IFCH empossa nova direção e reafirma seu papel na defesa da democracia
O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp deu início a um novo ciclo de sua história. Em sessão solene realizada na tarde desta segunda-feira, 4 de agosto, tomaram posse os professores Ronaldo Rômulo Machado de Almeida, do Departamento de Antropologia, como diretor, e Sávio Machado Cavalcante, do Departamento de Sociologia, como diretor associado, para o quadriênio 2025–2029.
A cerimônia foi presidida pelo reitor da Unicamp, professor Paulo César Montagner, e contou com a presença do coordenador geral da universidade, professor Fernando Coelho, além de pró-reitores, chefes de gabinete, diretores de unidades, representantes de órgãos colegiados, dirigentes sindicais e representantes da comunidade acadêmica. O auditório Fausto Castilho ficou completamente lotado com a presença de estudantes, servidoras e servidores técnico-administrativos e docentes do IFCH.
A nova direção assume em um momento institucional marcado por importantes conquistas e pela consolidação de um projeto coletivo iniciado em 2021, sob a liderança da professora Andréia Galvão e do professor Michel Nicolau Netto. Ambos conduziram a unidade durante a pandemia e apostaram em uma gestão compartilhada, horizontal e solidária. Para eles, o fortalecimento da vida acadêmica passa necessariamente pelo compromisso com a democracia, com a escuta ativa e com o engajamento da comunidade.
Durante a cerimônia, Andréia destacou a importância da memória e da continuidade institucional. A ex-diretora sublinhou que, diante de um cenário político global de retrocessos, marcado pela ascensão da extrema direita, pelo aprofundamento das crises humanitárias e pelo obscurantismo, o IFCH manteve-se como espaço de resistência, reflexão crítica e proposição de alternativas.
“Nesses quatro anos o IFCH se manteve fiel à sua tradição e foi lócus de resistência e mudança. O contexto atual é distinto do momento em que assumimos, mas ainda enfrentamos desafios. A crise do capitalismo e a crise ambiental afligem e ameaçam nossas condições de existência. As crises humanitárias se intensificam com o genocídio do povo palestino. O autoritarismo obscurantista continua a nos ameaçar com uma ofensiva explícita do imperialismo à soberania de nosso país", afirmou a professora. Ela também denunciou a escalada de violência contra universidades públicas, mencionando os episódios recentes de ataques fascistas, como os que o próprio IFCH sofreu nos últimos anos, e que voltaram a ocorrer em outras instituições nas últimas semanas. Para Andréia Galvão, esses ataques têm como objetivo a destruição do pensamento crítico, das ciências humanas e do papel social da universidade. "Estivemos firmes em defesa dos princípios e valores democráticos que nos orientam”.
A produção de conhecimento, as intervenções públicas e o diálogo com a sociedade foram, para ela, instrumentos fundamentais na defesa dos valores democráticos e dos direitos humanos. Ela lembrou ainda o protagonismo do instituto em debates centrais da atualidade, como a emergência climática, a desinformação e as desigualdades estruturais.
Michel Nicolau Netto reforçou a dimensão coletiva da experiência administrativa. Para ele, os compromissos que orientaram a gestão, como o fortalecimento das condições de trabalho acadêmicas, valorização da convivência democrática, uso responsável dos recursos e melhorias da infraestrutura, entre outros, foram cumpridos com o envolvimento de toda a comunidade. “Entendemos que o IFCH é hoje um ambiente de trabalho e de convívio mais solidário, inclusivo, cooperativo e democrático”, avalia Michel, que também destacou o esforço para que o instituto fosse cada vez mais ativo na política universitária, posicionando-nos de modo firme e consequente em defesa de uma universidade capaz de reconhecer diferentes saberes e formas de produção de conhecimento.
Entre as conquistas institucionais destacadas pela gestão que se encerra está a recente aprovação do curso noturno de História, que amplia as oportunidades de acesso à formação superior no IFCH e atende a uma antiga demanda da comunidade acadêmica. A direção também atuou firmemente para garantir a manutenção do Departamento de Demografia, assegurando a continuidade de uma área estratégica para a universidade. Ainda permanece como objetivo institucional a criação do curso noturno de Filosofia, iniciativa que, segundo Andréia e Michel, seguirá contando com o apoio da nova direção para sua viabilização nos próximos anos.
Outro momento marcante da gestão foi a concessão do título de Doutor Honoris Causa ao grupo Racionais MC’s, em reconhecimento à relevância cultural, artística e política de sua obra. A homenagem expressa o compromisso do IFCH com a diversidade, a luta antirracista e o diálogo entre a universidade e as vozes historicamente marginalizadas da sociedade brasileira.
Um momento significativo da fala dos ex-gestores foi a homenagem à equipe técnico-administrativa e aos trabalhadores terceirizados da unidade. Agradecendo à comunidade que sustentou o funcionamento do IFCH em todos os momentos, Andréia e Michel citaram nominalmente dois trabalhadores que simbolizam o compromisso e a dedicação de quem faz a universidade diariamente: Marli do Carmo Ribeiro da Silva, trabalhadora terceirizada da limpeza, com 16 anos de atuação no instituto, e Luís Antônio Benetti, servidor reconhecido pelo cuidado com a infraestrutura e com as pessoas da comunidade.
Tanto Andreia quanto Michel agradeceram amplamente a todas as pessoas que atuaram na gestão, mencionando setores, coordenadorias e colegas que assumiram funções administrativas. Ao final, fizeram um gesto de generosidade institucional e emocional ao reconhecer a amizade construída entre ambos ao longo do mandato como uma das maiores recompensas do período.
Em seu primeiro discurso como diretor, o professor Ronaldo Almeida destacou o simbolismo de estar à frente de um instituto no qual se formou, tanto na graduação quanto no mestrado, e onde atua como docente há mais de duas décadas. “Tenho me orgulhado de dizer que sou cria do ensino público, do fundamental à docência”, afirmou. Ronaldo contou que sua trajetória na Unicamp foi marcada por importantes políticas de apoio estudantil, como a bolsa de trabalho durante a graduação, duas iniciações científicas, o acesso ao restaurante universitário e a moradia estudantil — esta última conquistada por meio de intensa mobilização do movimento A Taba, que ocupou salas do Ciclo Básico no fim dos anos 1980. “Eu fiz parte da primeira leva de estudantes que foram para a moradia, após ocuparem aquela parte superior do Ciclo Básico. Eu, Roberto do Carmo, Arnaldo da Educação e Marcos Lopes do IEL moramos juntos”, contou Ronaldo, lembrando também a importância de pessoas como a professora Rachel Meneguello, que o auxiliou no início da graduação, e instituições como o Cebrap, onde foi pesquisador após seu doutorado na USP.
O professor Ronaldo relembrou que Sávio Cavalcante, por sua vez, teve seu primeiro vínculo com a Unicamp ainda na infância, integrando a primeira turma da creche universitária voltada aos filhos de trabalhadores e estudantes, hoje parte da Divisão de Educação Infantil e Complementar (DEdIC), evidenciando a importância das políticas de acesso e permanência, que transformam a vida de quem passa pela universidade e fortalecem seu papel social.
Ronaldo também destacou as transformações recentes no perfil do corpo discente, resultado direto das políticas de acesso e inclusão da Unicamp. Para ele, a presença de “outros corpos, outros saberes, outras experiências sociais” tem renovado o ambiente acadêmico e produzido mudanças concretas na dinâmica e no conteúdo das aulas. “A crescente diversidade econômica, étnico-racial e de gênero é hoje a realidade de nossas salas de aula. E ressalte-se que o IFCH e seus quadros foram fundamentais para o debate na universidade sobre esses temas", afirmou. “Mas queria dizer aqui que o IFCH tem pretensões maiores de debater os rumos da universidade, para além das áreas talvez classicamente associadas a nós.”
Ronaldo Almeida ressaltou que a função da direção do IFCH deve ser exercida com escuta ativa, articulação e presença constante junto à comunidade. Para ele, sua tarefa não significa apenas ocupar a linha de frente, mas saber estar ao lado ou até atrás, apoiando e sendo apoiado conforme as necessidades coletivas. “Ficar junto numa direção é mais do que ficar à frente. É estar junto, às vezes atrás, empurrando; às vezes sendo empurrado por ela.”
O novo diretor do IFCH relembrou em seu discurso a memória do professor John Manuel Monteiro, ex-diretor do IFCH falecido em 2013. “John tinha reconhecimento intelectual e uma postura institucional exemplar. Trabalhei com ele e aprendi muito. Sua fleuma, sua gentileza e compromisso são inspiração para este momento.”
O professor Ronaldo também projetou os desafios do novo ciclo. Defendeu a ampliação da internacionalização, mencionando a experiência atual de sala de aula com estudantes estrangeiros e o potencial da Unicamp em atrair talentos do mundo todo. Agradeceu a disposição de Michel Nicolau em assumir a representação do IFCH no processo de internacionalização da universidade e propôs a retomada de debates interdepartamentais sobre a conjuntura nacional e internacional.
A cerimônia foi encerrada com falas do vice-reitor Fernando Coelho e do reitor Paulo César Montagner, que saudaram a nova direção e reconheceram a relevância do IFCH na história da Unicamp. Ambos reiteraram o compromisso da universidade com a valorização das ciências humanas e com os princípios de inclusão, democracia e qualidade.
Saiba mais:
Discurso de despedida de Andréia Galvão e Michel Nicolau Netto da direção do IFCH
Discurso de posse de Ronaldo de Almeida como novo diretor do IFCH