"Valentes homens de cores pretas": guerra e poder na África Central no século XVII

Esta dissertação investiga as relações de poder entre centro-africanos e portugueses na África Central no século XVII. Nesse período, os confrontos entre os estados do Congo, Dongo, Cassange e Matamba, entre outros, estavam reconfigurados pela presença europeia na região desde o final do século XV. A dissertação analisa as disputas entre os vários estados centro-africanos e entre eles e os portugueses, pelo domínio sobre pessoas, territórios e recursos, focalizando em especial os interesses dos centro-africanos aliados aos lusos. A análise se concentra nas guerras, pois os conflitos armados ocupavam lugar central nas lutas pelo poder nesse período da história centro-africana. São estudados a atuação de comandantes e combatentes, a formação dos contingentes militares, a hierarquia de comandos, as estratégias de luta, as tecnologias bélicas e as alianças militares entre os vários grupos envolvidos, privilegiando-se a região do Reino e Conquista de Angola e seu entorno. Trata-se de examinar, em particular, a complexidade dos contingentes militares centro-africanos chamados de “guerra preta”. A expressão aparece nas fontes, mas é geralmente entendida pela historiografia como simples contingentes de homens cedidos por líderes locais para auxiliar os grupos militares portugueses. Mais do que combatentes auxiliares em prol das ambições lusitanas, no entanto, os contingentes militares centro-africanos defendiam seus próprios interesses e protagonizavam as batalhas. Constituindo um elo de articulação entre centro-africanos e portugueses, esses contingentes tornavam-se um elemento chave nas relações de poder na África Central do século XVII, em um contexto de avanço do domínio colonial . A pesquisa investigou diversos documentos que tratam da atuação dos militares centroafricanos em algumas batalhas específicas: contra Jinga, em 1626; em Sengas de Cavanga, em 1646; em Ambuíla, em 1665; e em Pungo Andongo, em 1671.