Política, Paisagem e Cidade: criações, disputas e diálogos a partir de Saturnino de Brito

Esta tese examina a obra de Saturnino de Brito, profissional reconhecido no campo das engenharias ao longo da Primeira República no Brasil. Sua atuação o fez viajar por quase todo o território nacional elaborando planos de saneamento associados às obras urbanas naquele contexto de modernização do país. A partir de suas Obras Completas, publicadas entre 1943 e 1944, e em diálogo com os trabalhos sobre sua trajetória no campo da História da Cidade do Urbanismo, esta tese refletiu sobre a ênfase da historiografia sobre o engenheiro em dois enfoques: a) a morfologia dos planos de Brito b) os recortes locais de suas implantações. Para inverter esta abordagem, a tese analisou as posições e representações sobre política e natureza do engenheiro e, em seguida, retornou a abordagem sobre as cidades brasileiras, de maneira geral, conferindo destaque aos aspectos do seu pensamento associado ao positivismo, à política territorial urbana e ambiental e, por fim, às linguagens urbanísticas transnacionais. Algumas metodologias da história cultural, bem como referências teóricas do campo da história política, ambiental e urbana, foram utilizadas na análise das inúmeras passagens daquelas Obras Completas, bem como as disputas e diálogos ensejados por elas no contexto de suas produções. Com esse aporte, a tese reelabora enquadramentos acerca da obra do engenheiro, ampliando ao mesmo tempo o repertório do debate sobre esse legado e suas interfaces com aspectos pouco visitados em estudos anteriores. Sob um ponto de vista político, é possível demonstrar que Saturnino de Brito, progressivamente, deixou os seus laços parentais para construir posições autônomas ao lado de políticos liberais e positivistas em relação a conjunturas sediciosas, debates parlamentares, legislações, trabalho, cidadania e geopolítica, flutuando entre posições republicanas radicais e civilistas. Quanto as suas representações sobre a natureza, é notável sua maior sensibilidade aos comportamentos ecológicos dos territórios retratados, o que não o impediu de ainda assim projetar transformações ou melhoramentos materiais e ambientais com base em sua noção particular da mesologia, algo que perpassa o seu projeto político ensejado em representações sobre a evolução e a civilização. Ainda referenciado em sua leitura particular do positivismo, o engenheiro herda e atualiza representações da rede urbana brasileira segundo a tradição ocidental que desde a colonização vinha produzindo dados textuais e cartográficos o que se convencionou chamar de cidades desde a colonização. Além de se apropriar de alguns cânones, Saturnino de Brito também irá tencionar o “arquivo comprobatório” que vinha se constituindo nos debates transnacionais que deram origem a disciplina urbanística.