Esta pesquisa investigou processos de subjetivação e produção de identidades relacionados a gênero, raça, política e estética, elegendo como recorte empírico o mercado de beleza voltado para cabelos crespos e cacheados e a produção de discursos que valorizam estes tipos de cabelos.
Nos últimos anos, mulheres que se identificam como crespas e cacheadas estão abandonando os alisamentos e engajando-se na experiência da transição capilar, voltando aos seus cabelos naturais. Nas redes sociais, proliferam grupos no Facebook, canais no Youtube e perfis no Instagram dedicados ao assunto. Marcas de cosméticos têm investido maciçamente em novos produtos para cabelos crespos e cacheados e muitos cabeleireiros têm buscado cursos específicos voltados para o tratamento destes cabelos. Neste cenário, a relação tensa e complexa entre mercado e política é reforçada, pois os cabelos naturais levantam debates sobre racismo, ancestralidade, empoderamento, representatividade e padrões de beleza.
A investigação teve como base o trabalho de campo realizado em espaços online e offline, seguindo os trânsitos das interlocutoras e as relações entre marcas, consumidoras, profissionais da beleza, influenciadoras digitais e ativistas do cabelo natural. A etnografia nos espaços online abrangeu a observação e análise de canais do Youtube sobre o tema e de perfis de marcas de cosméticos no Instagram. Nos espaços offline, a pesquisa etnográfica abrangeu eventos do mercado da beleza, encontros específicos promovidos por marcas que produzem cosméticos para cabelos crespos e cacheados e cursos e palestras online ministrados por cabeleireiros especialistas em cabelos crespos e cacheados reconhecidos pelo mercado.