O PIRARUCU SOB OS EFEITOS DA CONSERVAÇÃO E MANEJO: TRAJETÓRIA, LUTA E CONFLITO, EM UMA REGIÃO AMAZÔNICA

Esta tese traz uma discussão sobre os movimentos do pirarucu (Arapaima gigas) em uma região amazônica. Esses movimentos permeiam diversos contextos e envolvem diferentes pessoas. No entanto, um ponto central desse movimento é a construção de um grafismo de sustentabilidade ambiental, concebido e elaborado por diversas mãos e instituições no Coraci, uma região do município de Maraã, estado do Amazonas, Brasil, local deste estudo. Assim, a partir deste lugar e desse grafismo do ideal de conservação, a relação com o pirarucu tem se transformado, embora não de maneira total. Mudam as técnicas de captura, os peixes escolhidos, as relações de organização dos pescadores, mas permanecem as percepções sobre como consumir a espécie. Tal transformação também está imersa em conflitos, especialmente a partir do direito de propriedade de um determinado grupo de pescadores, chamados localmente de manejadores, em oposição àqueles que não possuem esse direito, por não fazerem parte do grupo e por pescarem de forma ilegal, desrespeitando as regras do plano de manejo estabelecido pelo Estado, sendo considerados invasores. Para alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma etnografia com levantamento qualitativo, por meio de entrevistas, participação em reuniões, convivência nas comunidades e análise de dados produzidos por outros sujeitos (do Coraci e de Instituições Socioambientais), como atas, relatórios e outros documentos. Além disso, a pesquisa se fundamentou na minha experiência de campo com as comunidades locais, bem como na minha história pessoal e familiar enquanto pesquisador na região. Desse modo, a tese está organizada em cinco capítulos: o primeiro apresenta o território; o segundo aborda os ideais de conservação que chegaram ao local e seus efeitos; o terceiro discute as diversas formas de relação das pessoas com o pirarucu; o quarto trata do direito de propriedade relacionado à conservação e manejo da espécie; e o quinto foca no conflito, especialmente entre manejadores e invasores. Os resultados da pesquisa apontam para transformações, lutas, resistências, comunitarização, organizações, cooperações e disputas neste lugar específico, mas esses processos estão interligados com o ideal de conservação concebido de forma ampla para a Amazônia e o Brasil.