União da Raça: Frederico Baptista de Souza e a Militância Negra Paulista no Brasil Pós-Abolição (1875 – 1960)

Nessa tese demonstro as mudanças e continuidades do movimento negro paulista inicial através da vida de Frederico Baptista de Souza (1875-1960). Embora ele seja mencionado em estudos anteriores, este é o primeiro trabalho escrito inteiramente sobre ele. Trabalhos acadêmicos antecedentes reduziram trajetória de Frederico ao ativismo em clubes sociais raciais e na imprensa negra, entre 1916 e 1924. Ao expandir essa perspectiva limitada, meu trabalho traz contribuições inéditas para a compreensão da mobilização negra brasileira; ele faz isso oferecendo uma nova perspectiva sobre a linha do tempo e os fundamentos conceituais do movimento. Ao explicar o ativismo de Souza, mostro que o movimento negro brasileiro não foi um fenômeno isolado no pós-abolição, pois se originou diretamente do catolicismo liberal dos abolicionistas do século XIX. A partir dessa ideia, Frederico e outros “homens de cor” formaram o Grêmio Kosmos, uma organização exclusivamente para negros brasileiros – fato que ilustra as agudas tensões raciais entre esse grupo e os imigrantes europeus. Frederico foi o principal líder desse grêmio desde sua fundação em 1908 até suas últimas atividades em 1932. Além disso, avanço na produção existente ao mostrar que o ativismo de sujeitos como Frederico não terminou nas primeiras décadas do século XX. Ele participou de sindicatos, partidos políticos, clubes recreativos e contribuiu para vários jornais negros até o final de 1930. Ele não apenas coordenou, produziu e editou jornais, mas também – ao lado de ativistas mais jovens – organizou uma coalizão de sociedades de negros brasileiros. Antes da formação da Frente Negra Brasileira (1931), Frederico buscou meios democráticos de reunir associações negras divergentes para criar a “união da raça”. Ele defendeu consistentemente o “levantamento”, ou em inglês uplifting, durante uma época em que a grande imprensa posicionava Booker T. Washington como um exemplo de validação de que o legado da escravidão não impedia o avanço social dos negros brasileiros. É verdade que, em comparação com a mãe, que foi uma mulher escravizada, o trabalho árduo de Frederico rendeu sucesso econômico, ainda que modesto. No entanto, sua história de vida mostra como os brasileiros negros cada vez mais reconheceram que seguir o exemplo de Booker T. Washington era insuficiente para progredir social e economicamente. A elite brasileira retratou Booker T. Washington como o “grande líder negro”, mas Frederico afirmou que, apesar da igualdade legal, os negros brasileiros não gozavam de justiça social. Não foi a incapacidade – como alegavam os eugenistas – que levou à desvantagem social dos negros, mas foi a consequência da cidadania não compensada que acompanhou a abolição. O afastamento de Frederico Baptista de Souza do liberalismo de Booker T. Washington e do hiper nacionalismo da Frente Negra Brasileira evidencia a natureza pluralista e dinâmica do ativismo negro brasileiro no século XX. Por fim, ao traçar a trajetória de vida de Frederico, ilustro como as ideias de combate ao racismo evoluíram ao longo do tempo. Argumento que decifrar a experiência dele é fundamental para compreender o movimento negro brasileiro mais amplo. Isso porque sua história mostra como as conexões com outras partes da diáspora negra foram reinventadas e reapropriadas de acordo com as necessidades locais na luta contra o preconceito.

Data da defesa: 
segunda-feira, 30 Janeiro, 2023 - 14:00
Membros da Banca: 
Lucilene Reginaldo - Orientadora (UNICAMP)
Mario Augusto Medeiros da Silva (UNICAMP)
Kim Diane Butler (Rutgers University)
Daniel Barros Domingues da Silva (RICE)
Wlamyra Ribeiro de Albuquerque (UFBA)
Antonio Sergio Alfredo Guimarães (USP)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Lívia Maria Tiéde
Sala da defesa: 
Sala Multiuso