No dia 11 de outubro de 1967, uma quarta-feira, os jornais brasileiros noticiaram a confirmação da morte de Guevara ocorrida dois dias antes. Logo no dia seguinte à notícia, Claudio Tozzi iniciava um painel, "Guevara, vivo ou morto…", em homenagem ao guerrilheiro e à revolução propagada por ele. Em dezembro do mesmo ano, esse trabalho foi violentado por policiais que forçaram a retirada da obra do IV Salão de Arte Moderna do Distrito Federal. Esta dissertação inicia com uma leitura, a partir de uma abordagem fenomenológica, do painel de Tozzi e, em seguida, aborda a repercussão desse na imprensa. O artista, estudante de arquitetura, aproximou-se de um pensamento específico em relação ao fazer artístico, o que o levou pensar a obra de arte enquanto um produto do trabalho realizado sobre um campo estruturado. Ademais, Tozzi esteve muito envolvido com o movimento estudantil e também esteve próximo da luta armada como resistência à ditadura militar instaurada no Brasil com o golpe de 1964, principalmente a partir de seu envolvimento com a Ação Libertadora Nacional (ALN) de Carlos Marighella. Sendo assim, o painel, que foi o primeiro de uma série de trabalhos dedicados a Guevara, iniciou o memorial do artista ao líder da Revolução Cubana e operou dois desígnios conectados: homenagem ao ideólogo do foco guerrilheiro e trabalho do luto. Sobre o segundo, podemos dizer que a repetição das imagens de “Che”, que ocorre em vários trabalhos produzidos por Claudio Tozzi no período 1967-1968, estava relacionada à tarefa psíquica de desprendimento do objeto da perda. Entretanto, os Guevaras, assim como as Marilyns de Warhol, são marcados por um caráter paradoxal: há o desligamento da libido em relação ao objeto perdido, ao mesmo tempo que há uma fixação obsessiva neste e, talvez, uma identificação com este, que resultaria em uma abertura para o significado traumático. A seguir, identificamos uma série de trabalhos realizados por outros artistas a partir da apropriação de fotografias de “Che” Guevara, como os argentinos Antonio Berni, Roberto Jacoby e Carlos Alonso, com os quais efetuamos algumas aproximações e distanciamentos em relação às obras de Tozzi. Por fim, problematizamos a presença da morte na pintura. Desde uma leitura comparativa efetuada entre obras que apresentam cadáveres em diversos períodos da história da arte, concluímos que as fotografias de Guevara morto nos propõem, de um lado, uma narrativa do martírio, tal qual o de Jesus Cristo, mas que, por outro lado, reforçam a imagem do cadáver como exemplo de uma advertência política.
Sob o signo da morte: aparições de "Che" Guevara no trabalho de Claudio Tozzi (1967-1968)
Data da defesa:
quinta-feira, 23 Fevereiro, 2017 - 18:00
Membros da Banca:
Prof. Dr. Nelson Alfrego Aguilar (IFCH/UNICAMP) - Orientador
Prof. Dr. Francisco Inácio Scaramelli Homem de Melo (FAU/USP) - Membro
Prof. Dr. Gabriel Ferreira Zacarias (IFCH/UNICAMP) - Membro
Prof. Dr. Miguel Wady Chaia (PUC/SP) - Suplente
Programa:
Nome do Aluno:
Alexandre Pedro de Medeiros
Sala da defesa:
Sala de Projeção