Na presente tese, busco defender que a analítica de Heidegger na obra Ser e Tempo pressupõe que a descoberta do ser é dependente de contexto situacional do Dasein, o que implica um contextualismo ontológico. Esta visão, sobretudo, supõe que a semântica (relação entre signo e significado) é fundada na pragmática (relação intérprete, interpretante e signo). Esta tese é justificada com base fato de que o significado de um signo varia e depende de elementos como intenção, propósitos, ambiente, tempo etc. que são interpretados como fenômenos contextuais. Supondo-se uma correlação entre ser e significado, e signo e ente, podemos admitir um contextualismo ontológico se a descoberta do ser for dependente de fenômenos contextuais. Se a resposta à questão sobre o sentido do ser depende de uma analítica existencial, e esta é condição de possibilidade de todas as ontologias, podemos concluir que o modo como Heidegger desenvolve as teses de Ser e Tempo pressupõe um contextualismo e uma pragmática. Conforme a tese que defendemos, o contexto situacional do Dasein no qual o ente vem de encontro articula e restringe o horizonte modal e temporal, ou seja, o ser, e, assim, torna possível e/ou atual o comportamento para com o ente. Mas, para tanto, o intérprete deve ser pragmaticamente competente, ou seja, deve estar familiarizado com o contexto situacional, o que implica que deve ter uma prévia compreensão do contexto no qual se encontra. Em Heidegger, a pré-compreensão constitui a abertura ao ser, o ai (Da) do Dasein. A familiaridade e a prévia compreensão são fenômenos contextuais em razão de serem relativos ao intérprete, ou seja, ao Dasein. Heidegger também supõe que a abertura ao ser, ou seja, à recepção e acesso livre ao ser, é equiprimordialmente constituída pelo encontrar-se (sob uma tonalidade afetiva) e o discurso. A ideia de contextualismo ontológico nos permite uma explicação mais clara sobre a tese de que o discurso é o fundamento ontológico existencial da linguagem. O conceito de discurso (Rede) é explicitado como articulação relativa à significação da compreensibilidade do encontrar-se (sob uma tonalidade afetiva) no ser-no-mundo. O que implica que o ser da fala e da linguagem é fundado na existência. Se “ser” designa a unidade simples de estruturas modais e temporais do ente, e que linguagem, palavra e fala são entes, a estrutura modal e temporal desses entes é fundada no modo de ser da existência e, portanto, é essencialmente dependente de contexto existencial. O discurso articula o sentido, ou seja, opera disjunções e conjunções na estrutura da compreensibilidade prévia e uma totalidade de significações que fundam a interpretação e o enunciado. Considerando que a interpretação é uma elaboração e explicitação da compreensibilidade prévia, o discurso torna possível tal elaboração e explicitação a partir de disjunções e conjunções. O discurso constitui a abertura e, por conseguinte, é uma estrutura pragmática e contextual. Em função disso, embora o discurso seja o fundamento da linguagem e da fala, não pode ser confundido com elas. A tese de que a significação vai ao encontro da palavra e que a palavra nasce da significação pressupõe que o significado de uma palavra é dependente de contexto. Esta tese reflete a tese ontológica de que a descoberta do ser do ente é articulada e restringida pelo contexto situacional da abertura e, por conseguinte, depende do ser-no-mundo, o que nos permite concluir que a analítica existencial se compromete com um contextualismo ontológico na medida em que a pragmática ontológica condiciona a descoberta do ser.
SEMIÓTICA E CONTEXTUALISMO ONTOLÓGICO EM SER E TEMPO
Data da defesa:
terça-feira, 30 Maio, 2023 - 13:00
Membros da Banca:
Presidente Prof. Dr. Rafael Rodrigues Garcia IFCH/ UNICAMP
Membros Titulares Dr. Adriano Ricardo Mergulhão Pesquisador Sem Vínculo
Dr. Marcos Cesar Seneda Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Dr. Edgar de Brito Lyra Netto Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Dr. Fernando Costa Mattos Universidade Federal do ABC
Membros Suplentes Profa. Dra. Monique Hulshof IFCH/ UNICAMP
Dr. André da Silva Porto Universidade Federal de Goiás
Dr. Stefano Domingues Stival Pesquisador Sem Vínculo
Programa:
Nome do Aluno:
Silvio Carlos Marinho Ribeiro
Sala da defesa:
Sala da Congregação