Provocadoras e controversas, as afirmações públicas e privadas de Nietzsche sobre o niilismo, assim como seu professado perspectivismo, continuam a inspirar debates filosóficos. O advento do niilismo é descrito por Nietzsche como uma catástrofe em direção a qual a cultura europeia está há muito tempo se movendo; a ascensão do niilismo denota um processo de exaustão, a perda de validade e força vinculante dos valores supremos da cultura europeia, dentre os quais a “verdade” aparece com destaque. Uma relação aguda conecta niilismo e perspectivismo no pensamento nietzschiano, uma vez que o surgimento do segundo depende do ocaso que se anuncia pelo primeiro: se estamos no horizonte do infinito, que é também o horizonte do perspectivismo, é porque se apagou aquela linha do horizonte que, sob o sinóptico nome de Deus, arrogava-se como incondicional, absoluta, universal. Nesta tese defendo uma interpretação da filosofia de Nietzsche segundo a qual o colapso da Europa, sendo também sua grande realização, sua Selbstaufhebung, traz consigo a impossibilidade de se recusar a existência e validade de infinitas outras interpretações ou perspectivas, diversas em relação àquela que, na Europa, firmara-se como única, seja ela dita humana ou apenas judaico-cristã. Assim, defendo que a filosofia, a partir de Nietzsche, passa a ser uma atividade necessariamente intercultural, isto é, passa a dar-se necessariamente a partir de um horizonte de interculturalidade. Experimentalmente, por meio de excursos, conecto esta interpretação da filosofia nietzschiana com reflexões teóricas advindas da antropologia (especialmente da obra de Eduardo Viveiros de Castro) e do pensamento indígena (especialmente pela mediação da obra A queda do céu de Davi Kopenawa e Bruce Albert), buscando mostrar como estas interlocuções iluminam e fazem frutificar o pensamento nietzschiano de modo inesperado e filosoficamente instigante, tanto mais quando se considera – e esta é a principal proposição defendida nesta tese – que a própria filosofia de Nietzsche tem como consequência essa abertura de horizontes, ou o descerramento de uma filosofia da interculturalidade.
Outras Auroras: Nietzsche e a antropologia no horizonte do infinito
Data da defesa:
segunda-feira, 16 Junho, 2025 - 08:00
Membros da Banca:
Presidente Prof. Dr. Oswaldo Giacóia Junior Universidade Estadual de Campinas
Membros Titulares Dr. Henry Martin Burnett Junior Universidade Federal de São Paulo - Campus Guarulhos
Dr. Peter Pal Pelbart Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Dr. Yolanda Glória Gamboa Munõz Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Dr. Ivan Risafi de Pontes Universidade Federal do Pará
Membros Suplentes Dr. Ricardo Bazilio Dalla Vecchia Universidade Federal de Goiás
Dr. Wander Andrade de Paula Universidade Federal do Espirito Santo
Profa. Dra. Fátima Regina Rodrigues Évora IFCH/ UNICAMP
Programa:
Nome do Aluno:
Iara Velasco e Cruz Malbouisson
Sala da defesa:
Sala de Defesas de Teses I