A PRESENÇA BOLIVIANA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE-MINAS GERAIS: DINÂMICA MIGRATÓRIA E (RE)CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL

Migrar é um direito, previsto pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Dadas as condições às quais as fronteiras políticas entre os Estados Nacionais foram e são estabelecidas ― para dominação e por imposição ―, esse direito é constantemente cerceado e são inúmeras as dificuldades enfrentadas por migrantes. Esses sujeitos têm sua realidade delineada por conflitos e explorações de toda natureza ― espaciais, sociais, étnicos, laborais, econômicos, políticos, institucionais, psicológicos, emocionais ― e o Brasil espacializa tais conflitos. Frente ao cenário nacional atual, Belo Horizonte-MG insere-se na rota da migração e se destacam, entre os que chegam à sua região metropolitana, migrantes bolivianas e bolivianos. Inserida no Projeto Temático Observatório das Migrações em São Paulo - NEPO/UNICAMP, esta pesquisa teve como objetivo central conhecer as configurações e as especificidades que os processos imigratórios bolivianos assumem contemporaneamente na RMBH-MG. Ela se apoia na compreensão da produção e reprodução das dinâmicas demográficas, socioespaciais e laborais dos sujeitos da pesquisa. O estudo se debruça sobre a presença boliviana na RMBH-MG, investigando a dinâmica migratória desses sujeitos e a consequente (re)configuração territorial, que se concretiza na “territorialização da bolivianidade”. A migração Sul-Sul boliviana vincula-se à produção global da costura e configura territórios nos quais conectam-se, no âmbito de periferias metropolitanas, diferentes dimensões ― locais, regionais e globais. A indústria têxtil impulsiona fluxos migratórios e mobiliza bolivianas e bolivianos à migração transnacional e, uma vez no Brasil, ocorre a migração interna. Minas Gerais e seu tradicional setor têxtil passam a contar com a presença de fluxos migratórios bolivianos, que saem de São Paulo ― por questões laborais, socioeconômicas e políticas ―, ou diretamente da Bolívia. A aplicação de entrevistas qualitativas permitiu a compreensão da construção social da vida de bolivianas e de bolivianos e da relação desses sujeitos com a cidade, processo que identificamos e nomeamos como “territorialização da bolivianidade” na RMBH-MG. Em Ribeirão das Neves-MG ― município da periferia desta metrópole ―, a “territorialidade quadra-mundo” integra migrantes da Bolívia, além de os aproximarem de seu país a partir da vivência de costumes originários, ressignificados ao novo contexto metropolitano mineiro. A RMBH-MG (re)configura a migração boliviana oriunda de São Paulo ― origem da maior parte dos sujeitos da pesquisa ―, apontando novas dimensões na territorialização de bolivianas e de bolivianos em sua vida cotidiana.