Pernambuco) e Adriano Codato (Universidade Federal do Paraná).