
Discurso de despedida de Andréia Galvão e Michel Nicolau Netto da direção do IFCH
Prezado reitor, prof. Paulo César Montagner; prezado coordenador geral da universidade, prof. Fernando Coelho
Prezadas Pró-reitoras e pró-reitores, diretoras e diretores de Faculdades e Institutos de nossa universidade e demais autoridades presentes
Prezados colegas, Ronaldo Almeida e Sávio Cavalcante, que no dia de hoje assumem a direção do IFCH
Querida comunidade ifchiana
Queridas amigas, amigos e familiares que nos acompanham, presencialmente e à distância
É com grande emoção que participamos desta cerimônia. Michel e eu estamos muito felizes em ver esse auditório tão cheio e é para nós uma imensa alegria passar o bastão para nossos queridos camaradas Ronaldo e Sávio. Uma tranquilidade encerrar este mandato e saber que deixamos o IFCH em boas mãos! Parabéns a vocês pela eleição e pela disposição em assumir essa tarefa tão importante para todos nós.
Despedidas como essa produzem, em quem se vai, sentimentos contraditórios: de um lado, a esperança de que a vida retorne a uma certa normalidade para que possamos retomar nossa rotina; de outro, uma sensação de vazio e um gostinho de saudade.
O exercício de cargos de gestão, em especial o de direção, nos dá uma perspectiva mais abrangente da universidade e constitui um grande desafio: descobrimos coisas que não conhecíamos e saímos sentindo que ainda há muito a aprender. 4 anos parecem ser uma enormidade de tempo, mas passam rápido. Quando a gente se dá conta, acabou, e já não há mais como concluir o que deixou inacabado pelo caminho, nem como mudar aquilo que, talvez, pudesse ter feito de modo diferente.
Mas este não é um momento para nos lamentar pelo que não foi possível realizar e sim para confraternizar, dar boas-vindas à nova direção, formada por Ronaldo, meu amigo há tantas décadas; e Sávio, amigo mais recente, já companheiro em tantas lutas. É, também uma ocasião para, reunindo alguns fragmentos de nossa memória e de nossa experiência, relembrar o que mais nos marcou neste breve espaço de tempo.
Gostaria de começar agradecendo às muitas pessoas que estiveram conosco nessa jornada. Em primeiro lugar, agradeço a Michel, companheiro de aventura, com quem tive o privilégio de conviver e de compartilhar cada decisão tomada pela direção, das mais complexas às mais corriqueiras. Não houve tarefas de maior ou menor responsabilidade entre nós. Sua extrema dedicação, sua leveza e seu bom humor tornaram tudo mais fácil, e até mesmo divertido. Sua imensa capacidade de trabalho e planejamento nos possibilitou avançar em muitas frentes simultaneamente. Michel é a pessoa que mais incorre em desvio de função neste instituto. Ele chuta e corre pro gol, tudo ao mesmo tempo agora, com toda calma e paciência do mundo! Não foram 50 anos em 5, mas certamente, pudemos fazer mais do que imaginávamos, embora menos do que gostaríamos.
Em segundo lugar, agradecemos, Michel e eu, a todas as pessoas que trabalharam mais diretamente conosco na administração e, em nome delas, agradecemos a toda a comunidade ifchiana: Nilton César Betanho, Guilherme Righetto Lopes, Mário de Gobbi, Rafael Martins, Devison de Abreu, Mariana Garcia, Patrícia Avanci e Fábio Guzzo que, em diferentes momentos, foram fieis escudeiros em nossas reuniões semanais de gestão. Agradecemos também a Reginaldo do Nascimento, Ricardo Cioldin, Ana Jaqueline Lopes, Eduardo de Nadai Chimetto, Sônia Beatriz Cardoso, Valdinéa Petinari, Humberto Innarelli, Felipe Tineu e Matheus Morais, coordenadores e supervisores responsáveis pelo bom funcionamento de diferentes setores do IFCH. Queremos também fazer dois agradecimentos especiais a funcionários que simbolizam a dedicação e a excelência dos trabalhadores do IFCH: Marli do Carmo Ribeiro da Silva, trabalhadora terceirizada da universidade, há 16 anos em nossa unidade, e Luis Antonio Benetti, um patrimônio do IFCH, que cuida tão bem de nossa comunidade. Os agradecimentos se estendem ainda a todas as e os colegas que assumiram cargos de chefia e coordenação durante nossa gestão e a quem não vou nomear, pois a lista é enorme.
Agradecemos à gestão de Tom Zé e, agora, a de Cesinha, pelas portas sempre abertas ao IFCH; aos membros do conselho universitário, pelo convívio e interlocução ao longo desses anos; às colegas diretoras e diretores, pelo companheirismo e solidariedade em torno de um projeto comum de universidade. Aproveito para agradecer novamente ao Consu pelo apoio às nossas propostas, especialmente a manutenção do Departamento de Demografia e a criação do curso noturno de História. Ainda não conseguimos avançar em relação ao curso noturno de Filosofia, mas saibam todos vocês que não desistimos e apoiaremos Ronaldo e Sávio para que sejam bem-sucedidos na aprovação dessa demanda tão cara ao IFCH.
Ainda no tópico agradecimentos, faço alguns de ordem pessoal. Começo pelas queridas amigas do “Brinde feminista”, que gestaram nossa candidatura e apostaram nas afinidades entre duas pessoas que mal se conheciam. Além de idealizar a gestão, Andréa, Bárbara, Josianne, Mariana e Nashieli se comprometeram integralmente com ela, assumindo cargos em nome de um sonho coletivo e ao qual esperamos ter minimamente correspondido. Agradeço também às amigas e amigos do grupo “IFCH resiste” que, em meio a inúmeros encontros festivos, celebraram cada vitória alcançada pelas políticas de ação afirmativa e pelo projeto plural, inclusivo e democrático de universidade no qual nos engajamos. Não poderia me esquecer do apoio entusiasmado do grupo “Cantina da Borghi”, cujos integrantes se encontraram há mais de 3 décadas na antiga cantina do IFCH, criando laços afetivos tão sólidos que sobreviveram até mesmo à demolição daquele espaço. Aliás, uma das decisões mais difíceis que tive que tomar ao longo do mandato foi autorizar a demolição de um lugar onde conheci tantas pessoas queridas e que fazem parte da minha vida até hoje. Enfim, temos uma nova cantina e isso é o que importa!
Por fim, agradeço imensamente o apoio de meu companheiro de vida Marcos, conselheiro e porto seguro de todas as horas, especialmente nos momentos mais decisivos, e de nossos filhos, Victor e Júlia, que compreenderam, não sem por vezes protestar, uma jornada que facilmente atravessava três turnos e que, em alguns momentos, beirou a escala 7X0.
Não pretendemos efetuar, neste último discurso, um balanço da gestão. Para isso, remetemos a um relatório que apresenta nossas principais ações e que está disponível para consulta pública em nosso site. Mas gostaríamos de destacar alguns pontos e para isso passo a palavra ao Michel.
Michel:
Assumimos nosso mandato em plena pandemia, o que foi um grande desafio. Na construção de nossa candidatura, conversamos com muitas pessoas e, até por isso, sempre consideramos nosso mandato um mandato de todos. Naquela construção, definimos 4 compromissos de campanha, que aqui relembramos:
- o fortalecimento das condições para desenvolver e aperfeiçoar o trabalho acadêmico;
- a valorização dos espaços de interlocução, representação política e convívio democrático;
- o bom uso de recursos financeiros, a melhoria da infraestrutura e o aprimoramento de normas internas;
- a garantia de melhores condições para o trabalho remoto e a adoção de um plano para a retomada das atividades presenciais.
Acreditamos ter cumprido esses compromissos. Entendemos que o IFCH é hoje um ambiente de trabalho e de convívio mais solidário, inclusivo, cooperativo e democrático. Ao mesmo tempo, colaboramos para que o IFCH fosse ativo na política universitária, posicionando-nos de modo firme e consequente em defesa de uma universidade capaz de reconhecer diferentes saberes e formas de produção do conhecimento. A versão do hino nacional cantada nesta cerimônia traduz esse compromisso com a diversidade, a inclusão, a resistência e a luta. A concessão do título de doutor honoris causa ao grupo Racionais constitui outra expressão desse compromisso e foi, certamente, um momento marcante de nossa gestão.
Gostaria, também, de falar algumas palavras pessoais. Em primeiro lugar, quero retomar a Andréia quando ela fala da mistura de sentimentos que nos toma: de um lado um alívio (e até uma sensação de dever cumprido), de um outro um vazio. Na verdade, sinto uma saudade antecipada talvez desde o começo do ano. Na última semana, mesmo em férias, quis curtir os últimos momentos e vim aqui todos os dias. Vim para trabalhar, mas especialmente para viver os últimos momentos naquele corredor onde, afinal, fiz tantos amigos, dei tantas risadas. Aliás, muitos dizem que nossa gestão foi leve, sorridente. Talvez tenha sido mesmo, mas especialmente foi uma gestão que sempre esteve ciente das cadeiras que ocupávamos. Todas as vezes que eu escrevia num e-mail ou num resumo biográfico que eu era diretor-associado do IFCH, o fazia com um orgulho imenso. Sim, porque foi o maior orgulho da minha carreira ter sido diretor-associado do IFCH e ainda mais na gestão de Andréia Galvão.
Então, além dos agradecimentos coletivos que a Andréia já fez, queria agradecer a meus colegas e amigos de departamento. Peço licença para um agradecimento especial para Mariana, Mário, Sávio e Bárbara. Começamos juntos, aprendemos juntos, cuidamos uns dos outros. Vocês, especialmente, cuidaram de mim e me ajudaram a manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo, como dizia Walter Franco.
À Bárbara, meu amor, também agradeço por sua sabedoria, que me guiou nos momentos difíceis da gestão, mas também por seu sorriso delicioso que celebrou comigo os momentos mais divertidos.
E ao agradeço ao Antônio, meu filho lindo, que entendeu que eu não podia ir quarta-feira para o Rio ver o Flamengo no Maracanã porque era dia de congregação. Mesmo assim, continuou me amando e permitindo que eu ame mais que tudo.
Por fim, agradeço a Andréia. Porque a nossa gestão, mas especialmente a amizade que nós construímos, me emociona. Nunca poderíamos imaginar que duas pessoas que mal se conheciam hoje estariam aqui unidas nessa despedida de forma tão amorosa. E tudo isso só é possível porque a Andréia é a pessoa mais generosa que conheço. Desde o início ela decidiu que a sua gestão seria dividida entre nós dois, como se fôssemos iguais. E isso foi tão sincero que um dia numa congregação, quando nós não concordamos com um assunto, ela virou para todos e disse que a direção não tinha posição porque estava dividida. Só uma pessoa como ela poderia ser tão generosa para colocar a minha opinião no mesmo patamar que a sua. E na verdade, eu só estou falando aqui porque ela pediu, quebrando um protocolo, pois o diretor-associado não fala nessas ocasiões. Sinto que meu nome seguirá o seu: Andréia e Michel, seremos para sempre. E não há lugar que goste mais de ler meu nome do que ao lado do seu.
Andréia:
Nesses 4 anos, o IFCH se manteve fiel à sua tradição e foi lócus de resistência e mudança. O contexto atual é distinto do momento em que assumimos, mas ainda enfrentamos desafios de monta. A crise do capitalismo e a crise ambiental afligem e ameaçam nossas condições de existência; as crises humanitárias se intensificam com o genocídio do povo palestino; o autoritarismo obscurantista continua a nos ameaçar, com uma ofensiva explícita do imperialismo à soberania de nosso país. Os ataques fascistas sofridos pelo IFCH em diversas ocasiões têm como propósito a destruição das universidades, das ciências e do pensamento crítico, não apenas no Brasil.
Durante esse período e a despeito das adversidades, nos mantivemos firmes em defesa dos princípios e valores democráticos que nos orientam. Ao mesmo tempo, por meio de nossas pesquisas e intervenções públicas, dialogamos com a população e convidamos as pessoas à reflexão e à ação, chamando a atenção para as questões urgentes de nosso tempo, como o avanço da extrema direita, a emergência climática, a desinformação, as desigualdades sócio-econômicas, as inúmeras formas de discriminação e opressão. Não nos furtamos à tarefa de imaginar novas possibilidades de futuro, propondo caminhos para uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.
Encerramos nossa fala com a lembrança das pessoas queridas de nossa comunidade que se foram: Roberto Romano, Ingrid Sayuri, Adriana Dias, Carlos Rodrigues Brandão, Hector Benoit, Marilza Aparecida da Silva, Ana Cláudia Lopes (Anita), Agnes Rodrigues Lemos e Márcio Damin. Perdemos, e muito, com a ausência de vocês!
Me despeço desejando uma excelente gestão aos queridos Ronaldo e Sávio e dizendo que foi uma grande honra representar e dirigir o IFCH, um instituto no qual me formei e do qual tenho orgulho de ser professora. Muito obrigada a todas as pessoas que fizeram parte desse processo!