As Reservas Extrativistas (Resex) são áreas protegidas que objetivam conservar recursos naturais florestais e/ou marinhos de uso comum, garantindo os direitos territoriais das populações tradicionais que vêm construindo seus modos de vida nessas áreas ao longo de gerações. Seu desenho institucional foi concebido e vem evoluindo a partir de arranjos de cogestão. Esta Tese tem o objetivo de analisar e explicar avanços nos processos de cogestão em Resex costeiras e marinhas brasileiras, no que diz respeito às possibilidades de participação qualificada das populações tradicionais nesses processos. A pesquisa teve como objetivos específicos (i) compreender como os processos de governança têm ocorrido nas Resex costeiras e marinhas do Brasil, (ii) identificar quais são os instrumentos de cogestão e como eles têm sido implementados nas Resex e (iii) investigar os fatores que explicam avanços de cogestão em Resex, no que diz respeito ao engajamento comunitário na governança. A abordagem metodológica do projeto está baseada na Teoria Fundamentada e o delineamento da pesquisa foi desenvolvido em duas fases. A fase I, teve o objetivo de compilar as informações disponíveis das Resex marinhas federais, a partir de análise documental e entrevistas semiestruturadas com gestores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) responsáveis pelas unidades (n=21). Na fase II, foi feita uma análise da trajetória de governança de duas Resex, Prainha do Canto Verde (CE) e São João da Ponta (PA), através de entrevistas semiestruturadas com lideranças comunitárias, gestores públicos e parceiros externos das Resex (n=86), além de observação direta e participante e análise documental. A análise da evolução dos instrumentos de cogestão nos mostrou a existência de um arcabouço normativo sofisticado, que foi se transformando ao longo do tempo. Essas instituições formais tratam de: (i) Reconhecimento fundiário e de beneficiários do território, (ii) Ordenamento sobre os usos do território, (iii) Arenas formais de discussão e deliberação, e (iv) Programas e Políticas Públicas institucionalizadas em Resex. A pesquisa revela que os processos e os avanços de cogestão envolvem a interação entre estrutura e agência, e a integração, adaptação ou rejeição das instituições burocráticas frente àquelas socialmente construídas a partir da Bricolagem Institucional. Buscando se diferenciar de conclusões prescritivas para o “sucesso da cogestão”, os avanços foram contextualizados em uma perspectiva processual, e explicados a partir de duas categorias de fatores: fatores catalisadores (crises, ameaças e outros fatores de mobilização social, parcerias emancipatórias e identidade política) e fatores estruturais (pautados em recursos de poder comunitários e cidadania). Os fatores catalisadores e estruturais bem como as habilidades dos gestores locais influenciam diretamente os avanços no compartilhamento da gestão e o engajamento mais substancial das populações tradicionais nas tomadas de decisão.
PROCESSOS DE COGESTÃO E SEUS AVANÇOS EM RESERVAS EXTRATIVISTAS COSTEIRAS E MARINHAS DO BRASIL
Data da defesa:
sexta-feira, 4 Outubro, 2019 - 17:00
Membros da Banca:
Cristiana Simão Seixas (Orientadora)
Cristina Adams (Unicamp)
Fábio de Castro (Universiteit van Amsterdam)
Micaela Trimble Nuñez (South American Institute for Resilience and Sustainability Studies)
Claudia Conceição Cunha (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)
Lucia da Costa Ferreira (Unicamp)
Roberto Luiz do Carmo (Unicamp)
Eliane Simões – (UNIFESP / Campus Diadema)
Programa:
Nome do Aluno:
Deborah Santos Prado
Sala da defesa:
Auditório Daniel Hogan