Arquivo Edgar Leuenroth celebra 50 anos com reflexão sobre memória social e lutas por direitos

Data da publicação: dom, 01/09/2024 - 10h50min

Valério Paiva e Marina Rebelo

Em 2024, o Arquivo Edgar Leuenroth (AEL) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, um dos mais importantes lugares de memória e salvaguarda de acervos da América Latina, completou 50 anos de existência. Para comemorar a data, a equipe do AEL preparou uma série de debates para refletir sobre os sentidos da preservação da memória social nesses últimos anos, reunindo acadêmicos, pesquisadores e representantes institucionais para refletir sobre os desafios da preservação da memória social e as histórias que emergem dos documentos guardados pelo Arquivo.

Com o tema 50 Anos Preservando a Memória Social e as Lutas por Direitos na Unicamp, a programação começou na última terça-feira, 27 de agosto, no Centro de Convenções da Unicamp, dentro da programação dos Fóruns Permanente, e seguiu até quarta-feira, 28, no Auditório Fausto Castilho no IFCH.

A programação e a diversidade de temas e convidados teve como objetivo destacar as múltiplas ações e documentos que o AEL ajuda a preservar. A mesa de abertura contou com a presença de figuras importantes da Unicamp, como a professora Andréia Galvão, Diretora do IFCH, o professor Mário Augusto Medeiros da Silva, Diretor Acadêmico do AEL, e a professora Bárbara Geraldo de Castro, Diretora Adjunta do AEL. Também participaram o Pró-Reitor de Extensão, Esporte e Cultura, Fernando Antonio Santos Coelho, e a Pró-Reitora de Pós-Graduação, Rachel Meneguello.

"Nós propomos dessa forma refletir sobre os desafios atuais de preservação da memória e apresentar as histórias que já foram ou ainda podem ser contadas a partir dos arquivos mais consultados do AEL. Da luta dos movimentos operários e anarquistas, passando pela luta contra a ditadura civil-militar, e, atualmente, para as que se concentram na documentação sobre a memória negra, feminista, LGBTQIA+" , disse o professor Mário Medeiros, Diretor Acadêmico do Arquivo. "Vale lembrar que o acervo do AEL é aberto ao público de forma gratuita. Nós fazemos atendimento de pessoas interessadas em nosso material de modo presencial e online, e a nossa equipe é reconhecida pela presteza e qualidade."

Após a abertura, o evento seguiu com a mesa intitulada Os escritos de Edgard Leuenroth e Lançamento da obra 'Qual a solução para o problema do Brasil?', que contou com as participações de Christina Lopreato (UFU), Claudio Batalha (IFCH Unicamp) e Francisco Foot (IEL Unicamp). Os participantes relataram os primórdios de fundação do Arquivo, que iniciou suas atividades em 1974 com a chegada da coleção de documentos impressos reunidos por Edgard Leuenroth, militante anarquista conhecido como guardião da memória operária na primeira metade do século XX. Tais fontes foram adquiridas à época pela Unicamp, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para evitar a dispersão deste acervo após a morte de Edgard em 1968. Este acervo inicial atraiu para a instituição outros ligados à história do movimento operário e da industrialização no Brasil.

Durante a tarde, a mesa 50 Anos de AEL: As histórias da fundação do arquivo foi destaque, reunindo figuras centrais na criação e consolidação do AEL. Os professores Michael Hall (IFCH Unicamp), Paulo Sérgio Pinheiro (ONU) compartilharam memórias e reflexões sobre o início do arquivo, sua evolução ao longo das décadas e a importância do AEL para a preservação da história das lutas sociais no Brasil. Ao final, propuseram a Medeiros e Castro que o AEL fizesse uma cápsula do tempo, com fotos e os discursos daquela mesa, para serem abertos em 2074.

Michael Hall, um dos idealizadores do AEL, relembrou os desafios enfrentados durante os primeiros anos, especialmente em um período de repressão política no Brasil. Paulo Sérgio Pinheiro, que recentemente recebeu o título de doutor honoris causa pela Unicamp, destacou o papel crucial do Arquivo na documentação de violações de direitos humanos durante a ditadura civil-militar, além de sua importância contínua para a pesquisa e educação sobre direitos humanos. “Mesmo nos momentos mais penosos da repressão política era importante ter explorado os limites (...) mas era preciso manter a mesma prática nos governos democráticos. Não nos iludamos com a estabilização do regime democraticvo no Brasil. As ameaças estão presentes”. Pinheiro lembrou ainda do genocídio em Gaza e, ao lamentar o silêncio da sociedade paulista, o papel importante do AEL na provocação ao debate e na defesa dos direitos humanos “sempre haverá aquela história de ‘tem tanta coisa que eu poderia ter feito’, mas não, o AEL tem que continuar fazendo!

O promeiro dia foi encerrado com a mesa Os desafios atuais das instituições de salvaguarda da memória e sua relação com a Universidade, que contou com as participações de Ana Flávia Magalhães (Arquivo Nacional) e Thiago Nicodemo (professor da Unicamp e coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo), onde relataram as experiências desenvolvidas por esses outros espaços de preservação da memória. 

As atividades continuaram no dia seguinte no IFCH, com discussões sobre os desafios das universidades na salvaguarda da memória, com a presença de Maria Ribeiro do Valle (Cedem Unesp), Elisabeth Ribas (IEB USP), Janaína Santos (SIARQ Unicamp) e André Luiz Paulilo (CMU Unicamp). Entre os temas tratados estiveram reflexões sobre o papel e desafios dos Centros de Documentação e Arquivos das Universidades Públicas, bem como questões tecnológicas e legais, além da interações com outras instituições buscando fortalecer a preservação da memória nas instituições públicas.

Em seguida foi realizada uma mesa abordando os movimentos sociais e a luta pela memória, com a participação de pesquisadores que já realizaram trabalhos relacionados ao AEL, com a presença de James Green (Universidade Brown), Renan Quinalha (Unifesp), Angela Araújo (Unicamp) e, representando o Projeto Afromemória, Mario Medeiros, Guilherme Lassabia de Godoy (Cebrap) e Maria Júlia Ananais (Cebrap). 

Os dois dias de debates e reflexões contaram com a participação de membros da comunidade acadêmica, profissionais de arquivos e ex-estudantes da Unicamp, além de representantes de movimentos sindicais e sociais. Entre os presentes, estiveram Vladimir Sachetta e Roberto Heitor Ferreira Lima, filhos de Hermínio Sachetta e Heitor Ferreira Lima, criadores de fundos que atualmente fazem parte do acervo do AEL.

As mesas realizadas do primeiro dia foram transmitidas e ficarão disponíveis no canal dos Fóruns Permanentes da Unicamp no YouTube, no endereço www.youtube.com/c/ForunsPermanentes, e as últimas mesas foram transmitidas e estão disponíveis no canal do IFCH Unicamp no YouTube em www.youtube.com/@ifchunicamp1.

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