A natureza formal da matéria a partir da filosofia de Charles Sanders Peirce

O objetivo desta tese é discutir a natureza formal da matéria a partir da filosofia de Charles Sanders Peirce, sobretudo com relação a sua famosa frase “[...] matéria é mente exaurida, hábitos inveterados tornando-se leis físicas” (CP, 6.25, tradução nossa). Nossa hipótese central consiste em considerar a matéria como uma classe natural, resultado de um processo teleológico de causação final e, como tal, é uma terceiridade esperando por atualização. Como toda ‘classe’, sua estrutura constitui-se a partir de extensão (composta pelos objetos que se referem à classe) e de compreensão (composta pelas qualidades determinadas através de causa final em seu processo de formação no tempo) e, portanto, constitui-se como necessariamente informativa. Significa que a informação é necessária ao surgimento da matéria, cuja anterioridade é lógica e não temporal. Atada à hipótese geral está a consideração de que, do ponto de vista da mecânica quântica, a função de onda pode ser vista como essa classe natural que guarda toda a informação a respeito da partícula e, como tal, constitui-se como de natureza de terceiridade. A medição atualiza a potencialidade que constitui o ser da função, caracterizando a natureza corpuscular da matéria como uma instância ou réplica da lei. Assim, a metafísica semiótica realista de Peirce nos conduz a uma interpretação filosófica da natureza da matéria e de seus aspectos informacionais. A semiótica contribui para explicitação da hipótese na medida em que uma lei ou hábito pode ser concebida como um legisigno simbólico e sua réplica é um sinsigno de tipo especial. Por isso, a metafísica e a semiótica peirceanas não podem ser consideradas de modo dualístico, mas a partir de uma interrelação que descreve como o funcionamento cósmico se efetua teleologicamente por meio da ação de signos informacionais ou simbólicos. Para atingir o objetivo geral, dividimos este trabalho em três partes. A Parte A, denominada Da origem à evolução: a estrutura do cosmos, constitui a parte metafísica-ontológica deste texto, na qual (i) explicitamos a cosmologia de Peirce, desde o nada absoluto até a formação da terceira categoria e (ii) identificamos a natureza do hábito com a natureza da lei física e o relacionamento entre causa final e causa eficiente. A Parte B, denominada O funcionamento do cosmos, apresenta a semiótica de Peirce, na qual (iii) explicitamos a natureza teleológica do processo representativo genuíno; e (iv) apresentamos o conceito peirceano de informação, desde o seu aspecto lógico formal, que somente considera a informação simbólica presente no discurso verbal, até a ampliação do conceito, quando também se aplica aos signos degenerados, permitindo que a transmissão e complexificação da informação se efetue por meios não verbais. Na última parte, Parte C, apresentamos a hipótese geral, explicitando que a ‘fusão’ da metafísica com a semiótica nos permite concluir sobre a natureza formal da matéria em que a informação é elemento necessário para que a evolução cósmica se configure a partir de um processo generalizador semelhante ao proceder do matemático e do cientista.

Data da defesa: 
quinta-feira, 17 Setembro, 2020 - 17:00
Membros da Banca: 
Presidente: Profa. Dra Itala Maria Loffredo DOttaviano - IFCH/UNICAMP
Membros Titulares: Profa. Dra. Maria Lucia Santaella Braga - PUC São Paulo
Prof. Dr. Ivo Assad Ibri - PUC São Paulo
Profa. Dra. Maria Eunice Quilici Gonzalez - UNIFESP
Prof. Dr. Anderson Vinicius Romanini - USP
Membros Suplentes: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Gudwin - FEEC/UNICAMP
Prof. Dr. Ramon Souza Capelle de Andrade - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Prof. Dr. Max Rogério Vicentini - UEM
Programa: 
Nome do Aluno: 
Alexandre Augusto Ferraz
Sala da defesa: 
Integralmente a Distância - link Google Meets : https://stream.meet.google.com/stream/fe37b842-c857-4fcc-bbb0-43919b562460