O semiárido brasileiro enfrentou entre 2011-2019 a mais severa seca dos últimos 60 anos. Esses recorrentes períodos de seca podem ter suas frequências e intensidades aumentadas pelas mudanças climáticas. Na divisa dos estados da Bahia e de Pernambuco, no Vale do Submédio do Rio São Francisco (VASF), localiza-se a região de Petrolina/Juazeiro, reconhecida pela produção de uvas. Essa atividade é dependente de tecnologias de irrigação e dos recursos hídricos fornecidos pela bacia do Rio São Francisco. O objetivo desta tese foi analisar como o período de seca de 2011-2019 afetou as vulnerabilidades e as dinâmicas socioclimáticas relacionadas à atividade vitícola e aos viticultores dos Projetos Públicos de Irrigação (PPIs) Bebedouro e Nilo Coelho. Para isso empregou-se uma análise integrada (indicadores biofísicos e socioeconômicos, qualitativos e quantitativos), com a aplicação de métodos mistos de pesquisa. A Introdução e o Capítulo 1 trazem uma extensa contextualização do desenvolvimento da viticultura irrigada na região, bem como da estrutura de gestão dos PPIs e a caracterização do período de seca. O Capítulo 2 apresenta as abordagens teóricas que embasam os métodos empregados na pesquisa. O Capítulo 3 analisa as diferentes perspectivas dos atores da região em relação aos modos de uso da água pelos viticultores, alcançada por meio das seguintes técnicas participativas: Repertory Grid Technique (RGT) e Participatory Rural Appraisal (PRA). Resultados: em secas extremas, como a observada de 2011 a 2019, estratégias emergenciais foram adotadas quando os agricultores assumiram que a falta de água era um problema coletivo. Embora abordada como um aspecto importante pela administração pública, a cooperação entre produtores de uva, atualmente, está mais relacionada a fins comerciais do que ao aumento da capacidade adaptativa das práticas agrícolas a eventos climáticos extremos. Os gestores distritais, por sua vez, deixam claro que o papel dos distritos é apenas disponibilizar água, e quem decide como melhor alocá-la é o agricultor. Do ponto de vista dos produtores de uva, ainda predominam decisões empíricas em vez de decisões baseadas em dados, que, por sua vez, são bem vistas pelos pesquisadores. Em relação à viticultura, as estações com chuvas intensas são percebidas como mais negativas do que as estações secas extremas. E, o risco de falta d’água é percebido como uma possibilidade remota. O Capítulo 4 operacionaliza o conceito de vulnerabilidade para indicar níveis e diferenças de exposição, sensibilidade e capacidade adaptativa à seca dos PPIs Bebedouro e Nilo Coelho. Resultados: no período de 2011 a 2019 o Reservatório de Sobradinho chegou a 1% de seu volume útil, mas o impacto não foi observado nos PPIs. No geral, a produtividade e o valor da produção de uvas aumentaram durante a seca. No entanto, dentro dos PPIs, o Índice de Sensibilidade indicou que Bebedouro foi mais sensível do que Nilo Coelho. Além disso, os vinhedos administrados por pequenos produtores foram mais sensíveis do que aqueles administrados por empresas. A análise dos dados disponíveis evidenciou o paradoxo existente no VASF, onde uvas e outras culturas intensivas em necessidades hídricas continuam crescendo apesar dos alertas relacionados à diminuição da precipitação e ao aumento da temperatura até o final deste século. Embora o contexto atual do cultivo de uvas de mesa na VASF pareça não levantar questões climáticas urgentes, a implementação de ações de adaptação às mudanças do clima não deve ser subestimada. Palavras-chave: risco climático, gestão de recursos hídricos, fruticultura irrigada, percepção
A VITICULTURA EM PROJETOS PÚBLICOS DE IRRIGAÇÃO: VULNERABILIDADES E DINÂMICAS SOCIOCLIMÁTICAS NA REGIÃO DE PETROLINA/JUAZEIRO
Data da defesa:
quinta-feira, 5 Dezembro, 2024 - 09:00
Programa:
Nome do Aluno:
Luiz Gustavo Lovato
Sala da defesa:
Auditório Daniel Hogan - Nepam