A fração cultural das classes médias paulistanas: posições políticas, estilos de vida e fronteiras simbólicas

Esta pesquisa trata da relação entre estilos de vida, posições políticas e demarcação de fronteiras simbólicas entre a fração cultural das classes médias paulistanas. Em linha com a abordagem que vem sendo chamada de Análise cultural de classes, as frações de classe culturais são definidas como o conjunto de agentes pertencentes a uma mesma classe social que dependem mais do capital cultural que do capital econômico para a reprodução de sua posição social e para a demarcação de suas hierarquias de status. No caso da fração cultural das classes médias paulistanas, ela é apresentada como sendo composta por indivíduos inseridos em posições intermediárias de ocupações relacionadas à ciência, arte, academia, produção cultural, docência, jornalismo, assistência social, e algumas profissões liberais. O objetivo principal da pesquisa é entender quais os efeitos específicos da fração de classe sobre as tomadas de posições e sobre as construções identitárias. A hipótese de trabalho é a de que entre esta fração de classe seria possível encontrar tomadas de posições fortemente marcadas pelo esforço de valorização do capital cultural e de denegação do capital econômico, o que inclinaria os agentes para a demarcação de uma fronteira simbólica que os opõe à fração econômica da mesma classe. Para testar esta hipótese são observadas as particularidades das tomadas de posições desses agentes nos domínos dos posicionamentos políticos e dos estilos de vida, o que é feito por meio da aplicação de questionários sobre posições políticas e estilos de vida com vinte e sete indivíduos pertencentes, majoritariamente, à fração cultural das classes médias da cidade de São Paulo, e da realização de entrevistas em profundidade sobre os mesmos temas com vinte e três deles. Os dados produzidos mostram que, para o caso dos posicionamentos políticos, a integração as posições estruturais típicas das frações culturais tende a ser marcada pela cobrança por posicionamentos políticos de esquerda, que, por sua vez, tendem a ser as mais vantajosos para a valorização do capital cultural em comparação com o econômico. Da mesma forma, para os estilos de vida, as posições típicas das frações culturais são também identificadas por práticas e gostos culturais orientados para a valorização da cultura legitimada, igualmente estratégicas para a valorização do capital cultural como critério de hierarquização social. Desta forma, os resultados apontam para os efeitos estruturantes do capital cultural sobre a fração cultural, inclinando-a para a valorização do capital cultural, denegação do econômico e, com isso, para a demarcação de uma fronteira simbólica contra a fração econômica. Porém, como efeito não-intencional dessa construção identitária, as estratégias de valorização do capital cultural operam ainda no sentido de restringir a entrada das classes populares nas posições culturais intermediárias.

Data da defesa: 
segunda-feira, 29 Abril, 2024 - 10:00
Membros da Banca: 
Prof. Dr. Michel Nicolau Netto (Presidente) (Orientador) - IFCH/ UNICAMP
Prof. Dr. Adalberto Moreira Cardoso - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Carolina Martins Pulici - Universidade Federal de São Paulo
Programa: 
Nome do Aluno: 
Gustavo de Sousa Vieira
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses I