Viagem ao país dos Ianques: sensibilidades políticas, escolhas republicanas e o conceito de Civilização em Adolfo Caminha, 1886-1896.

Os aspirantes a oficiais da Escola de Marinha a partir de 1858, cujo período de formação totalizava quatro anos, deveriam passar o último destes numa viagem de formação. Os conhecimentos em navegação, idiomas e outros eram testados na prática, assim como se lhes oferecia a chance de conhecer outros países e suas sociedades. Entre os guardas-marinhas que realizaram a viagem de formação no ano de 1886 estava o escritor cearense Adolfo Caminha (1867-1897), republicano, abolicionista e posteriormente opositor dos governos militares de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Mais conhecido por seus romances, em 1890, Caminha publicou uma primeira versão de um relato de sua viagem de formação na imprensa de Fortaleza, e em 1894 reeditou seus escritos e os publicou na capital em formato de livro, numa segunda versão. “No país dos Ianques” reúne as observações do então marinheiro sobre as populações, hábitos e organizações sociais dos lugares que visitou, em diferentes pontos das Américas. Privilegiando a experiência norte-americana, em contraste com as civilizações menos valorosas dos países de colonização ibérica (Brasil e Cuba), Caminha repercute o que viu e sentiu de maneira a compor um discurso de bases políticas. A participação social das mulheres, a estrutura das cidades e as questões raciais são os principais temas sobre os quais o autor se debruça para tecer suas comparações. A proposição central desta dissertação é a de que as duas versões do relato, publicadas após eventos importantes da história política brasileira – a Proclamação da República e a Revolta da Armada – buscam, através do elogio da cultura política democrática dos americanos do norte, afirmar a república como instrumento de combate à sociedade de favores e privilégios, principal alvo das críticas do autor, que ele frequentemente associava à cultura política monárquica e ao militarismo. Para tanto, mobiliza-se os conceitos de Linguagens Políticas em Quentin Skinner e John Pocock e Partilha do Sensível, de Jacques Rancière.

Data da defesa: 
sexta-feira, 15 Março, 2024 - 14:00
Membros da Banca: 
Izabel Andrade Marson - Orientadora (UNICAMP)
Josianne Frância Cerasoli (UNICAMP)
Jefferson Cano (UNICAMP - IEL)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Vinícius Barbosa Lima
Sala da defesa: 
Sala da Congregação - IFCH - UNICAMP