Às sombras dos cafeeiros. Propriedade fundiária e poder político: os tempos do ontem nos dias de hoje

 Objetiva-se uma análise histórico-sociológica da relação entre grande propriedade fundiária e poder político na sociedade jacutinguense. Secularmente baseada na cafeicultura, a economia local circunscreveu, como mediadora, a centralização e monopolização do poder político institucional em limitado grupo de famílias, de modo proporcionalmente simétrico à concentração fundiária. Um complexo cafeeiro que favoreceu atividades comerciais, bancárias e industriais subsidiárias e mobilizou, explorou e expulsou do, e no, campo, uma ampla diversidade de trabalhadores subalternos: escravos, colonos, meeiros, parceiros, arrendatários, temporários, eventuais, locais e migrantes. A permanência estrutural da relação entre o grande domínio territorial e a ascendência às tribunas do poder não é entendida como arcaísmo ou sobrevivência, mas característica de uma sociedade balizada por uma multiplicidade de tempos e de relações. A discussão orienta-se nas perspectivas e nas conceituações lefebvriana e martinsiana que primam pela leitura dialética da realidade social. Noções e conceitos de formação social e econômica, desenvolvimento desigual e o método regressivo-progressivo demonstram que a interação entre o social, o econômico e o político é dialética, mas de uma dialética triádica, dinâmica, que descortina a realidade como mosaico de liames, valores e instituições do passado, do presente e do futuro, que se anuncia nas frestas do atual. Nesse sentido, efetua-se uma análise da história da cafeicultura e das relações políticas, sociais e econômicas a ela atreladas umbilicalmente, tanto na esfera macrossociológica (grande escala, geral e mineira) quanto na dimensão microssociológica (escala local ou pequena escala). Empreende-se uma abordagem crítica e propositiva do método regressivo-progressivo para a compreensão da multidimensionalidade e da pluritemporalidade das relações sociais e para o desnudamento de que a reprodução da hegemonia política dos grandes cafeicultores em Jacutinga, MG, é mediada pela permanência da grande propriedade rural, não circunscrita ao aspecto material, mas enquanto sistema de valores e comportamentos, consolidando a ordem social fazendeiral. O método lefebvriano apresenta uma tríade que favorece a visão de conjunto, a percepção de uma sobreposição de estruturas e de épocas diferentes, ou seja, um momento descritivo, um momento analítico-regressivo e um momento histórico-genético. Partindo da realidade presente, de sua descrição, o sociólogo regressará ao passado, aos momentos de antes, recuperará a dinâmica do processo histórico, procurará descobrir a datação de cada relação e instituição e retornará (retomará o) ao presente, não mais obscuro, explicado pela compreensão do processo que desembocou no resultado atual. Nestes termos, apresentamos uma discussão teórica de conceitos e noções do pensador francês Henri Lefebvre, com base na leitura do sociólogo José de Souza Martins, uma descrição da conjuntura cafeeira nacional, estadual e municipal e a regressão-progressão da sociedade cafezista geral, mineira e jacutinguense, focalizando, nesta última, o poder político germinado, alimentado, reproduzido e ampliado às sombras dos cafeeiros.

Data da defesa: 
quinta-feira, 16 Março, 2023 - 14:00
Membros da Banca: 
Profa. Dra. Marilda Aparecida de Menezes - Presidente
Profa. Dra. Emília Pietrafesa de Godoi - Titular
Profa. Dra. Maria Aparecida de Moraes Silva - Titular
Profa. Dra. Regina Aparecida Leite de Camargo - Titular
Prof. Dr. Willliam Héctor Gómez Soto - Titular
Profa. Dra. Vanilde Ferreira de Souza Esquerdo - Suplente
Profa. Dra. Verena Seva Nogueira - Suplente
Prof. Dr. Jaime Santos Júnior - Suplente
Nome do Aluno: 
Ediano Dionísio do Prado
Sala da defesa: 
Teses I