DESEMPRETECIMENTO NO HAITI E NO SENEGAL, A QUESTÃO DE BELEZA E STATUS & DÉNÉGRIFICATION DO MUNDO?

Estuda-se neste trabalho, o desempretecimento da pele concebido como uma prática estética visando o gerenciamento da tonalidade da pele a fim de corresponder a um padrão estético considerado bonito e valorizado. É uma prática majoritariamente feminina que está presente nas populações negras em diversas regiões do mundo. Ela já foi/é considerada problema de saúde pública em vários países, particularmente alguns países africanos. Por meio de análise de materiais audiovisuais (publicidades, filmes, documentários, vídeos amadores feitos por influenciadoras de redes sociais), em diálogo com uma bibliografia multidisciplinar (sociologia, história, antropologia, dermatologia, farmácia, filosofia) e com base numa abordagem sociológica que articula várias échelle de análise (micro, meso, macro), busca-se entender como as pessoas que recorreram a essa prática justificam o recurso a cosméticos e outras técnicas artesanais para clarear a cor da pele. Desejo de ser bonita, conquistar algum parceiro afetivo são justificativas mais comuns apresentadas pelas praticantes. Tanto nos discursos publicitários para promover essa prática, quanto nas justificativas das praticantes, conquistar um pouco de beleza está no primeiro plano. Essa justificativa expressa um sentimento de inadequação ao padrão estético valorizado, ao mesmo tempo, evidencia como as características fenotípicas das pessoas negras, particularmente a pele, são vistas como feias, o que interfere na sua autoestima. Para além das explicações funcionais dadas pelas pessoas envolvidas, apresenta-se também uma explicação histórico-estrutural, cujo ponto de partida é o processo da racialização do mundo e da négrification dos/as africanos/as levado a cabo para justificar o tráfico negreiro e a escravidão. Ao deslocar africanos/as da categoria humana para animal, sua inferioridade foi pronunciada e defendida filosófica e cientificamente por muitos europeus. Suas características fenotípicas foram inferiorizadas, e, a feiura atribuída à elas era símbolo da inferioridade racial por excelência. Sintomaticamente, a análise da racialização e négrification evidencia como as indústrias cosméticas e de beleza remobiliza um conjunto de preconceitos histórico para lucrar com o corpo negro, oferecendo produtos nocivos e cancerígenos para sua (auto)destruição. Essa última conecta o desempretecimento com um projeto do capitalismo liberal e colonial que visa a dénégrification do mundo – exterminar as pessoas negras da face da terra –. Isso porque na pós-escravidão, as pessoas negras simplesmente não foram/são aceitas como cidadãs capazes de gozar os mesmos direitos e compartilhar os mesmos códigos com o ‘branco’ civilizado. Em suma, a abordagem sócio-histórica realizada neste trabalho evidencia a complexidade desse fenômeno, portanto, desafia qualquer abordagem simplista que culpabilizam de antemão, tanto as pessoas que desempretecem a pele por cosméticos e técnicas artesanais quanto casais negros que recorrem a receitas dietéticas, pílulas etc. para clarear seus fetos na barriga, limitando a possibilidade de eles nascerem com uma pele preta. A reflexão final da tese é sobre o seguinte questionamento: que mundo é esse que exige que as pessoas de pele preta se desempretecem para fazer parte? Esse questionamento alerta que esse trabalho não esgota, de modo algum, a necessidade de novas pesquisas para compreender esse fenômeno em todas as suas dimensões.

Data da defesa: 
terça-feira, 16 Abril, 2024 - 13:00
Membros da Banca: 
Prof. Dr. Michel Nicolau Netto (Presidente) (Orientador) - IFCH/ UNICAMP
Prof. Dr. Omar Ribeiro Thomaz - IFCH/ UNICAMP
Prof. Dr. Mario Augusto Medeiros da Silva - IFCH/ UNICAMP
Dr. Deivison Mendes Faustino - UNIFESP
Dra. Miqueli Michetti - Universidade Federal da Paraíba
Programa: 
Nome do Aluno: 
Frantz Rousseau Déus
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses I