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Produção Acadêmica

Emergências ecofeministas Um estudo desde as práxis de coletivos de mulheres latinoamericanas e caribenhas

Tipo: Produção Bibliográfica
| Ano: 2022

Resumo

Esse documento é um dos resultados da pesquisa “Emergências ecofeministas: um estudo desde as práxis de coletivos de mulheres latino-americanas e caribenhas”, realizada com apoio da CLACSO e ONU Mulheres entre abril e setembro de 2021. A pesquisa propôs a apreensão das noções e perspectivas políticas que são construídas desde as práxis de coletivos e movimentos de mulheres que atuam num campo de “horizontes de emergências ecofeministas” na América Latina e Caribe. Foram considerados coletivos e movimentos que atuam nos seguintes processos: 1) de resistência a empreendimentos extrativistas e a contaminação; 2) de construção de alternativas econômicas e ecológicas em torno dos bens comuns (água, sementes, biodiversidade) e da alimentação (agroecologia); 3) de organização política e/ou produtiva e de educação popular relacionadas com a defesa do meio ambiente. Nestes processos coletivos situados, emergem saberes e práticas que entrelaçam feminismo e natureza, economia e política. A partir da sistematização dos materiais em diferentes formatos e linguagens - texto, áudio, vídeo, imagens - de 30 organizações e coletivos, a pesquisa permitiu analisar um conjunto de noções que emergem da práxis e se desdobram em perspectivas e propostas políticas. As noções analisadas e que orientam esse documento de políticas são: 1) sustentabilidade da vida e soberania alimentar; 2) justiça ambiental e climática; 3) defesa territorial, soberania dos povos e soberania energética; 4) bem viveres feministas; Lígia Amoroso Galbiati, Leila da Costa Ferreira, Márcia Maria Tait Lima, Renata Barbosa Reis y Renata Moreno 71 • Emergências ecofeministas • Lígia Amoroso Galbiati, Leila da Costa Ferreira, Márcia Maria Tait Lima, Renata Barbosa Reis y Renata Moreno 5) cuerpos-territorios/cuerpos- tierra; 6) sanación e acuerpamento. Por serem noções vivas e vinculadas a lutas concretas, termos semelhantes podem se desdobrar em estratégias e apostas políticas diferentes. Nesse documento, destacamos os aportes dessa diversidade na construção de agendas para as políticas públicas, buscando elementos convergentes evidenciados na pesquisa. A resistência a projetos extrativistas e a defesa dos territórios é um elemento comum nas práxis dos coletivos e movimentos de mulheres estudados. Na América Latina e Caribe são constantes os ataques aos territórios e à população (com ênfase em comunidades e corpos específicos) que se dão a partir de megaprojetos relacionados com a expansão de fronteiras agrícolas para monocultivos e pecuária, mineração, barragens hidrelétricas, canalização de rios, desocupação e desmatamento para grandes empreendimentos de estrutura ou lazer. Esses projetos fazem parte da atuação de empresas transnacionais e contam com apoio de políticas governamentais, por meio de subsídios ou parcerias público-privadas. A forma como as mulheres protagonizam as resistências está relacionada com a responsabilização social pelo cuidado da vida e os trabalhos de reprodução. As mulheres dedicam suas vidas à resistência diante de projetos de mineração e enfrentam o agronegócio por sua responsabilização pelo trabalho doméstico e de cuidados. São as primeiras a perceber a contaminação por serem as responsáveis por buscar água para o consumo, a limpeza e a comida, por serem as que cultivam para o autoconsumo. Nessa resistência recuperam e compartilham a memória e a ancestralidade, mantém vivas e seguem criando práticas de compartilhamento de conhecimento e sementes. Resgatar e defender a memória fortalece a resistência no presente e permite imaginar o futuro nos próprios termos dos povos. 72 • Emergências ecofeministas • Lígia Amoroso Galbiati, Leila da Costa Ferreira, Márcia Maria Tait Lima, Renata Barbosa Reis y Renata Moreno Ao organizar a resistência ao avanço do capitalismo em suas vidas e territórios, as mulheres recuperam e inauguram práticas econômicas alternativas, que colocam a sustentabilidade da vida como objetivo. Essa oposição construída por elas denuncia a invisibilização do trabalho realizado pelas mulheres, a opressão de gênero, classe e raça, e a destruição da natureza em detrimento da acumulação privada. Desse modo, as propostas protagonizadas pelas mulheres buscam elaborar outras maneiras de organizar a sociedade como um todo. Convergem nessas práticas a relação com a natureza, com a alimentação e a perspectiva de organização solidária do trabalho e a redistribuição do cuidado. As mulheres projetam horizontes ecofeministas e elaboram perspectivas que rompem a lógica do pensamento ocidental, imbricam corpos-territórios, afirmam a interdependência e a ecodependência. Trata-se de um projeto de liberação coletiva e pessoal sem ser individualista, porque exerce a reciprocidade e a necessidade de estabelecer e fortalecer tecidos de resistência, sendo parte da sanación. Esse processo de cura e cuidado rompe a separação entre pessoal e coletivo, pois só se completa quando atinge os dois âmbitos compreendidos como indissociáveis. As práticas de coletivos de mulheres diversas, indígenas e camponesas, trabalhadoras urbanas, negras, comunitárias, desafiam a homogeneização e aportam perspectivas integrais para as políticas públicas. A seguir, enunciamos aportes que podem informar ações e políticas mais amplas que foram sistematizados a partir das práxis dos coletivos de mulheres que integraram este estudo.

Membros

Leila da Costa Ferreira
LIGIA AMOROSO GALBIATI
MARCIA MARIA TAIT LIMA
RENATA FALEIROS CAMARGO MORENO