VIDA, SECA E MORTE: MORTALIDADE E A SECA DE 1877 EM FORTALEZA E NATAL (1870-1890)

Esta tese tem como objetivo analisar – a partir da concepção teórica e metodológica da área de Demografia Histórica – níveis, padrões e diferenciais de mortalidade o impacto da seca de 1877-1879 na paróquia de São José (Fortaleza/CE) e Nossa Senhora da Apresentação (Natal/RN), entre 1870 e 1890. Como fontes de dados utilizamos os recenseamentos de 1872 e 1890 e os registros paroquiais de óbitos, atrelado ao diálogo com os relatórios presidenciais da província do Ceará e do Rio Grande do Norte. Para investigar níveis e padrões de mortalidade foram utilizadas metodologias de estimativas de mortalidade adulta em que aplicamos o General Growth Balance (GGB) e para ajustes na mortalidade infanto-juvenil desenvolvemos um método específico. Os diferenciais de mortalidade por idade, sexo, causa, ano e local de naturalidade são analisados com base na análise de três recortes temporais: 1870-1876 (anterior a seca); 1877-1879 (durante a seca); e 1880-1890 (posterior a seca), de modo a possibilitar comparações de mudanças e continuidades para compreender o possível impacto da seca. Os resultados demonstram semelhanças e diferenças na dinâmica de vida, morte e seca entre as duas paróquias. Em relação as semelhanças, destaca-se ocorrência de doenças infecciosas endêmicas em todo o período de análise. As diferenças, ocorrem, principalmente, quanto a intensidade do impacto da seca. Natal não foi o destino preterido pelos habitantes dos sertões norte-rio-grandense. Fortaleza, por sua vez, era tida como um destino muito procurado entre os sertanejos, o que fez com que o acréscimo populacional registrado na cidade ocasionasse o aumento de óbitos registrados na paróquia de São José da Fortaleza. Essa relação entre migração, crescimento população e aumento da mortalidade foi constatada quando analisado a informação de local de naturalidade do registro de óbito. Entre os óbitos de pessoas naturais de fora da cidade de Fortaleza a maioria eram de crianças menores de 4 anos, indicando uma migração de famílias sertanejas. Esses resultados corroboram com a manutenção do sistema de secas do sertão na segunda metade do século XIX, em que o regime de secas associado à morte do gado e decadência da agricultura de subsistência levaram muitos a migrarem em busca de meios de sobrevivência entre 1877 e 1879. Além disso, seja em anos de seca ou não, as crianças eram maioria entre os óbitos registrados nas paróquias. Essa constatação reflete as condições de vida a que estavam submetidas a população das cidades de Natal e Fortaleza naquele período. O elevado número de óbitos entre crianças refletiu, inclusive, nos resultados dos métodos de ajustes da mortalidade adulta e infanto-juvenil. Para a paróquia de São José (Fortaleza/CE) entre 1872 e 1890, obtivemos uma expectativa de vida ao nascer de 30 anos para as mulheres e 27 anos para os homens. Embora as paróquias analisadas estejam em uma região em que o regime de secas é tido como agravante dos níveis de mortalidade, esses resultados não eram diferentes da média brasileira naquele mesmo período. Nesta perspectiva, as condições de vida, seca e morte estão fortemente relacionados ao contexto histórico vivenciado pela população brasileira durante as últimas décadas do império, caracterizado por pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde, saneamento básico, moradia, e alimentação adequada. A junção destes fatores reflete nos altos índices de mortalidade e baixa expectativa de vida da população da paróquia de São José (Fortaleza/CE) e Nossa Senhora da Apresentação (Natal/RN).

Data da defesa: 
quinta-feira, 16 Março, 2023 - 14:00
Membros da Banca: 
Ana Silvia Volpi Scott (Orientadora) - IFCH/Unicamp
Maísa Faleiros da Cunha - NEPO/IFCH/Unicamp
Luciana Correia Alves - IFCH/Unicamp
Carmen Margarida Oliveira Alveal - UFRN
Antonio Otaviano Vieira Junior - UFPA
Programa: 
Nome do Aluno: 
Dayane Julia Carvalho Dias
Sala da defesa: 
Sala Acessível I