Sua bandeira na Aruanda está de pé. Caboclos e espíritos territoriais centro-africanos nos terreiros e comemorações da Independência (Bahia, 1824-1937)

Essa tese busca analisar como se articularam noções religiosas, sociais, políticas e identitárias em torno da figura do caboclo, presente nos cultos afro-brasileiros e também protagonista da festa “cívico-popular” que comemora a Independência do Brasil na Bahia, onde centro-africanos provavelmente tiveram participação importante na criação e manutenção de seu símbolo.

O culto a caboclo, mais conhecido e abordado pelas ciências sociais nos estudos sobre a Macumba carioca, Umbanda, na Pajelança amazônica, Jaré do Maranhão, entre outros, e tacitamente reconhecido como figura principal nesses contextos, foi tratado ao longo do tempo como a síntese da mestiçagem no Candomblé, e fruto de profundas interações entre africanos e ameríndios, o que de certa maneira significava deteriorar a pureza africana pretendida nesses terreiros. Seu lugar no panteão afro-brasileiro foi devidamente dissimulado, dando lugar às marcas de “pureza” e “tradição” próprias do discurso de africanidade muitas vezes presente nesses cultos. Em uma análise mais profunda, no entanto, é possível reconhecer no complexo que envolve o culto a Caboclo elementos fortemente ligados às cosmovisões dos povos da zona Atlântica da África Centro-Ocidental, especialmente na região que compreende três grandes culturas regionais: Kongo, Umbundu e Ovimbundu. Esses grupos compartilhavam bases culturais similares, interagindo continuamente entre si, o que facilitou a forja de uma identidade calcada em heranças culturais comuns na experiência da diáspora.

A partir da análise de fontes escritas, como crônicas de missionários, relatos de viajantes e periódicos, combinadas a fontes de outras naturezas, como vestígios de línguas centro-africanas no léxico do culto, a tradição oral dos pontos cantados e a cultura visual encontrada nesses cultos, é possível desvendar sentidos contidos em práticas culturais de centro-africanos e seus descendentes no contexto diaspórico, as quais servem como pistas para compreender de que forma suas noções cosmológicas compartilhadas se prestaram para o desenvolvimento de uma identidade partilhada. Identidade essa que, no desenrolar do cotidiano e dos embates sociais a que estavam submetidos, também servia de resistência ao peso da escravidão e seus desdobramentos na sociedade altamente racializada no Brasil do século XIX e primeiras décadas do século XX.

Data da defesa: 
sexta-feira, 28 Setembro, 2018 - 16:30
Membros da Banca: 
Prof. Dr. Robert Wayne Andrew Slenes - Presidente (UNICAMP)
Profa. Dra. Lucilene Reginaldo (UNICAMP)
Profa. Dra. Gabriela dos Reis Sampaio (UFBA)
Profa. Dra. Ivana Stolze Lima (Fundação Casa de Rui Barbosa)
Prof. Dr. Nielson Rosa Bezerra (UERJ)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Andréa Luciane Rodrigues Mendes
Sala da defesa: 
Sala de Projeção do Instituto de Filosofia e Ciências Huma nas - UNICAMP

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