Mulheres construindo sua autonomia: concepções e práticas feministas em redes de economia solidária no Brasil

Esta pesquisa de doutorado tem por objetivo discutir a ideia de autonomia a partir das concepções e práticas das mulheres organizadas na economia solidária no Brasil, buscando compreender os sentidos e significados dessa categoria para elas, bem como sistematizar as possibilidades e os limites ao exercício da autonomia tendo em conta as condições materiais e subjetivas e o contexto econômico, social e político em que elas estão inseridas. Tendo como orientação epistemológica e metodológica a pesquisa-ação feminista, por meio de entrevistas e visitas de campo, esta pesquisa centra-se no caso de três redes feministas organizadas no contexto da economia solidária, compostas por empreendimentos e iniciativas econômicas e por organizações de apoio e fomento, que cumprem um papel de assessoria técnica, execução de políticas públicas e articulação política. Os três casos são a Associação de Mulheres na Economia Solidária do estado de São Paulo (AMESOL), sediada na Região Metropolitana de São Paulo; a Rede Xique Xique de Comercialização Solidária, organizada no estado do Rio Grande do Norte e sediada em Mossoró; e a Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), de âmbito nacional e sediada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Busca-se refletir sobre a relação complexa entre organizações da sociedade civil, o Estado brasileiro e movimentos sociais, em especial o movimento de economia solidária e o movimento feminista e a forma como as reivindicações por autonomia foram traduzidas nas políticas da Secretaria Nacional de Economia Solidária e da Secretaria de Política para as Mulheres no ciclo de governos 2003-2016. Trabalhamos a categoria de autonomia a partir de uma pesquisa multiescalar (à nível do Estado, dos movimentos sociais, das redes solidárias, dos empreendimentos econômicos e organizações de apoio, e da vida das mulheres) e multidimensional (sistematizando múltiplas e imbricadas facetas da autonomia como a dimensão material, a necessidade de redivisão sexual do trabalho, o enfrentamento à violência, a construção de relações de solidariedade, confiança e pertencimento). A partir de uma abordagem feminista e substantiva da economia e da política, é problematizada a articulação entre produção e reprodução social, dando visibilidade ao trabalho de cuidados realizado pelas mulheres e às práticas econômicas permeadas por relações sociais concretas (de reciprocidade, redistribuição e autossuficiência) nos empreendimentos econômicos e redes solidárias. Questionando uma abordagem liberal que localiza a autonomia no nível individual e a associa à ideia de independência, argumenta-se por uma concepção de autonomia assentada na interdependência. Uma abordagem substantiva da autonomia mostra-se potente para analisar as relações de poder, opressão e desigualdade; e também os caminhos de construção de resistência, coletivos e construídos desde relações de solidariedade.

Data da defesa: 
sexta-feira, 5 Abril, 2024 - 09:00
Membros da Banca: 
Profa. Dra. Bárbara Geraldo de Castro (Presidente) (Orientador) - IFCH/UNICAMP
Dra. Isabelle Hillenkamp - Institut de Recherche pour le Développement
Dra. Andreia Helena B Lemaitre - Université catholique de Louvain
Dr. André Ricardo de Souza - Universidade Federal de São Carlos
Dra. Flávia Millena Biroli Tokarski - Universidade de Brasilia
Dr. Luiz Inacio Germany Gaiger - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Programa: 
Nome do Aluno: 
Beatriz Carrascosa Von Glehn Schwenck
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses I