BIOPOLÍTICA DE UMA “SÍFILIS" HEREDITÁRIA NO SERTÃO NORDESTINO: RESISTÊNCIAS À MODERNIDADE?
Resumo
Resumo do livro:
Esta coletânea trata de circunstâncias históricas em que o conhecimento e a prática científicos são fraudados para justificar políticas imbuídas de ideologias que só valorizam corpos saudáveis e racialmente superiores. Estamos falando das ações higiênicas e eugênicas perpetradas por governos e instituições que, sob conjunturas políticas, econômicas, sociais ou étnicas, decidem quais categorias de pessoas podem pertencer à humanidade e quais devem ser eliminadas. A ideia deste livro surgiu durante a realização do III Seminário de Ciências Humanas e Sociais no Campo da Saúde, que teve como tema “Ciência e Campo da Saúde: o corpo humano nos ideais higienista, eugenista e alienienista”, ocorrido no Instituto de Biociências da UNESP, campus de Rio Claro, em 2014. Porém, nem todos os participantes puderam enviar seus textos. Assim, convidamos o Prof. Dr. Sidney Aguilar Filho, a Dra. Neide Mayumi Osada e a Dra. Elizabete Mayumy Kobayashi, que contribuíram brilhantemente com seus artigos, mas que não estiveram presentes no evento. Tudo isto demandou tempo e uma nova organização dos textos. Quando tudo estava pronto, veio a famigerada pandemia da Covid 19 que paralisou o Brasil e o mundo. Agora que a vida encontrou o seu novo ritmo, e com o apoio do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP – Unesp Botucatu), estamos trazendo à luz artigos que mostram alguns exemplos de ações pautadas por idéias referentes à limpeza e pureza raciais. Mas esses artigos não esgotam as muitas possibilidades já vistas, na história, do uso de motivações eugênicas e higiênicas por governos, polícias, médicos, cientistas, religiosos e pelo homem comum. Ironicamente, ou desgraçadamente, o cenário nacional e internacional, hoje, exibe um sem número de comportamentos criminosos movidos pelo preconceito contra mulheres, idosos, negros, pobres, adictos, refugiados, LGBTQIA+ e cultos religiosos que têm como substrato ideológico uma classificação qualitativa da humanidade, onde uns seriam mais humanos que outros e mais merecedores de viver em sociedade. Como alertou Primo Levi após o Holocausto: “Aconteceu, portanto pode acontecer de novo”. E está acontecendo. No contexto da pandemia e de um governo desumano, solo fértil para a barbárie, vivemos no Brasil um festival de ideias, propostas, ações e comportamentos claramente eugênicos e higiênicos, desde o Poder Executivo até o homem comum. Desde o presidente histrião do Brasil, que nega a eficácia das vacinas e diz, entre outras sandices, que negros pesam em arrobas, até o cidadão comum que considera eliminar idosos para liberar leitos dos hospitais para jovens e adultos produtivos. Por trás, mas não muito atrás, existe uma vontade de eliminar aquilo que atrapalha o “homem de bem” no seu ideal de um mundo sem contradições, de um mundo sem vida. Este é o lado cruel do uso da ciência. Mas não podemos nos esquecer da reação da maioria dos cientistas do Brasil e do mundo que vem enfrentando a pandemia, nas Universidades, nos hospitais e nos laboratórios, defendendo a ciência, e que não economizam esforços para criação de vacinas e medicamentos para, sim, salvar toda a humanidade com a sua rica diversidade. Ao lado destes profissionais, vicejam ações solidárias, voluntárias e de organizações não governamentais, expressões genuínas da dádiva voltadas para os mais vulneráveis, como distribuição de alimentos, medicamentos, acolhimento e demais cuidados, procurando suprir a indiferença de governos, ministros, mandatários e boa parte da classe empresarial. Enfim, nas próximas páginas o leitor poderá avaliar os esforços dos autores para compreender e interpretar situações históricas e contextos sociais onde vicejaram ideologias higienistas e eugenistas e, quem sabe, refletir sobre o nosso presente...
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