QUEM NÃO TEM BALANGANDÃS NÃO VAI AO BONFIM: UMA ANÁLISE DO DISCURSO AUTORIZADO DO IPHAN SOBRE A LAVAGEM SIMBÓLICA DAS ESCADARIAS DA IGREJA DO BONFIM EM SALVADOR- BA (1937-2013)

A Festa do Nosso Senhor do Bonfim ocorre na cidade de Salvador desde o século XVIII e na atualidade continua atraindo milhões de fiéis que caminham por oito quilômetros para acompanharem a lavagem das escadarias e do adro da igreja do Bonfim protagonizadas pelas filhas e mães de santo dos terreiros de candomblé da cidade. A partir do breve contexto apresentado, o objetivo desta pesquisa foi analisar o corpo documental do processo de registro da celebração como patrimônio imaterial que ocorreu no ano de 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A pesquisa foi construída a partir da perspectiva teórica do discurso autorizado do patrimônio Authorized Heritage Discourse (AHD), que selecionou determinados elementos de matriz africana para justificar a importância da celebração a partir dos valores legitimados da baianidade. Para compreender como a baianidade interferiu na justificativa de registro, estudou-se a história da Festa do Bonfim, seu início como uma devoção católica de origem portuguesa e a sua transformação em uma celebração popular, tendo como protagonistas grupos religiosos de matriz africana. Buscou-se estudar a trajetória preservacionista do IPHAN, a fim de compreender as políticas de tombamento e as políticas de salvaguarda. Foi realizada também uma discussão sobre a importância do patrimônio de matriz africana para os debates antirracistas. Toda essa reflexão, contribuiu para a análise do discurso autorizado presente na documentação que resultou no processo de registro da celebração. Os documentos apresentavam uma justificativa pautada na concepção da baianidade e enfatizava a importância do povo de santo para a festividade, mas ao mesmo tempo, defendia que a tutela da Festa deveria ficar a cargo da igreja católica, procurou-se, portanto, compreender o contexto em que o discurso da instituição foi construído. Desta forma, se fez necessário estudar a produção intelectual de Salvador na década de 1930, como a contribuição de pesquisadores nacionais e internacionais na construção da ideia de democracia racial e o impacto dos congressos Afrobrasileiros de 1934 e 1937 para a população negra de Salvador. Os temas estudados conduziram a pesquisa para a década de 1970, a fim de compreender como o conceito de baianidade contribuiu para a consolidação do mito da democracia racial, assim como, para o fomento do turismo soteropolitano. Com o explanado foi possível analisar que o discurso autorizado que legitimou o registro da Festa do Bonfim, faz parte, do que a pesquisa denominou de prática discursiva, que ocorreu desde pelo menos a década de 1930 e que selecionou certos elementos de matriz africana para atender os anseios dos grupos dominantes, ao mesmo tempo que, pouco contribuiu para a integração do negro na sociedade e na construção de uma política patrimonial antirracista.

Data da defesa: 
quinta-feira, 30 Janeiro, 2025 - 14:00
Membros da Banca: 
Aline Vieira de Carvalho - Orientadora (UNICAMP)
Ivia Minelli (UNICAMP)
Luana Cristina da Silva Campos (UFMS)
Yussef Daibert Salomão de Campos (UFG)
Camilla Agostini (UNICAMP)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Luciana Cristina de Souza
Sala da defesa: 
Sala da Congregação - IFCH - UNICAMP