REFLEXIVE RELIGION: THE NEW AGE IN BRAZIL AND BEYOND BY ANTHONY D'ANDREA
Resumo
Desde o início da década de 1990, "Nova Era" consolidou-se como um termo recorrente nas ciências sociais da religião. Serviu para designar um movimento que, de forma bastante difusa, se estruturou a partir da contracultura dos anos 1960, promovendo um ideal de ruptura institucional e de cultivo da autonomia do sujeito. Nesses termos, trata-se de um fenômeno heterogêneo, descentralizado, pós-tradicional e não institucionalizado, cujo contorno estaria mais associado ao contexto histórico de seu surgimento e a um tipo particular de reflexividade mística do que a um conjunto específico de rituais e práticas devocionais. O fenômeno da Nova Era produz um deslocamento da atenção dos pesquisadores da religião para os fiéis, das igrejas para os buscadores. " Religião Reflexiva: A Nova Era no Brasil e Além", de Anthony D'Andrea , dialoga com a tradição dos estudos da Nova Era. Parte de seu esforço pode ser descrita como uma tentativa de avançar teoricamente um modelo de análise que tenha como referência o praticante, e não a prática.
Um dos objetivos do livro é oferecer um arcabouço teórico para a compreensão de espiritualidades alternativas do eu em geral, tomando como ponto de partida o reconhecimento de que a Nova Era é, mais do que mais uma religião, uma linguagem pragmática que reestrutura tradições para propósitos individuais (138). E, nessa linguagem proposta por D'Andrea, uma palavra se destaca: reflexividade. Como ele sugere, "novas formas de religiosidade são possibilitadas pela reflexividade da modernidade tardia como um processo contemporâneo que transforma projetos pessoais, coletivos e sociais" (16). Isso não significa que a reflexividade religiosa seja exclusiva da Nova Era brasileira. "Trata-se de uma dupla hermenêutica de ação que afeta o campo religioso em geral, resultando na reestrutura de tradições religiosas para o cultivo deliberado do eu" (20). Se há algo particular sobre a Nova Era, sugere D'Andrea, é que ela oferece possíveis instâncias de religiosidade reflexiva que ressoam intimamente com os cenários globalizados da modernidade tardia.
O segundo objetivo do livro é fornecer uma análise empírica da Nova Era no Brasil (1). D'Andrea deve enfrentar uma questão fundamental, cuja solução é uma marca registrada de sua obra: qual seria o símbolo distintivo de uma Nova Era no Brasil ou mesmo na América Latina? Nesse ponto, o livro de D'Andrea dialoga mais claramente com (embora também se afaste) parte significativa da tradição de estudos sobre a Nova Era realizados na América Latina. Há um relativo acúmulo de debate teórico sobre o tema da Nova Era na América Latina. 1 Desde a década de 1990, cientistas sociais têm apontado para uma ampla variedade de fenômenos associados a temas da Nova Era: feiras esotéricas em grandes cidades, centros de terapia holística e grupos que buscam resgatar tradições indígenas locais. Esse conjunto de fenômenos recebeu a atenção de antropólogos como Renée de la Torre e Cristina Gutiérrez, que identificaram três ramos principais da Nova Era na América Latina: popular, xamânica e esotérica. Na leitura de D'Andrea, enquanto a maioria dos estudos se dedica a casos indígenas e xamânicos, respectivamente enquadrados nos ramos neoindiano e neoxamânico, uma ampla variedade de sistemas religiosos, culturais e seculares foi agrupada sob o ramo neoesotérico abrangente, incluindo, curiosamente, o catolicismo, o espiritismo, os sistemas asiáticos, as paraciências e as psicologias alternativas (143). D'Andrea se afasta desse tipo de compreensão, reconhecendo que tais tipologias não são apenas incompletas, mas também que é um "erro presumir que a Nova Era reduz as principais religiões a reformulações ligadas às crenças tradicionais em magia" (143). Em suma, sua crítica às perspectivas analíticas dominantes sobre a Nova Era na América Latina é que "quando não sumariamente omitidos dos mapeamentos gerais, os sistemas seculares, psicológicos, asiáticos e ocultistas foram reduzidos à sua função terapêutica, negligenciando o papel fundamental de sua dimensão ética.
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