"Chora Agora. Ri Depois": Engajamento e imaginação política na obra do Racionais MC's (2001-2019)

A presente pesquisa procura demonstrar de que modo a análise conceitual, estética e musical dos álbuns do Racionais MC’s, associada à análise da postura pública do quarteto (registrada em entrevistas, apresentações e materiais de divulgação), nos revela aspectos da relação entre política e produção cultural, no Brasil, nas últimas duas décadas. Tendo em vista que o Hip Hop, movimento que concebe-se como politicamente engajado e vinculado às periferias e classes populares de partida, tornou-se um produto prestigiado no mercado de bens simbólicos e que sua circulação entre outras classes e espaços já é uma realidade, em especial no que diz respeito a seu elemento musical, o rap, observo a trajetória deste notório grupo do gênero de modo a compreender como esses processos sociais são por ele interpretados à medida que marcos de suas concepções políticas vão se modificando (aversão à grande mídia, recusa à ostentação, etc.). A escolha do quarteto se deve à sua projeção, que o faz ser considerado o maior grupo de rap do país; a sua circulação, que perpassa periferias, espaços elitizados, comícios políticos, gigantes do entretenimento, o mundo acadêmico, etc.; e reconhecimento de seus pares, que os acionam publicamente como referências estéticas e comportamentais. Para cumprir essa tarefa, utilizo a ideia de engajamento que, em linhas gerais, se refere a um conjunto de elementos que representam a auto-percepção dos rappers a respeito de sua atuação e função política (definindo importância de pautas, coerência de atitudes, legitimidade de posturas, etc), objetivando identificá-los, bem como suas transformações ao longo do tempo e suas interações com fenômenos sócio-históricos específicos que reorganizam representações, identidades, pertencimentos e atitudes.