Em Roma, no final do século XVII o jesuíta Andrea Pozzo (Trento, 1642 - Viena, 1709) publicou um tratado de desenho intitulado A Perspectiva dos Pintores e dos Arquitetos, em edição bilíngue latim-italiano (Perspectiva Pictorum et Architectorum - Prospettiva dei Pittori ed Architetti). Esse tratado foi composto de dois volumes, impressos respectivamente em 1693 e 1700, e tinha por objetivo apresentar um modo prático e rápido de representar os mais diversos tipos arquitetônicos em perspectiva. Por esse caráter prático, a obra conheceu rápida difusão, sendo reeditada, impressa e traduzida em diversas línguas durante o século XVIII. Os conteúdos foram aplicados em diversas obras de pintura de quadratura, arquitetura, talha e cenografia para teatros, em diversas regiões, incluindo Portugal e o Brasil.
Esta tese tem por principal questionamento os mecanismos que fizeram com que o tratado alcançasse essa expressiva difusão, não apenas por uma edição que privilegiasse a circulação das imagens nele presentes, mas principalmente pela proposição clara e didática de métodos para se construir desenhos de perspectiva, utilizados em diferentes formas. Um dos meios evidentes dessa difusão foram as três traduções manuscritas em língua portuguesa que sobrexistiram desde o século XVIII, direcionadas particularmente à prática artística.
Para compreender essa difusão da obra retornamos à sua produção e o contexto artístico em que se inseria no final do século XVII. E por ser obra de um artista que circulou por diversas regiões da Itália chegando até Viena, enfatizamos os aspectos biográficos que possibilitaram o repertório de exemplos da sua própria trajetória que compõem o tratado. Demarcamos também as diferentes edições e formatos que a obra teve nesse processo de difusão para, então, chegar ao contexto de elaboração dos manuscritos de tradução em Portugal.
Considerando a importância de Perspectiva Pictorum et Architectorum no contexto artístico luso-brasileiro do século XVIII e XIX apresentamos, por fim, uma proposta de tradução comentada dos volumes do tratado, evidenciando o método e as questões que permitiram a sua grande circulação e utilização em todo o período.