Tópicas libertárias no pós-Segunda Guerra: notícias de todo lugar em uma época de intranquilidade

Este trabalho volta-se para discursos anarquistas (projetos, jornais, conferências, livros, manifestos etc.) que circularam entre 1945 e 1970 em diferentes partes do globo e mantinham em discussão concepções de utopia, de universalismo, de solidariedade. Por meio de extensa pesquisa documental, os discursos libertários foram tomados em meio a linguagens políticas, entendidos como mecanismos de produção de um saber por meio do qual o anarquismo se constituía àquela época, inserido em um debate transnacional, no qual fronteiras cediam à circulação de narrativas e ideários, ao mesmo tempo em que limites e lugares comuns foram confrontados e desnaturalizados. No primeiro capítulo, o conceito de utopia foi retomado para se compreender os projetos anarquistas e a maneira como eles criticaram a distopia capitalista/liberal e projetaram uma eutopia libertária, atualizando o próprio entendimento da utopia ao situá-la em um horizonte de expectativas verossímil, datado e baseado na paz e na promoção de um constante cessar-fogo. No segundo capítulo tratamos da concepção universalista do pensamento libertário e, simultaneamente, da problemática relativa às fronteiras, compreendendo esse debate como fundamental para analisar o princípio federalista e, por extensão, a ideia de “confraternização universal” no ideário anarquista. O terceiro capítulo tem por objeto a solidariedade, conceito proposto para rivalizar com o individualismo característico do sistema liberal, analisado não somente a partir de princípios teóricos, por meio de conferências, palestras, manifestações contra o fascismo, mas também ações, como a ajuda prestada a refugiados políticos, dentre outras medidas orientadas pela tópica do acolhimento, pelo cuidado dispensado ao outro. A arte, por fim, tema do quarto capítulo, desempenhou o papel de inserir no horizonte do seu público a verossimilhança e a eficácia da utopia, do universalismo e da solidariedade. Por intermédio das práticas artísticas, entendidas em meio à atualização da pauta anarquista no período, seria possível construir um campo de experimentação no qual as ideias libertárias poderiam ser efetivadas, vivenciadas e propagadas, minando os desdobramentos e valores associados à guerra, como trevas, fronteiras e individualismo. Esta concepção de arte, fundamentada na aliança entre estética e vida, não partiu de uma elaboração exclusivamente anarquista, mas foi apropriada pelos militantes como forma de combate à alienação e ao autoritarismo da sociedade vigente. A estética, com seu inesgotável potencial para instruir e incentivar a ação, viria a se tornar uma ferramenta a serviço da sensibilidade libertária.

Data da defesa: 
quarta-feira, 18 Dezembro, 2019 - 17:00
Membros da Banca: 
Josianne Frância Cerasoli - Presidente (UNICAMP)
Allyson Bruno Viana (UECE)
Christina da Silva Roquette Lopreato (UFU)
Izabel Andrade Marson (UNICAMP)
Raquel Gryszczenko Alves Gomes (UNICAMP)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Cláudia Tolentino Gonçalves Felipe
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Unicamp